quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

“Quanto mais uma figura histórica vai ficando estranha e enigmática, mais claramente delineada se torna sua função sociopsicologica”
– Joachin Fest
“A fim de haver tolerância no mundo, uma das coisas a ser ensinadas nas escolas deve ser o habito de ponderar a evidencia e a pratica de não dar total assentimento a proposições que não haja razão para serem aceitas como verdadeiras.”
- Bertrand Russel
Certa vez ao ler “Moby Dyck”, de Herman Melville, fiquei impressionado com a multiplicidade de significados simbólicos que a obra oferece a um leitor atento. A busca pela baleia cachalote branca, única entre os gigantes mamíferos dos mares, é a expressão do fetiche humano pelo controle daquilo que lhe escapa. Em síntese se trata do retrato da impotência diante da ideia de dominação e do controle daquilo, que de alguma forma, se destaca entre os demais. A obsessão e a busca pelo domínio absoluto são o núcleo fundamental sob o qual se constrói o fanatismo. A história, assim como a arte dramática, possui protagonistas e antagonistas que se digladiam como um produto das massas. Um fato interessante é que o século XX parece negar a qualquer personalidade histórica o papel de protagonista, já o mesmo não acontece com o seu oposto, que de forma incontestável pertence a Hitler. Se entre os historiadores essa definição não é unanime, do ponto de vista daqueles menos obcecados com uma abordagem pragmática dos eventos históricos, sobretudo dos não alemães, essa definição está mais do que correta. O nível de ascendência moral que Hitler era capaz de exercer sobre as massas está além da compreensão de qualquer pessoa que tenha vivido em uma época diferente da sua. “Ele tinha um poder terrível, especialmente nos olhos.” – comentou o ex-ministro das relações exteriores, Joachin Von Ribentrop, ao ser interrogado pelo psiquiatra da prisão de Nuremberg em 1946.
O mito Hitler se reafirma, ano após ano, graças à brutalidade com que o mesmo representou sua própria história. Aqueles que o consideram apenas como louco ou maníaco só fazem aumentar o grau de fascinação que o mesmo continua a exercer. Como um homem louco seria capaz de arrastar uma nação inteira para o turbilhão irrefreável do caos? Loucos são aqueles que se apegam a crença de que o mal se reveste apenas com o manto da insanidade. Na maioria dos casos e na mente racional e pratica que o mal encontra espaço para seus feitos e evidência sua completa e assustadora banalidade. Hitler é tão complexo e denso que nosso léxico ainda não dispõe de um termo que lhe seja aplicável. “Louco” ainda e o termo mais recorrente quando sua imagem é invocada. No entanto defini-lo como um simples lunático ou demente é não apenas uma representação simplista de uma realidade assustadora como também reduz a importância que o momento histórico, representado pelos doze anos do regime nazista, teve na historia da Europa e do mundo. Os assassinatos cometidos por ordens suas não foram uma chacina generalizada, mas um evento calculado e planejado de forma tão assustadora que seus resultados ainda permanecem como um exemplo da origem primitiva e animalesca dos seres humanos. Essa imagem de um ditador insano ainda é predominante entre a população, assim como também se tornou costumeiro utilizá-lo como representação inequívoca do mal.
Por que é tão difícil imputar a Hitler o rotulo da banalidade? Por que precisamos representar seu ódio e sua violência como exemplo dos extremos da natureza maléfica dos seres humanos? Seria esse comportamento uma negação da imagem pessimista que o filosofo Thomas Hobbes tinha do homem como ser social ou uma simples manifestação do maniqueísmo que se apossou da sociedade e passou a reafirmar insistentemente a amplitude do espaço que separa o “bem” do “mal”? O nazismo em si possui um conceito tão amplo que inevitavelmente remete ao fracasso qualquer tentativa de encerrá-lo numa única linha de raciocínio. Hitler e o fascismo não são necessariamente sinônimos; o fenômeno político não partilha dos mesmos termos de compreensão do fenômeno humano. O nazismo não possui um fim em si mesmo e, portanto, tentar entender o descalabro de sua política com base na biografia de seu ícone máximo parece ser uma atitude equivocada, uma vez que a compreensão do passado em termos íntimos contraria qualquer abordagem pratica dos fatos históricos. A história não se constrói pelos passos de um único homem, é justamente o homem que se constrói a partir do momento histórico que este se insere. A forma como vemos o mundo que nos cerca determina nossa postura diante dele e não o contrario.
Também é completamente infundada a ideia de que o nazismo emergiu no vácuo da expansão do ateísmo. O filosofo Jean Paul Sartre destruiu a falsa noção de que os valores morais se construíam a partir dos costumes e das crenças religiosas. Os valores seriam determinados pelos próprios indivíduos, a revelia dos aspectos coercitivos de seu meio. Na pratica seria o mesmo que definir o mal como um aspecto marginal da natureza humana. Invocar aspectos religiosos para explicar o terror do nazismo está mais relacionado a uma redefinição do conceito de “mal” do que numa suposta explicação das origens do mesmo.
Não é novidade que o século XX foi o século mais ateu da historia. A progressiva perda de fé pelo homem levou a decadência do método de representação do mal por meio de figuras bíblicas. O demônio, da forma como era descrito nas antigas escrituras, não mais se prestava a sua função como administrador da vontade humana. O mal clamava por uma representação mais tangível e que fosse capaz de reafirmar, de forma literal e não mais abstrata, a verdadeira noção do terror. O ateísmo, no entanto, não ditou sozinho as tendências para a redefinição do conceito de mal. Entre aqueles cuja fé parecia inabalável a própria noção de inferno absorvida das escrituras bíblicas, que descreviam almas sofredoras vagando por mares de enxofre incandescente, era por demais abstrata e tão significativamente inimaginável que não mais servia ao seu propósito original. O verdadeiro inferno precisava de um evento histórico que o representasse e pudesse invocar o real significado dessa palavra na mente predominantemente sujeita as sensações. No século XX, ou mais precisamente no período compreendido entre 1900 e 1945, não faltaram acontecimentos capazes de representarem esse ideal de horror e destruição.
Hanna Aredt dizia que o “mal” residia na constante despercionalização dos seres como pessoa. Nos campos de extermínio da Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945) se via uma reafirmação constante de que os internos eram não apenas repulsivos, mas também desnecessários – embora o uso de sua força de trabalho estabeleça um paradoxo evidente quanto a ultima assertiva.
Hitler não foi o produto de uma sociedade capitalista, predatória e desumana, mas foi o reflexo do que ela tinha de melhor: o progresso da ciência e o costume, tipicamente burguês, de se reafirmar constantemente para se dissociar da massa gigantesca de anônimos. A relação de Hitler com a sociedade burguesa expressa um exemplo que contraria a imagem idealizada do revolucionário do século XX. Em nenhum momento Hitler questionou a existência ou os valores burgueses de sua época. Ele na realidade os colocou como o estilo a ser seguido. Aparentemente estável e glorioso, o mundo burguês da segunda metade do século XIX já dava sinais de que o século seguinte seria dominado pela violência, pelo preconceito e, sobretudo, pelo medo. Indiretamente o progresso cientifico contribuiu para a intolerância e a destruição sem precedentes que se seguiria: Henri Poícare, ao definir que o tempo e o espaço não eram constantes desafiou a mecânica clássica de Newton, rompendo a suposta estabilidade do mundo físico; Pasteur apavorou a sociedade com a descoberta de que as doenças - muitas delas letais - eram causadas por agentes invisíveis a olho nu; Darwin havia exposto sua teoria da sobrevivência do mais adaptável, criando parâmetros biológicos sobre o qual se assentaram os defensores de uma aparente “superioridade” intelectual de determinados seguimentos sociais; e o que dizer da teoria da degeneração genética do medico francês Benedicte Morel, um especialista em epilepsia latente, cujos resultados seriam visíveis somente no século XX, sob a forma de campos de extermínio.
Não se trata de pregar o repudio ao progresso e a pesquisa cientifica, mas o exato oposto. A ciência nos eleva acima dos preconceitos e nos guia rumo ao esclarecimento fundamental dos propósitos humanos. Mas o fato é que essas conquistas tem um preço. A nêmese da ciência é justamente aquele que distorce seus feitos por ser incapaz de compreendê-los em termos puramente científicos. A noção abstrata de valor, baseada em atributos físicos, essência fundamental do nazismo, já existia no período “pré-Hitler” e continuou existindo, de forma velada, no período posterior a ele. Hitler não criou uma nova forma de eugenia e de discriminação, ele apenas se amparou em um conceito amplamente difundido e aceito pela maior parte da população europeia e mundial. O próprio anglicanismo exacerbado do primeiro ministro Winston Churchill, e as políticas britânicas de incentivar o casamento de “biótipos perfeitos”, é um exemplo de que a política racista de eugenia não ficou restrita a Alemanha de Hitler.
Alguns acreditam que Hitler foi uma singularidade absoluta por saber utilizar sua angustia e os males sociais de sua época em proveito próprio. Nisto vemos seu valor político na medida em que sua capacidade retórica se funde com os aspectos negativos de seu meio. Seu poder de persuasão se baseava na exposição do obvio – apenas no que diz respeito aos caos econômico – algo que uma vez compreendido pelas massas se desconstruía como problema e emergia como meta a ser superada. Essa capacidade de compreender e expor a crise econômica, da qual emergiu como produto, fez do fascismo uma opção lógica junto a uma população europeia conservadora e predominantemente anticomunista. O mérito político de Hitler foi sua aguçada capacidade de transpor as angustias da população alemã para um plano pratico. O radicalismo do partido nazista em contraste com os demais partidos da oposição - que insistiam em reafirmar os benefícios da industrialização e se sustentava em promessas de reforma salarial - era nada mais do que a vazão do descontentamento do povo alemão diante de uma crise da qual também haviam contribuído, mas que por conveniência preferiam esquecer. Obviamente que a Alemanha não foi responsável pela crise financeira européia deflagrada pela quebra da bolsa de Nova York, mas as restrições impostas pelo Tratado de Versalhes foram ocasionadas pelo militarismo germânico e pela posterior política agressiva do Kaiser Guilherme II.
Para Hitler a vida dura com privações durante sua juventude em Viena, foi nada mais que a expressão bruta, sem adornos ou atenuantes, de que a vida seria uma eterna luta pela sobrevivência, onde apenas os mais fortes teriam chance. Essa luta constante contra a própria miséria pessoal o convenceu de que cada ser humano deveria crescer por méritos próprios. Essa aceitação do darwinismo social por parte de um homem que sempre foi descrito como um esquisitão solitário ditaria uma das maiores tragédias humanas do século XX. Não se trata de defender a postura do líder nazista, mas de explicar como tamanha brutalidade e desumanidade brotaram a partir de um jovem fracassado em suas aspirações de uma carreira artística. Hitler foi um dos maiores monstros de nossa historia, mas a questão é: até que ponto ele se construiu sob amparo dos preconceitos sociais de sua época? Hitler nasceu no dia 20 de abril de 1889, numa cidadezinha austríaca chamada Braunau. O ano de 1889 marca o período final da consolidação do liberalismo econômico, embora o período de trinfo do capitalismo tenha chegado ao fim em 1872, marcado por uma profunda crise financeira. O mundo burguês, em sua costumeira arrogância quanto aos seus feitos, já havia estabelecido um dos conceitos mais deploráveis da historia humana: a idéia de que os homens não eram iguais.
A acumulação de capital nas mãos dos grandes magnatas do aço e das ferrovias esbarrava num quadro constrangedor de miséria e pobreza. O liberalismo havia dado uma explicação racional e matemática para o livre mercado, mas não havia conseguido um conceito moral que tornasse a desigualdade aceita como algo natural. No ano de 1848 o período das grandes revoluções liberais havia terminado. A chamada “primavera dos povos” foi o último fôlego da esquerda europeia no sentido de consolidar sua utopia de uma sociedade igualitária; a partir daí os movimentos radicais foram sufocados em nome do “progresso”. Entre 1848 e 1872 o mundo testemunhou mais guerras e operações militares do que se viu nos trinta anos anteriores e se veriam nos quarenta posteriores. Afastar o terror das revoluções era fundamental para o trinfo da sociedade burguesa; justificar a acumulação de muitos recursos nas mãos de poucos era uma questão determinante. Essa justificação encontrou amparo cientifico no darwinismo social segundo o qual homens de sucesso possuíam qualidades inexistentes naqueles que ocupavam as camadas sociais mais baixas. O sucesso deixava de ser um produto da sorte e do trabalho e passava a ser uma questão puramente biológica e genética. Essa idéia surgida em pleno século XIX ganhou força durante o século XX principalmente na Alemanha, símbolo do progresso cientifico e lar da maioria dos físicos e químicos laureados com o premio Nobel. Essa noção de uma suposta superioridade racial era aceita por boa parte da população; Hitler era apenas um entre uma nação de milhões que acolheram essa visão pseudocientífica. Hitler sempre foi um visionário; sua ambição não tinha limites, e mesmo diante da imagem inequívoca do fim da estrada continuou avançando apegado à crença de que o chão se reconstruía a sua passagem. Seus projetos arquitetônicos gigantescos e sua visão de um reich que se estenderia do Volga ao Atlântico eram fruto de sua megalomania doentia e de um pragmatismo sem precedentes. Seu carisma era gigantesco assim como seu próprio ego. Não há duvidas de que se considerava um gênio e que, portanto, partilhava da típica autoconfiança burguesa do século anterior. Em uma passagem da obra “Main Kampf” ele escreveu:
“O gênio tem muitas vezes necessidade de uma espécie de choque (...) para emergir, sucede com frequência que na banalidade da vida diária criaturas de valor parecem insignificantes e não ultrapassam o mesmo nível dos que o cercam. Contudo desde que se defrontam com uma situação na qual os outros se mostram indefesos e incapazes, sua natureza genial se revela, surpreendendo assim todas os que até ali só viam mediocridade nelas (...) Se o momento dessa prova reveladora não tivesse acontecido ninguém jamais suspeitaria que a personalidade de um jovem herói se ocultava sob a fisionomia do adolescente imberbe. O golpe súbito e acidental do destino que derruba um faz surgir no outro um espírito indomável.”
Quem poderia imaginar que da lama das trincheiras da primeira grande guerra surgiria um jovem e insignificante soldado cujo propósito seria mergulhar a Europa no mais terrível conflito humano da história, em nome de um velho inimigo da verdade: a convicção. Sua lenda o transformou num ser indecifrável, enigmático, e surpreendentemente interessante. No dia 30 de abril de 1945, quando finalmente colocou fim a própria vida com um tiro na cabeça num bunker imundo da Berlim arrasada pela guerra, Hitler encerrou sua existência como homem e fez nascer o mito. Hoje ainda se perguntam como alguém poderia ser moralmente tão repulsivo. A resposta foi dada pelo próprio Hitler ao dizer que a consciência – algo que Van Gogh chamava de tribunal secreto da alma – era uma invenção judia.
Para a ofensiva contra a capital da Alemanha Nazista, Stalin reuniu ao longo de toda a frente oriental um poderio muito superior ao que Hitler havia conseguido para ocupar toda a União Soviética. No dia 1º de abril de 1945 o ditador soviético recebeu os marechais Zukov e Konev em seu escritório no Kremlim para traçar as diretivas finais da ofensiva contra Berlim. A sala possui uma comprida mesa de mogno coberta por um tecido esverdeado, dois grandes lustres pendiam do teto, groças cortinas cobriam as janelas e um quadro de Lenin estava pendurado próximo a uma pequena mesa no canto direito da sala de formato retangular. Dois grandes quadros, um de Suvorov – famoso Marechal dos tempos de Catarina a grande – e um de Kutuzov – Marechal responsável pela destruição da grand arme de Napoleão em 1812.

Stalin apareceu vestindo um uniforme simples e friamente cumprimentou seus dois marechais com um aceno de cabeça. Imediatamente ele explicou a intenção dos americanos de chegar a Berlim. A STAVKA – Supremo Quartel General – havia descoberto os preparativos dos aliados ocidentais para tomar a capital alemã antes dos soviéticos. Com sua costumeira praticidade Stalin determinou que o exercito soviético tomasse Berlim antes dos aliados. Toda a operação deveria ser desencadeada no menor tempo possível, sendo a data limite para o inicio da ofensiva em 16 de abril.
DA ESQUERDA PARA A DIREITA: ZUKHOV, ROKOSSOVSKY E KONEV
Os preparativos foram realizados em tempo recorde e no dia 15 as tropas soviéticas ao longo das margens arenosas do rio Oder aguardavam ansiosas pelo combate do dia seguinte. A operação era tão gigantesca que era praticamente impossível camuflar a concentração nas cabeças de ponto ao longo do rio. O ataque seria desfechado por três frentes: ao norte estava a 2ª Frente Bielo-russa do Marechal Rokossovski, no centro estava a 2º Frente Bielo-russa de Zukov e ao sul a 1º Frente Ucraniana do Marechal Konev. As três frentes totalizavam 2.500.000 soldados, 6.250 tanques, 41.600 canhões de artilharia e 7500 aviões. Somente a 1ª Frente Bielo-russa possuía 7 milhões de granadas de artilharia em seu estoque, das quais 1.236.000 foram disparadas logo no primeiro dia de ofensiva. Essa gigantesca muralha ofensiva seria responsável por desferir o golpe final na Alemanha Nazista.

As defesas alemãs na região do Oder consistiam em três linhas concêntricas ordenadas ao longo dos 40 km do terreno que separava Berlim da linha de frente. Para defender sua capital os alemães concentraram no eixo Oder-Berlim as forças do Grupo de Exércitos do Vistula, sob o comando de Gotthard Heinrici, composto pelo 3º Exercito Panzer (9 divisões sob o comando de Hasso Von Manteuffel) e pelo 9º Exercito (Uma divisão panzer, duas de granadeiros e 9 de infantaria sob o comando de Theodor Busse). O 3º Exercito Panzer deveria cobrir uma frente de 150 km e o 9º Exercito 130 km. Mais ao sul estava o restante do outrora poderoso Grupo de Exercitos Centro, sob o comando de Schoerner e formado pelo 4º Exercito Panzer (Nove divisões de infantaria e duas de granadeiros). A guarnição da própria cidade de Berlim era composta pelo LVI Corpo Panzer, 3 batalhões da Luftwaffe e 100 batalhões da Volksturm. Ao todo os alemães contavam com 800.000 homens e cerca de 850 tanques.

SOLDADOS SOVIÉTICOS PREPARAM AS GRANADAS QUE SERÃO LANÇADAS SOBRE BERLIM
As 3 horas da manha do dia 16 de abril, três foguetes de sinalização cortaram o céu noturno dando inicio a uma das maiores operações terrestres da historia das guerras: toda a margem leste do rio Oder foi iluminada pelo troar dos canhões soviéticos de 76mm, 85mm, 122mm e obuseiros de 152 e 203mm alem de centenas de lançadores de mísseis Katyucha. “Senti que meus tímpanos iam explodir” – relatou um artilheiro da 1ª Frente Bielo-russa. Foi dada a ordem para que os artilheiros mantivessem a boca aberta para equalizar a pressão nos tímpanos.
No setor de Zukov o bombardeio durou cerca de 30 minutos e foi tão intenso que chegou a causar distúrbios atmosféricos. Sobreviventes alemães se recordam de ter visto pinheiros se curvarem diante da onda de choque das detonações. Os canhões de Zukov disparam ao longo de toda a frente de modo indiscriminado arrasando inclusive posições desocupadas. Heinrich havia ordenado que os alemães se concentrassem nas posições da retaguarda justamente para fugir do peso da artilharia que certamente precederia o avanço das tropas soviéticas. Na noite que precedeu o ataque a maior parte dos soldados e dos armamentos pesados alemães foram evacuados para a segunda linha de defesa. Apenas uns poucos soldados foram deixados nas posições avançadas.
O som das explosões chegou aos bairros a leste de Berlim. Em poucos minutos os moradores de Karlshorst, Hoppegarten e Weissence começara a sentir o cheiro caracteristico de pinheiro queimado proveniente das florestas que ardiam na frente de batalha. “No campo de visão, o céu a leste estava em chamas” – relatou um comandante do 502º Batalhão SS Panzer Pesado, posicionado na retaguarda. As ondas de choque produziram efeitos variados em setores distante da linha de frente: em Mahlsdorf os moradores sentiram um tremor semelhante a um terremoto leve e os telefones começaram a tocar sozinhos (provavelmente devido a interferências nas linhas telefônicas). Em Dahlwitz as luzes das residências começaram a piscar e a sirene de alarme de ataque aéreo disparou. Em Muncheberg uma cruz despencou do auto de uma das igrejas da cidade. Após o bombardeio, 143 holofotes (utilizados na defesa antiaérea de Moscou) foram acesos com intenção de cegar os defensores alemães, no entanto, o resultado foi muito menos favorável aos atacantes que aos defensores. “Toda a extensão do horizonte ficou clara como dia”, relatou um soldado soviético. O brilho intenso dos holofotes acabou refletindo na densa cortina de fumaça provocada pela artilharia atrapalhando a infantaria soviética que cruzou o rio usando todo tipo de objeto flutuante. “A luz era tão ofuscante que não se podia dar meia volta, só ir em frente” relatou um capitão do 3º Exercito de Choque.
O avanço inicial das forças de Zukov foi relativamente rápido, porem a região dos montes Seelow custaria caro aos soviéticos. O terreno pantanoso, entrecortado por vários canais e despedaçado pela artilharia dificultou a passagem dos tanques. As posições defensivas dos alemães nas elevações dos montes Seelow permitiram que estes engajassem os tanques soviéticos, imobilizados na escarpa lamacenta logo abaixo, usando panzerfausts e os formidáveis canhões 88mm. Como reserva os alemães mantiveram nas posições no alto dos montes Seelow a 9 Divisão de paraquedistas da Luftwaffe, a 20ª Divisão Panzer Granadeiros e a Divisão Panzer Muncheberg responsáveis por infringir um pesado castigo nas tropas soviéticas. Por volta do meio dia Zukov estava desesperado com as noticias de que o avanço havia sido detido na região. O 8º Exercito de Guardas de Chuikov estava empacado na região dos montes Seelow em uma luta encarniçada com os defensores no topo das colinas. “Movemo-nos pelo terreno coberto de crateras de granadas. Por toda parte jazem canhões alemães atingidos, veículos, tanques em chamas e muitos cadáveres, que nossos homens arrastavam para serem enterrados em outro lugar.” contou Piotr Sebelev - um oficial soviético.
No setor da 1ª Frente Ucraniana o ataque começou as 4h15 da manhã. Konev utilizou sua artilharia de modo mais eficiente que Zukov: durante 40 minutos os canhões martelaram as posições alemãs antes da infantaria cruzar o rio Neisse. Durante a travessia aviões da força aérea lançaram uma densa cortina de fumaça ao longo da margem oeste como cobertura e a artilharia concentrou seu fogo contra posições da artilharia inimiga. Nos 45 minutos seguintes a artilharia soviética esmagou as linhas alemãs na retaguarda e aviões do 2º Exercito Aéreo despejaram toneladas de bombas nas vias de comunicação inimigas. De fato a estratégia teve mais existo que a desastrada tentativa de Zukov de cegar os defensores com seus holofotes. Ao entardecer as forças da 1ª Frente Ucraniana já haviam avançado 1,5 Km. Os alemães tentaram conter o avanço das forças de Konev com contra-ataques na região do Neisse, porem, a falta de munição e a superioridade soviética impediram qualquer êxito por parte dos desesperados defensores. No dia seguinte a 1ª Frente Ucraniana já havia avançado 18 km e ao entardecer do dia 17 de abril as forças de Konev haviam cruzado o rio Spree iniciando o cerco de Berlim pelo sul. Konev solicitou a Stalin que lhe fosse permitido dirigir suas forças para o norte, rumo à Berlim, mesmo sabendo que a cidade estava no setor da 1ª Frente Bielo-russa de Zukov. Aproveitando-se do sucesso da 1ª Frente Ucraniana, Stalin soube tirar proveito da situação: para forçar o avanço para Berlim ele adotou sua costumeira estratégia de jogar seus marechais um contra o outro. O ditador soviético simplesmente apagou a linha que demarcava a divisão entre a 1ª Frente Bielo-russa e a 1º Frente Ucraniana; isso significava que dali em diante Berlim seria de quem chegasse lá primeiro. Temendo perder o premio maximo Zukov – o menos sentimental dos Marechais soviéticos – forçou o avanço em direção a Berlim sem se importar com as baixas. Levaria dois dias para que a 1ª Frente Bielo-russa rompesse o impasse nos montes Seelow. O 8º Exercito de Guardas de Chuikov bateu de frente com 9 divisões alemãs que em desespero tentavam segurar o avanço soviético. No dia 17, três divisões alemãs tentaram sem êxito cortar a comunicação do exercito de tanques de Katukov com a retaguarda pela estrada Berlim-Kustrin.

ARTILHARIA SOVIÉTICA NAS RUAS DE BERLIM
No dia 18 a defesa alemã já estava completamente esfacelada. Nesse mesmo dia os exércitos da 2ª Frente Bielo-russa de Rokossovski iniciaram o ataque no norte, cruzando o Oder e infringindo pesadas baixas no 3º Exercito Panzer. No sul o 9º Exercito de Busse recuou para o sul de Berlim sob o peso da ofensiva de Konev. No dia 20 de abril o 8º Exercito de Guardas de Chuikov e o 5º Exercito de Choque de Berzarin finalmente alcançaram os subúrbios a leste de Berlim. Os canhões do 79º Corpo de Rifles e o 3º Exercito de Choque começaram a disparar contra os bairros dos subúrbios da cidade. Pela primeira vez desde o inicio da guerra a capital alemã estava sob o fogo direto de armas terrestres. Naquele dia Berlim começou a viver o horror que o exercito alemão havia imposto a tantas outras cidades nos anos anteriores. Porem havia algo de especial naquela data: 20 de abril de 1945 era aniversario de 56 anos de Adolf Hitler.
No dia 20 de abril, Berlim era uma massa de escombros fumegantes: não havia água corrente ou eletricidade, as ruas estavam cobertas de escombros. O Tiergarten - que outrora fora um dos mais belos parques da Europa - estava irreconhecível: os arbustos cuidadosamente podados, suas arvores altas e majestosas onde os berlinenses gostavam de passar suas tardes de final de semana, cedera lugar a uma terra revolvida pelas explosões e coberta por crateras lembrando mais uma paisagem lunar do que um núcleo urbano. Centenas de cadáveres e destroços de veículos militares cobriam as ruas em meio a uma massa indescritível de entulhos decorrente do furioso combate. Aqueles que estiveram na castigada Berlim de abril de 1945 jamais se esqueceram da nevoa de poeira suspensa que fazia os dentes rangerem e os olhos lacrimejarem.

TANQUES SOVIÉTICOS AVANÇANDO EM MEIOS AS RUÍNAS URBANAS DE BERLIM
Ao norte do Tiergarten ficava um dos mais simbólicos prédios de Berlim: o Reichstag - sede do parlamento alemão. O Reichstag era um imenso colosso arquitetônico no estilo clássico, palco de muitos dos discursos de Adolf Hitler, sendo inclusive o local de onde o ditador expôs os “motivos” que o levaram a invadir a Polônia em 1939 dando inicio a Segunda Guerra Mundial. Logo no vestíbulo de entrada estava à inscrição “Den Deutschen Volke” – “Para o Povo Alemão” – que em consonância com os acontecimentos daquele abril de 1945 adquiria um sentido assustadoramente sarcástico. O nazismo havia espalhado o caos pela Europa, semeando destruição, assassinatos em escala monumental e espalhando uma visão insana de uma suposta raça superior que estava sendo posta de joelhos por uma aliança de inimigos supostamente inferiores. A frase “quem semeia vento, colhe tempestade” nunca pareceu fazer tanto sentido.

DESTRUIÇÃO EM UMA DAS RUAS DE BERLIM
A capital alemã havia se convertido numa arena onde duas ideologias se chocavam num misto de fanatismo, ódio, crueldade, violência e destruição sem limites. Trinta e sete dos 38 reservatórios e 99,9% dos dutos de gás de Berlim foram destruídos. Nenhum dos 100 mil postes de luz das ruas funcionava. As 19 estações de tratamento de água da cidade estavam danificadas. Dos 4.300 km de ruas 1.350 km estavam destruídos. 2.739 dos 2.832 trens de superfície, 1 056 dos 1.101 dos trens subterrâneos e 649 dos 667 ônibus estavam danificados. Nenhuma das 400 ambulâncias da cidade funcionava em 1945. 9.500 dos 12 mil armazéns de distribuição de comida estavam destruídos. Cerca de oitenta e três milhões de metros cúbicos de entulho cobriam as ruas, o suficiente para erguer uma montanha de 300 metros de altura. Berlim vinha sendo castigada desde 1940 por bombardeios da RAF – Força Aérea Britânica -, nos anos seguintes o poderio da 8ª Força Aérea Americana marcou presença sobre os céus da capital despejando milhares de toneladas de bombas durante o dia enquanto a RAF atacava durante a noite. Embora a estratégia do Comando de Bombardeio da RAF, que consistia em destruir as cidades por meio de verdadeiras tempestades de fogo, não houvesse funcionado contra Berlim a destruição proporcionada pelas duas forças aéreas havia sido inimaginável. Para os berlinenses havia o consolo de que os inimigos que bombardeavam dos céus estavam bem longe das ruas de sua capital. Assim que o barulho dos motores se reduzia a população sabia que o perigo já havia passado. Mas naqueles dias finais de abril de 1945 o inimigo que arrasava Berlim estava praticamente nas suas portas; era questão de tempo para que as explosões dessem lugar a varias colunas de tanques e soldados. A população feminina da cidade sofreria um castigo particularmente cruel; e a maioria delas se recusava a sequer mencionar “aquilo” que certamente aconteceria a elas quando soviéticos armados, bêbados e furiosos pela destruição que a Alemanha havia levado ao seu país chegassem as suas portas. Para as mulheres o verdadeiro terror ainda não havia começado.

SUICÍDIO COM CIANURETO - UM COSTUME COMUM ENTRE A POPULAÇÃO FEMININA DE BERLIM EM ABRIL DE 1945
Por volta das 11h30 da manha do dia 21 de abril, um sábado, os canhões soviéticos começaram a abrir fogo contra o centro da cidade. Na Praça Hermannplatz varias pessoas, que haviam se concentrado em frente à loja Karstadt, foram mortas pelos disparos. A Unter den Linden recebeu vários impactos diretos de obuses de 152 e 122mm. Na Wilhelmstrasse uma media de um projétil a cada 30 segundos castigava as construções ao longo de sua extensão. Ao norte do Tiergarten, ficava um dos mais simbólicos prédios de Berlim: o Reichstag, sede do parlamento alemão. O Reichstag era um imenso colosso arquitetônico no estilo clássico, palco de muitos dos discursos de Adolf Hitler, sendo inclusive o local de onde o ditador expos os “motivos” que o levaram a invadir a Polônia em 1939. No telhado do Reichstag a estatua da deusa “Germânia” continuava incólume sobre aquele histórico e simbólico prédio, agora em ruínas. Impossível não notar a inscrição em estilo gótico com letras garrafais no vestíbulo de entrada, que em tempos de paz possuía um sentido absolutamente normal, mas que em decorrência dos acontecimentos daquele abril de 1945, haviam adquirido um sentido sarcástico: “Den Deutschen Volke”, em português “Para o povo alemão”, como se o caos ali reinante fosse o que o povo alemão merecesse depois de quase cinco anos de guerra. O nazismo havia espalhado o caos pela Europa, semeando destruição, assassinatos, que em alguns momentos foram realizados em escala monumental e espalhando uma visão insana de uma suposta raça superior que agora era colocada de joelhos por uma aliança de inimigos considerados inferiores. A frase “quem semeia vento, colhe tempestade” nunca pareceu fazer tanto sentido.


SOLDADOS SOVIETICOS EM MEIO AS RUINAS DO TERCEIRO REICH

No número 77 da Wilhelmstrasse o prédio em forma de L que abrigava a Chancelaria do Reich não teve um destino diferente da maioria das construções de Berlim. Tanto as instalações da antiga como da nova Chancelaria, projetada por Albert Speer - o arquiteto preferido de Hitler - estavam completamente arruinadas. Enfurnado em seu bunker subterrâneo no terreno da Chancelaria, distante da realidade e do sofrimento ao qual havia submetido a milhões de pessoas estava o maior responsável pela tragédia que se abatia: Adolf Hitler. Quando o ditador alemão saiu de seu refugio nas montanhas, chamado de Bergenhof, e se dirigiu para a capital Berlim em seu trem especial no dia 15 de janeiro de 1945 para comandar de lá o que o escritor Cornelius Ryan chamou de “A última batalha”, o seu formidável bunker ainda não estava concluído. As obras tiveram inicio em 1943 quando a construtora Hochtief foi contratada para construir um abrigo anti-bombas sob o edifício da Chancelaria do Reich em Berlim. O Fuhrerbunker estava localizado a cerca de 16 metros de profundidade do nível do jardim e compreendia pouco mais de 20 dependências moderadamente decoradas e totalmente a prova de bombas. Mesmo no caso de um impacto direto as chances dos danos provocados pela explosão atingirem a parte interna eram quase nulas. Apesar de oferecer toda essa segurança o Fuhrerbunker estava longe de ser um local agradável: testemunhas declararam que o ar do abrigo era quase irrespirável e se misturava ao odor insuportável de urina e esgoto. Em alguns pontos havia poças oleosas no chão e suas paredes exalavam muita umidade.
A ESQUERDA FACHADA DA CHANCELARIA EM 1941 A DIREITA A MESMA FACHADA EM MAIO DE 1945.
ACIMA FOTO TIRADA POR AVIÕES ALIADOS DO JARDIM DA CHANCELARIA EM MAIO DE 1945. ABAIXO A PLANTA DA CHANCELARIA COM O BUNKER DE HITLER.
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PLANTAS DO FUHRERBUNKER: 1)REPRODUÇÃO EM 3D DO TERRENO DO JARDIM E DA CHANCELARIA, EM VERMELHO O FUHRERBUNKER 2) O BUNKER VISTO DE FORMA TRIDIMENCIONAL. 3) PLANTA DO PROJETO COM AS DEPENDÊNCIAS DO BUNKER.

1)CORREDOR PRINCIPAL, 2)ESCRITORIO DE HITLER, 3)LOCAL ONDE HITLER E EVA BRAUN COMETERAM SUICIDIO, 4)QUARTO DE HITLER, 5) SALA DE REUNIÕES, 6) QUARTO DE EVA BRAUN.
A destruição provocada pela batalha nas ruas de Berlim não haviam atingido as dependência do Fuhrerbunker, protegidas por paredes de ate três metros de puro concreto. Longe de ser um grande e luxuoso abrigo imaginado por Hitler este era o único refugio que restava ao Fuhrer em toda a Alemanha nazista. Inicialmente o bunker havia sido projetado para servir como abrigo temporário de emergência, porem, em decorrência dos constantes bombardeios aliados que diariamente despejavam suas bombas sobre a agonizante Berlim, Hitler acabou por se mudar para lá definitivamente no inicio de abril de 1945.
O estado de saúde de Hitler naqueles dias era bastante precario. Desde o atentado que sofrera em 20 de junho de 1944, seu estado físico estava em constante degradação. O agravamento do Mal de Parkinson bem como a enorme quantidade de remédios que tomava diariamente - chegava a tomar vinte comprimidos diferentes todas as manhãs - podem ter contribuído para o agravamento de seu estado físico e mental. O seu medico particular, Dr. Morel, lhe receitava uma serie de remédios que na maioria das vezes não tinha nenhum efeito benéfico para sua saúde. Alguns continham uma pequena porcentagem de estricnina, além de pílulas para gases estomacais, injeções diárias de estimulante físico que suprimiam o cansaço, injeções hormonais e um colírio a base de cocaína (1%) que Hitler aplicava nos olhos todas as manhãs. Todas as noites ele precisava de uma injeção de sedativo para conseguir dormir. O escritor alemão Joachim Fest, autor da uma respeitada biografia de Hitler, descreveu o seu estado de saúde nos últimos dias de abril de 1945:
“Sua pele que já era viscosa havia anos, as feições ultimamente intumescidas, e as bolsas escuras e inchadas sob os olhos. Bastante curvado e com movimentos estranhamente oscilantes, ele andava muito próximo as paredes do bunker, como se procurasse apoio. Seu uniforme ate então impecável, apresentava manchas de restos de comida; nos cantos dos lábios havia migalhas de bolo; e sempre que segurava os óculos com a mão esquerda, ao fazer um relato da situação, eles batiam de leve no tampo da mesa. Fisicamente, seu aspecto era horrível. Cansada e pesadamente jogando a parte superior do corpo para frente e arrastando as pernas atrás de si, ele se movimentava dos seus aposentos para a sala de conferencias no bunker. Faltava-lhe a sensação de equilíbrio; quando era parado no curto percurso (20 a 30 metros) tinha de se sentar em um dos bancos dispostos nas paredes dos corredores com esse propósito ou se segurar no interlocutor. Os olhos estavam injetados, embora todos os documentos a ele destinados, tivessem de ser redigidos na “maquina de escrever do fuhrer” cujas letras tinham três vezes o tamanho das letras normais, ele precisava de lentes grossas para lê-los.”
Foi neste ambiente claustrofobico que o todo poderoso fuhrer da Alemanha teve que amargar o seu fim. O terceiro reich que deveria durar mil anos estava chegando ao fim depois de apenas doze. Hitler havia passado toda a madrugada do dia 19 de abril acordado. Tradicionalmente os membros do governo mais próximos ao ditador se reuniam a meia noite do dia anterior ao 20 de abril para serem os primeiros a cumprimentá-lo por seu aniversario. Naquele ano, com as tropas soviéticas a poucos quilômetros, ele havia proibido esse tradicional costume dizendo a seu criado Heinz Linger que não gostaria de receber visitas. Mesmo assim alguns insistiram em manter as aparências ignorando as ordens do Fuhrer: a meia noite os general Burgdorf, Hermann Fegelein, Julius Schaub, Alwin-Broder Albrecht, Otto Gunsche, Walther Hewell e Heins Lorenz se aglomeraram na ante sala dos aposentos de Hitler. O ditador mandou Linger avisar que estava ocupado, porem devido à insistência de Fegelein, Hitler cedeu e saiu para receber os cumprimentos. Friamente ele apertou a mão de cada um dos presentes e sem dizer uma única palavra retornou para seu quarto.
Por volta das 9h, depois de tomar chá com Eva Braun, ele foi informado pelo general Burgdorf – ajudante em chefe da Wermarcht - do rompimento da frente do Oder. Como ainda não havia dormido Hitler resolveu se deitar e pediu para Linger acordá-lo por volta das duas horas da tarde.
A rotina de Hitler começava por volta do meio dia, quando era acordado por um de seus empregados, geralmente Linger. A tarde almoçava com uma de suas secretarias e às vezes passeava com sua cadela Blodi no jardim da Chancelaria. As 15h aconteciam as reuniões de análise da situação do fronte. Por volta das 8h era servido o seu jantar vegetariano. Às 2h da manhã começava a segunda reunião do dia sobre a situação das frentes de batalha. Ao fim da reunião ele se reunia com Eva Braun ou com suas secretarias para tomar chá, geralmente preferia brincar com sua cadela Blondi antes de se deitar por volta das 5h da manhã.


HITLER COM GAROTOS DA JUVENTUDE HITLERISTA NO JARDIM DA CHANCELARIA EM 1945
As 15h daquele 20 de abril Hitler subiu até o jardim onde recebeu uma delegação de jovens membros da Juventude Hitlerista. Cerca de vinte garotos que haviam se destacado na luta contra os soviéticos foram apresentados ao Fuhrer por Arthur Axmann - líder da Juventude Hitlerista. Usando um sobretudo cinza com as golas levantadas Hitler cumprimentou brevemente cada um dos presentes e após um breve discurso retornou para o bunker. Foi à última vez que o ditador havia visto a luz do dia, pois daí em diante não deixaria mais o bunker.
Os preparativos para deixar Berlim já haviam terminado. Vários documentos e pertences de Hitler já haviam sido empacotados; aviões Focke Wulf Fw 200 estavam posicionados nos aeroportos a oeste da cidade prontos para levar Hitler e sua comitiva para o Obersalzberg. Hitler surpreendeu a todos quando anunciou sua intenção de permanecer em Berlim até o fim. Vários nomes da alta cúpula nazista tentaram convencê-lo de deixar a capital, porem sua decisão já estava tomada.

EVA BRAUN

HITLER E EVA BRAUN NO OBERSALZBERG
Logo acima do bunker, nas ruínas da chancelaria onde algumas salas haviam escapado da destruição e mantinham alguns moveis luxuosos, prosseguia as comemorações por seu aniversario. Todos os mais altos nomes do partido estavam presentes: Bormann, Speer, Himmler, Goering, Ribentrop, Donitz, Keitel e Jodl. Hitler compareceu a festa, mas depois de alguns minutos retornou ao bunker. Apesar da ausência do convidado principal as comemorações regadas a champanhe prosseguiram noite adentro. Eva Braun dançou por varias horas com seu cunhado Hermann Fegelein – com quem supostamente teria um relacionamento amoroso. A cozinheira de Hitler, Constanze Manzialy e as secretarias também estavam presentes. Todos bebiam e gargalhavam ao som de “Blood Red Roses Spell Hapiness For You” – o único disco de Eva Braun encontrado para a ocasião. Uma febre hedonista havia se apossado dos presentes que bebiam para esquecer a situação desesperadora na qual se encontravam. Traudl Junge – uma das secretarias - escreveu:
“Um fogo incansável queimava em seus olhos [Eva Braun]. Eva queria disfarçar o medo que a dominava. Queria celebrar mais uma vez, e mais outra, mesmo quando já não havia nada para celebrar. Ela queria dançar, beber e esquecer. Carregava qualquer um a sua frente para dançar (...) Bebíamos champanhe, alguns riam histericamente, e eu também porque não queria chorar. Ninguém comentou nada sobre a guerra.”
Todos sabiam que o fim estava próximo e que certamente aquela era a última ocasião em que celebravam o aniversario do Fuhrer. Poucos minutos após Hitler ter deixado a recepção na Chancelaria os altos membros do partido iniciaram o êxodo: desesperadamente eles buscavam sair de Berlim enquanto o cerco ainda não havia se fechado em torno da cidade. Com o som da artilharia soviética cada vez mais próximo ficou claro que o tempo para fugir estava se esgotando. Goering se despediu de Hitler alegando tarefas urgentes no sul do país. Vários oficiais da Luftwaffe deixaram a cidade em uma serie de veículos oficiais em direção ao oeste. A tarefa não foi fácil, pois percorrer Berlim com suas ruas cobertas pelos destroços levou varias horas. A maioria dos “leais” seguidores do Fuhrer conseguiu escapar. No dia seguinte a luta em Berlim começaria pra valer.
Por volta das 9h30 da manha do dia 21 de abril todos os moradores do bunker foram acordados pelo som da artilharia soviética. Hitler despertou enfurecido exigindo explicações sobre os disparos:
- “O que aconteceu? Que tiros são esses e de onde vêm?”
Burgdorf informou que o centro da cidade estava sob fogo direto dos canhões inimigos. Pálido Hitler perguntou:
- “Quer dizer que os russos já estão tão perto assim?”
Durante toda a manha tentou-se obter informações sobre a origem dos disparos. Observadores na torre antiaérea do Zoológico informaram que os disparos partiam de uma bateria russa na região de Zossen. Canhões alemães de 125 mm posicionados no Tiergarten começaram a disparar contra a bateria russa, mas os disparos continuaram. A Chancelaria estava sendo atingida por disparos da 136º Brigada de Canhões do 79º Corpo de artilharia posicionados em Marzahn.

CANHÕES DA ARTILHARIA ANTI-AEREA NA TORRE DO ZOOLOGICO
Por volta das 14h30 a ante-sala dos aposentos de Hitler no bunker estava lotada por vários oficiais nervosos para o inicio da reunião da tarde. A pergunta que todos se faziam era se Hitler deixaria Berlim ou não. Durante a tensa reunião o general Krebs informou que os soviéticos haviam rompido o anel de defesa mais externo da capital e que o 9º Exercito ao sul corria um serio risco de ficar cercado. Krebs solicitou o recuo do 9º Exercito porem Hitler insistiu para que o mesmo mantivesse suas posições e restabelecesse a frente do Oder, o que naquela altura era impossível.
Após a reunião Hitler acabou com os boatos de que deixaria Berlim e autorizou que todos que não pertencesse ao seu comando pessoal deixasse a cidade. Naquela noite uma serie de limusines deixou a Chancelaria em direção ao aeroporto Gatow. Traudl Junge escreveu em suas memórias:
“Filas de carros e muitos aviões partiram ininterruptamente em direção ao sul. A senhorita Wolf e a senhorita Schroederer, e duas outras secretarias, estavam entre os que partiam. A senhorita Wolf tinha os olhos marejados ao se despedir de mim, como se percebesse que não haveria um reencontro com Hitler, seu chefe havia 25 anos. Um após outro esticava a mão para despedir-se de Hitler. Só os mais importantes oficiais de ligação permaneceram.”
Cerca de cem pessoas embarcaram nos aviões e partiram em direção ao Obersalzberg. Entre eles estava Albert Borman, seu dentista Hugo Blaschke e duas de suas secretarias, Wolf e Schroederer. Dois aviões partiram com os pertences de Hitler. Ao anoitecer chegaram noticias de que todos haviam chegado com segurança ao Obersalzberg, mas que os aviões carregados com os pertences de Hitler foram forçados a pousar em Colônia por caças americanos. Na realidade um dos aviões teria caído em Bornersdorf.
Naquele mesmo dia Hitler nomeou o general Helmuth Weidling, então comandante do 56º Corpo Blindado, como responsável pela defesa de Berlim. Weidling teria 44600 soldados, 42500 integrantes da Volksturm, 2700 garotos da Juventude Hitlerista e alguns poucos blindados. Os membros da Volksturm eram compostos em sua maioria por idosos mal armados e despreparados. Alguns nunca haviam usado uma arma na vida. Na falta de armas fuzis de vários tipos foram distribuídos, mas para a maioria deles não havia munição. Panzerfausts foram distribuídos em grande quantidade e eram muito eficazes na luta contra os blindados se utilizados a curta distancia – seu alcance efetivo maximo era de 100 metros. Não havia sido providenciada alimentação para os soldados e os blindados estavam em sua maior parte com os tanques vazios. Alguns blindados eram simplesmente enterrados no meio das ruas para que suas torres fossem utilizados na luta contra os tanques soviéticos. A defesa alemã era formada por homens exaustos, mal armados, mal equipados e mal alimentados. Alem das privações eles ainda teriam de enfrentar 2,2 milhões de soldados soviéticos, com uma media de idade de 26 anos, bem armados e endurecidos por anos de guerra.
Durante a noite a população do bunker aumentou. Gunsche ordenou que os membros mais próximos do alto comando de Hitler que ainda continuavam ocupando as dependências da Chancelaria se mudassem definitivamente para o bunker: Burgdorf, Bormann, Fegelein, Voss, Hewel, Lorenz, Rattenhuber, Hogl, Schadle, os ajudantes Johannmeyer, Below. Albrecht, Schaub, os pilotos Baur e Betz, o medico Stumpfegger e as secretarias Traudl Junge e Christian. Por volta das 21h a artilharia russa interrompeu os disparos, mas logo em seguida o alarme antiaéreo tocou por toda a Berlim. Aviões soviéticos começaram a despejar bombas sobre o distrito governamental, principalmente contra a Chancelaria.
Zukov estava impaciente com o avanço lento de suas tropas. De acordo o plano a cidade deveria ser tomada em 22 de abril – aniversario de Lenin – porem, suas tropas ainda estavam na periferia de Berlim. Durante a noite comissários políticos distribuíram milhares de bandeiras vermelhas aos soldados e Zukov ordenou um avanço de 24 horas ininterruptas. Ao amanhecer do dia 22 de abril os canhões soviéticos recomeçaram a atirar. Canhões de até 600 mm estavam sendo usados contra o centro de Berlim.
Hitler levantou-se por volta das 10h perguntando sobre o calibre das armas. Linger tentou acalmá-lo dizendo que o barulho era dos canhões antiaéreos no Tiergarten. A reunião no bunker estava marcada para o meio dia. Depois do café Hitler tomou sua costumeira injeção de estimulante aplicada por Morell. Por volta das 11h o corredor do bunker já estava lotado pelos que aguardavam o inicio da reunião. O assunto recorrente ainda era se Hitler deixaria ou não Berlim. No horário marcado Hitler, curvado e com a aparência ainda mais cansada, deixou seu quarto e se dirigiu para a sala de conferencias. Krebs expôs a situação geral dizendo que pesados combates eram travados na periferia leste de Berlim e que tropas russas já haviam penetrado no sul, tomado Zossem e iniciado os combates na periferia ao sul da capital. Ao fim da exposição Hitler lançou os lápis coloridos, que segurava durante as reuniões e usava para fazer marcações nos mapas, sobre a mesa e furioso teria gritado:
- “Nunca ouve nada disso! Nessas circunstâncias, não posso mais comandar! A guerra esta perdida! Mas se os senhores acham que vou deixar Berlim, estão muito enganados! Antes meto uma bala na cabeça!”
Ao deixar a sala de reuniões o clima era de pavor; foi a primeira vez que Hitler teria dito abertamente que a guerra estava perdida. Hitler imediatamente telefonou para Goebbels, que estava com sua família no bunker da Hermann-Goering-Strasse. Enquanto falava com o ministro da propaganda em seus aposentos Keitel e Bormann perderam o controle e esbravejavam no corredor principal do bunker: - “Mas... não pode ser verdade que o Fuhrer realmente quer se matar.” – teria dito Keitel. Imediatamente o corredor foi tomado por um bate boca. Alguns se encheram do conhaque que estava sobre uma das mesas. Por volta das 12h30 Goebbels chegou ao bunker e informou ao Fuhrer que ele, sua esposa e seus seis filhos se mudariam para o bunker ainda naquele dia. Nos dias seguintes a rotina permaneceu a mesma: reuniões tensas e os disparos da artilharia soviética cada vez mais altos e fortes. As cinco da madrugada do dia 24 de abril um fogo arrasador da artilharia soviética foi direcionado contra a Chancelaria. Por volta das 10h aos disparos contra o jardim e contra o teto do bunker danificaram parte do sistema de ventilação do abrigo. No dia 25 as detonações ficaram ainda mais fortes. Hitler mandou chamar Linger e de acordo com suas memórias Hitler teria lhe dito em particular:
- “Linger, adoraria deixá-lo voltar para sua família...”
- “Mein Fuhrer, estive com o senhor nos bons tempos, e ficarei também nos tempos difíceis.”
Hitler dirigiu um olhara de admiração para seu encarregado e disse:
- “Linger tenho uma missão especial para você. (...) Eu meterei uma bala na cabeça junto com fraulein Braun na entrada do bunker no jardim da Chancelaria do Reich, não há outra saída. Arranje gasolina para encharcar nossos corpos e queimá-los. Não deve permitir de forma alguma que meu corpo caia em mão dos russos. Eles me levariam com prazer até Moscou e me exibiriam no panóptico. Isso não pode acontecer.”
Linger prometeu cumprir as ordens de Hitler e imediatamente telefonou para a garagem do bunker e solicitou a Kempka que conseguisse 120 litros de gasolina e deixasse na saída do abrigo no jardim. Se fosse necessário a gasolina deveria ser retirada dos carros estacionados na garagem.
No dia 26 de abril o general Ritter Von Grein, na companhia da aviadora Hanna Reitsch, conseguiu pousar um Fieseler-Storch na pista de pouso improvisada no eixo leste-oeste, bem no centro de Berlim. Durante a aproximação final o avião foi alvejado pela artilharia soviética e Grein foi levado ao bunker com um ferimento na perna. Hanna Reitsch havia sido a única mulher a servir na Luftwaffe como piloto de testes sendo condecorada com a Cruz de Ferro de Primeira Classe. Era uma fanática seguidora de Hitler e ao chegar ao bunker anunciou ao Fuhrer que ela e Grein haviam voado até Berlim para morrer ao seu lado.Nesse meio tempo furiosas batalhas eram travadas nas ruas de Berlim.
Em 27 de abril Hitler chamou Linger novamente e lhe disse que ele e Eva Braun se matariam em seus aposentos no bunker e que ele deveria providenciar lençóis para transportar seus corpos até o jardim. Também disse que gostaria de subir até o jardim para ver como estava. Linger o ajudou a subir as escadas e quando chegaram à entrada do abrigo, enquanto Linger tentava abrir a pesada porta de aço, uma granada atingiu o jardim produzindo um barulho ensurdecedor. Quando olhou para trás Hitler já havia desistido e começado a descer as escadas em direção ao interior do bunker.



SOLDADOS SOVIETICOS EM COMBATE NAS RUAS DE BERLIM
Na reunião que aconteceu por volta das 12h30 Hitler ordenou que o 9 º Exercito, cercado ao sul de Berlim, marchasse em direção a cidade. O que ninguém ousou dizer era que aquela ordem era impossível de ser cumprida. Durante a noite chamou Weidling a seus aposentos e ao saber que as tropas soviéticas já haviam avançado até a Alexanderplatz e que combates pesados aconteciam nos túneis do metrô, ordenou que as pontes sobre o rio Spree fossem explodidas e que os túneis do metrô fossem inundados com as águas do Spree. Weidling alertou que isso provocaria a morte de centenas de civis que usavam os túneis como abrigo antiaéreo e que os feridos estavam sendo tratados nos vagões parados nos trilhos subterrâneos. Hitler simplesmente ignorou essa observação.
Durante a reunião das 21h Weidling mencionou os pesados combates que estavam em andamento nas ruas de Berlim. Os soviéticos já haviam tomado a maioria dos armazéns de alimentos da cidade e as reservas só eram suficientes para mais dois dias. Weidling tentou convencer Hitler a reunir o que restava da guarnição de Berlim e abrir caminho em direção a Postdam, onde estava posicionado o exercito do general Wenck, mas Hitler se recusou a sair de Berlim:
- “Weidling, minha decisão é irrevogável. Ficarei em Berlim” – teria dito o Fuhrer antes de deixar a sala de reuniões.
Naquela noite, por volta das 19h, dois ordenanças da SS se casaram no corredor principal do bunker. Hitler cumprimentou brevemente os noivos e desejou felicidades aos casais. Em função da cerimônia a noite se prolongou até as primeiras horas do dia seguinte.
As noticias da traição de Himmler – que tentava negociar a paz com os aliados ocidentais – chegou ao bunker nas primeiras horas do dia 28 de abril. Hitler teve uma explosão de fúria ao receber a informação. Imediatamente mandou chamar Fegelein, mas este não foi encontrado em suas dependências no bunker. Gunscher sabia que Fegelein não havia deixado Berlim de avião, pois seu Fieseler-Storch havia sido destruído na pista de pouso improvisada no eixo leste-oeste por um disparo direto de artilharia. Durante a noite a guarda pessoal de Hitler, sob o comando do SS-Obersturmfuhrer Helmuth Frick foi enviada ao apartamento de Fegelein na Bleibtreustrasse onde o encontraram completamente bêbado usando roupas civis. Ficou claro para todos que Fegelein pretendia fugir da cidade. Ele foi imediatamente levado ao bunker onde foi interrogado por um oficial da SS. Ao saber da traição de Fegelein, Hitler mandou entregá-lo a um tribunal militar dirigido por Mohnke – o comandante de defesa do distrito da Chancelaria. Eva Braun tentou interceder junto a Hitler pelo cunhado, mas sem sucesso. As circunstancias acerca da execução de Fegelein são cercadas de contradições. Em seu livro “O Bunker”, James P.O´Donnell escreveu sobre o que Mohnke teria lhe contado acerca do julgamento de Fegelein:
“Hitler me deu a ordem para criar um tribunal imediatamente. Eu iria presidi-lo (...) eu mesmo decidi que o homem acusado (Fegelein) merecia ser julgado pelo alto comando. O júri, constituído por quatro oficiais - generais Wilhelm Burgdorf, Hans Krebs, Johann Rattenhuber, e eu (...) O que realmente aconteceu foi que se criou o tribunal marcial numa sala ao lado do meu posto de comando militar (...) O julgamento demorou para começar pois o réu Fegelein começou a agir de forma muito escandalosa. Bêbado como um selvagem, Fegelein primeiro contestou a competência do tribunal. Ele recusou-se a defender-se. O homem estava em forma miserável - chorando, vomitando e trêmulo. Ele colocou seu pênis para fora das calças e começou a urinar no chão ... Agora eu estava na frente de uma situação impossível. Por um lado, com base em todos os elementos disponíveis, incluindo as suas próprias declarações anteriores, este miserável oficial estava sendo acusado de deserção (...) No entanto, o Manual do Exército Alemão afirma claramente que nenhum soldado alemão pode ser condenado se não tiver condições físicas e mentais para ouvir as acusações contra ele. Olhei o artigo novamente, para ter a certeza, e consultei meus colegas juízes (...) Na minha opinião e dos meus companheiros de mesa, Hermann Fegelein não tinha qualquer condição de ser julgado. Eu encerrei o processo (...) Então ficou Fegelein sob a guarda do General Rattenhuber e sua equipe de segurança. Depois disso nunca o vi.”
Segundo algumas fontes Fegelein foi levado ao jardim da Chancelaria e executado. Alguns dizem que o tiro foi disparado ainda dentro bunker. O fato e que Fegelein foi executado em algum momento na madrugada de 28 para 29 de abril. Seu corpo foi enterrado no jardim da Chancelaria, sendo mais tarde encontrado pelos soviéticos.
Um combate particularmente intenso aconteceu ao norte da Chancelaria pela posse da ponte Moltke. A mesma estava barricada em ambas as margens do rio Spree e por volta das 6 da tarde uma enorme explosão foi ouvida. Sapadores alemães tentaram explodir a ponte, mas a quantidade de explosivos não havia sido suficiente de modo que a estrutura resistiu. Dois batalhões soviéticos, comandados pelo capitão Neustroiev, atacaram pela estrutura semi destruída. A artilharia atingiu as posições alemãs na outra margem enquanto os soldados avançavam em direção aos prédios na Moltkestrasse.
DA ESQUERDA PARA A DIREITA: HEINZ LINGER,ERICH KEMPKA, TRAUDL JUNG, GERDA CRISTIAN
DA ESQUERDA PARA A DIREITA: ELSE KRUGER, WALTHER HEWEL, WERNER NEUMANN E LUDWIG STUMPFEGGER
DA ESUQREDA PARA A DIREITA: MARTIN BORMANN, ARTUR AXMANN, OTTO GUNCHE E WILHELM MOHNKE.
Por volta das 21h Mohnke telefonou para Guncher no bunker e informou que havia perdido a comunicação com seus regimentos a poucos metros dali. Quando Guncher apresentou a Hitler o mapa com as posições marcadas de acordo com as informações fornecidas por Mohnke, ficou claro que os combates aconteciam a cerca de 1200 metros da Chancelaria. O Terceiro Reich que em seu ápice se estendia do norte da França até o Caucaso, estava agora reduzido a menos de 1km. Mohnke foi chamado ao bunker para apresentar a situação diretamente a Hitler. Assim que chegou ao Mohnke foi levado ao quarto de Hitler onde o encontrou sentado em sua cama, completamente abatido, usando um pijama:
- “Diga-me: a situação é mesmo tão seria assim?” – teria perguntado Hitler.
Mohnke respondeu que só poderia sustentar a defesa por mais dois dias no maximo. Hitler se despediu de Mohnke e ordenou que resistisse até o fim. Pouco depois foi informado que o estoque de sua comida vegetariana havia terminado e que teria de comer o mesmo que todos os outros:
- “Em breve não precisarei comer mais nada.” – teria respondido com a voz embargada.
Naquela manhã Hitler já havia solicitado ao Dr. Stumpfegger que o ambulatório do bunker lhe enviasse 12 ampolas de cianureto que foram entregues naquela mesma noite.
Linger ficou surpreso quando Bormann lhe informou, por volta das 22h, que Hitler havia decidido se casar com Eva Braun. A cerimônia aconteceria na sala de conferencias que imediatamente começou a ser esvaziada: os mapas foram retirados, apenas a mesa foi deixada. Hitler e Eva Braun saíram de seus aposentos de mão dadas. De acordo com as testemunhas Hitler caminhou com dificuldade os poucos metros até a sala de conferencias. O Fuhrer usava seu costumeiro sobretudo cinza adornado com a Condecoração dourada do Partido e a Cruz de Ferro de Primeira Classe que havia recebido durante a Primeira Guerra Mundial. Eva Braun usava um vestido azul marinho e uma capa cinza. O juiz trazido por Goebbels para realizar a cerimônia chamava-se Walter Wagner, que havia sido retirado da linha de frente a poucos metros dali. A cerimônia durou cerca de 2 minutos. Bormann e Goebbels assinaram como testemunhas. Na hora de assinar a certidão de casamento Eva Braun se confundiu e assinou Eva B..., percebendo o erro riscou o “B” e assinou “Eva Hitler nascida Braun”. “Agora vocês podem me chamar de fraulen Hitler” - disse ela logo depois. Uma tímida recepção foi preparada nos aposentos particulares de Hitler; foram servidos sanduíches e champanhe.

CERTIDÃO DE CASAMENTO DE HITLER E EVA BRAUN NO BUNKER. É POSSIVEL VER O "B" DE "BRAUN" RISCADO.
Enquanto acontecia a recepção dos recém-casados no interior do bunker do lado de fora tropas do 3º Exercito de Choque Soviético tinha acabado de cruzar a ponte Montke e se preparava para iniciar o ataque ao Reichstag. Soldados da 150º e da 171º Divisões de Infantaria travavam um pesado combate contra os defensores no prédio do Ministério do Interior na Montkestrasse.

SOLDADOS SOVIÉTICOS EM COMBATE PROXÍMOS A MONTKESTRASSE
Os ventiladores do Bunker tinham absorvido a fumaça dos combates na superfície, e um insuportável cheiro de pólvora invadiu o local. Pouco depois do casamento Hitler mandou chamar sua secretaria particular, Traudl Junge, que estava descansando em seu quarto no bunker para uma tarefa urgente. Hitler lhe disse que precisava ditar algo e mandou que pegasse um bloco de estenografia. De acordo com suas memórias Traudl Junge permaneceu sozinha com Hitler em uma das salas do bunker enquanto ele ditava seu testamento pessoal. O curto documento dizia o seguinte:
Uma vez que não considerei que devesse, durante os anos de luta, contrair casamento, decidi agora, antes de encerrar a minha passagem pela terra, fazer minha mulher, aquela que após muitos anos de dedicada amizade, entrou por sua vontade própria, na cidade praticamente cercada, de forma a partilhar o seu destino com o meu. Conforme seu desejo, partirá como minha mulher, comigo para a morte. Compensar-nos-á por tudo o que perdemos por causa do meu trabalho ao serviço do meu povo. O que eu possuo, pertence - no caso de ter algum valor, ao Partido. No caso de o Partido não existir, pertence ao Estado. No caso de esse Estado não existir, então não será necessária nenhuma decisão de minha parte. Os meus quadros, nas coleções que comprei ao longo dos anos, nunca foram colecionados para fins privados, mas apenas para a extensão de uma galeria na minha cidade natal, em Linz, no Donau. É meu muito sincero desejo, que este pedido seja executado. Nomeio como meu Executor Testamentário, o meu fiel camarada de partido, Martin Bormann. Ele tem autoridade legal, para tomar todas as decisões. É-lhe permitido retirar tudo o que tiver para ele valor sentimental, ou, for necessário para manter uma vida modesta e simples, para os meus irmãos e irmãs, e também, acima de tudo, para a mãe da minha esposa. Igualmente, para os meus fiéis ajudantes, que ele conhece, principalmente as minhas antigas secretárias, Frau Winter etc. as quais, por muitos anos me ajudaram com o seu trabalho. Eu e a minha esposa - de forma a escaparmos à desgraça da deposição e capitulação - escolhemos a morte. É nosso desejo sermos queimados imediatamente, no lugar onde decorreu grande parte do meu trabalho diário, ao longo dos doze anos em que servi o meu povo.
Ditado em Berlim, aos 29 de Abril de 1945. 04:00 da manhã
[assinado] A. Hitler
[Como testemunhas - assinam ]
Dr. Joseph Goebbels
Martin Bormann
Coronel Nicholaus von Below
Assim que terminou Hitler mandou que ela redigisse três copias do documento o mais rápido possível. Já passava da uma da manhã quando os recém-casados foram se deitar. Por volta das 4h da manhã Traudl Junge, que havia terminado de redigir as copias, se dirigiu a cozinha do bunker para encontrar algo de comer para os filhos de Goebbels. Segundo suas memórias uma serie de eventos inusitados tiveram inicio: “Uma febre erótica parece ter se apossado de todo mundo. Em toda parte, até na cadeira do dentista, vi corpos enlaçados em abraços lascivos. As mulheres tinham descartado toda a decência e expunham livremente suas partes privadas.”



PRIMEIRA E A ÚLTIMA PAGINA DO TESTAMENTO POLITICO DE HITLER. A ASSINATURA DE HITLER É BEM VISÍVEL NA ÚLTIMA PAGINA
Hitler ordenou que as três copias fossem imediatamente enviadas para locais distintos: o ajudante Johannmeyer recebeu uma copia que deveria ser enviado a Tchecoslovaquia; o Obersturmbannfuhrer Lorez deveria entregar a segunda copia a Donitz e a terceira seria enviada para a Baviera através do assessor de Bormann, Johannmeyer. Pouco depois das 4h da manha os três receberam de Bormann um envelope branco, lacrado com o testamento de Hitler. Eles estavam vestidos com uniformes camuflados da SS, portavam metralhadoras e usavam capacete de aço. O plano era escapar pelas linhas russas durante a noite e deixar Berlim o mais rápido possível. Deixar a cidade por avião já não era mais possível, pois a pista de pouso no eixo leste-oeste já havia sido tomada pelos soviéticos.
Por volta das 5h um silencio assustador tomou conta do bunker. Burgdorf e Krebs encontraram Bormann completamente bêbado em um dos corredores:
- “No caso de os russos me pegarem vivo, já tenho minha pílula.” – disse Bormann referindo-se as cápsulas de cianureto.
Os três adormeceram nas poltronas do corredor principal e só acordaram por volta das 5h quando a artilharia soviética recomeçou a atirar.
“Domingo 29 de abril, começou com mais um furacão de fogo.” - escreveu Martin Bormann em seu diário. O vai e vem constante de pessoas ao bunker continuou. Hitler mandou chamar o professor de medicina Werner Haase que estava trabalhando no hospital do bunker cuidando dos feridos do combate. Hitler estava confuso sobre o “melhor jeito de morrer” e queria saber se teria tempo suficiente para apertar o gatilho depois de ingerir uma das cápsulas de cianureto. Diante da duvida Hitler resolveu testar o veneno em sua cadela alsaciana Blondi; um pastor alemão do qual Hitler era nitidamente apaixonado.

HITLER COM SUA CADELA BLONDI NO OBERSALZBERG



AMPOLA DE CIANURETO IDÊNTICA A USADA POR HITLER E OS DEMAIS MORADORES DO BUNKER PARA COMETER SUICIDIO. ABAIXO OS RECIPIENTES METALICOS ONDE AS AMPOLAS ERAM ARMAZENADAS

O professor Haase na companhia de Hitler se dirigiu para o banheiro do bunker, que servia de canil para Blondi. Haase então espremeu com um alicate uma das cápsulas na boca do animal, que de acordo com o testemunho dos presentes, morreu instantaneamente como se atingida por um raio. Otto Gunscher que estava presente no momento em que Blondi foi envenenada relatou o seguinte:
“No corredor do fuhrerbunker estavam o professor Haase e o sargento Tornow, treinador de cachorro de Hitler. Haase segurava em suas mãos uma ampola com cianeto de potássio e um alicate. Hitler o tinha instruído a envenenar a cadela Blond. Hitler queria testar o efeito do veneno. A meia noite, Blondi foi envenenada no banheiro. Tornow obrigou a cadela a abrir a boca e Haase introduziu a mão, esmagando a cápsula com um alicate. O veneno atuou instantaneamente e logo em seguida Hitler veio ao banheiro assegurar-se que Blondi fora de fato envenenada. Não disse uma palavra, sua face não se alterou. Em seguida voltou ao estúdio.”
As ampolas continham 1,5ml (cm³) de cianeto de Potássio (KCN) uma das substancias mais mortais conhecidas pelo homem - a ingestão de uma dose de 0,5 a 1mg é o suficiente para matar um adulto de 70 quilos. Normalmente o cianeto de Potássio costuma ser confundido com o cianureto (HCN - acido cianídrico) que é um veneno bem menos potente que o cianeto de potássio (KCN). A toxidade do acido cianídrico provem do íon CN- que é produzido quando o acido se dissocia de acordo com a reação:
HCN --------- H+ CN-
O HCN é um acido fraco tendo, portanto, uma taxa de ionização muito baixa (0,008%). Como a taxa de ionização é baixa o numero de íons CN- também é muito baixo. O mesmo não ocorre com o cianeto de Potássio (KCN) que é um sal iônico com uma taxa de dissociação muito mais elevada.
KCN ------------ K+ CN-
Sua dissolução em água possui maior rendimento o que se traduz numa quantidade mais elevada de íons CN- tornando o cianeto de potássio uma substancia muito mais letal que o HCN.
O íon CN- formado a partir da dissociação bloqueia o sistema respiratório impedindo que moléculas de oxigênio se liguem a hemoglobina da corrente sanguínea, provocando uma espécie de asfixia fisiológica. O individuo envenenado com cianeto não apresenta a palidez típica da asfixia. A hemoglobina é a responsável pela coloração vermelha do sangue e a combinação do íon cianeto não altera a cor vermelho-brilhante do mesmo, fazendo com que a vitima mantenha sua coloração normal apresentando apenas uma coloração azulada nos lábios e ao redor das narinas. Uma característica marcante do cianeto era o seu cheiro forte de “amendoas amargas”. Ironicamente o gás cianídrico era o mesmo veneno utilizado nas câmaras de gás dos campos de extermínio.
O dia 30 de abril amanheceu “com um clima melancólico no ar”, disse a secretaria de Hitler, Traudl Junge. Pouco depois do meio dia Hitler teria ordenado a seu guarda costas Otto Gunsche que se encarregasse de destruir seus restos mortais que não deveriam cair em poder dos russos. Aqui as informações divergem bastante: segundo algumas fontes teria sido Otto Gunche o responsável por ligar para o bunker da garagem e solicitar que Erich Kempka, responsável pela garagem da Chancelaria, que conseguisse duzentos litros de gasolina. Nos arquivos soviéticos, que se baseiam nos interrogatórios de Otto Gunche e Linger, e versão é a de que teria sido Linger o responsável por providenciar a gasolina, conforme já havia mencionado anteriormente. Considerando-se o estado paranóico de Hitler naqueles dias, não surpreende que o Fuhrer tenha feito o mesmo pedido a ambos.
De acordo com algumas fontes, no início da batalha de Berlim, existiam cerca de 40.000 litros de gasolina estocadas em tanques de plástico enterrados no Tiergarten a apenas 400 metros da chancelaria. Porem o encanamento que ligava o reservatório secreto a garagem subterrânea era feito por uma mangueira de borracha que provavelmente foi rompida durante o furioso bombardeio da artilharia soviética. Por volta do meio dia toda a gasolina que Kempka conseguiu foi entregue no bunker.
Soldados soviéticos já haviam se posicionado no telhado do hotel Adlon, a apenas 300 metros, e disparavam suas armas contra o jardim da chancelaria; o tempo para cumprir a ordem de incinerar os corpos estava se esgotando. As 15:00h Hitler fez sua última refeição na presença de suas secretarias Traudl Junge, Gerda Christian e da sua cozinheira Constanze Manzialy. Segundo Traudl Junge, Hitler não teria dito uma única palavra durante a refeição. Ao terminar agradeceu a Sr. Manzialy pelo macarrão com salada e seguiu para seus aposentos na companhia de Eva Braun.
Pouco depois todos os ajudantes mais íntimos foram reunidos no corredor principal para se despedirem. Um a um Hitler apertou as mãos daqueles leais funcionários; quando chegou à vez de Magda Goebbels ele a presenteou com um botom de ouro do NSDAP. Segundo as memórias de Traudl Junge, Hitler teria lhe dito algumas palavras, mas seu tom de voz era tão baixo que ela não pode entender. Em seguida entrou em seus aposentos acompanhado de Eva Hitler para o ato final; o relógio marcava 15:20.
Otto Gunscher se posicionou no lado de fora da porta de aço a prova de som e gás que levava aos aposentos de Hitler. Perto dali na sala de reuniões do bunker, ou no corredor principal, estavam Goebbels, o general Krebs, Burgdorf, Artur Axmann, Linge e Bormann esperando ansiosamente pelo desfecho. Otto Gunscher relatou após ser capturado:
“Havia, quanto me lembro, pelo menos seis pessoas perto da porta junto comigo: Goebbels, Bormann, Linger, Generais Krebs e Burgdorf, Axmann e mais um ou dois outros. Nenhum de nos ouviu o tiro, talvez por causa das duas portas. Ambas eram a prova de fogo e de gás; consequentemente, também de som. As ultimas instruções que Linger e eu recebemos, diretamente do fuhrer, eram que esperássemos dez minutos e então – só então – Entrássemos no quarto. Foi justamente o que fizemos, foram os dez minutos mais longos de minha vida”

Cerca de dez minutos depois, as 15:30, todos já estavam certos de que tudo já havia terminado, a secretaria de Hitler, Traudl Jung, disse ter ouvido um tiro, mas seria praticamente impossível escutar qualquer ruído através das portas a prova de som. Linger abriu a pesada porta dos aposentos bem lentamente e um cheiro forte de pólvora e cianureto o alcançou chegando a lhe irritar os olhos. Linger fechou novamente a porta e “tremendo da cabeça aos pés” disse que não conseguia entrar no quarto. Neste momento Rattenhuber que estava no corredor, completamente bêbado, deduziu que Linger havia dado o tiro de misericórdia em Hitler, uma dedução completamente equivocada. Em seguida Bormann, Gunscher, Goebbels, Axmann e Linger entraram finalmente pela porta e viram a seguinte cena:
“Hitler estava no sofá, à esquerda, morto. A seu lado, Eva Braun, também morta. Na temporã direita de Hitler havia um buraco de tiro do tamanho de uma moeda. Dois filetes de sangue escorriam de sua face. No tapete ao lado do sofá se formara uma poça de sangue do diâmetro de um prato. Parede e sofá estavam respingados de sangue. A mão direita de Hitler repousava em seu joelho com a palma virada para cima; a esquerda pendia para baixo, ao lado do corpo. Ao lado do pé direito de Hitler havia uma pistola Walther calibre 7.65 mm, ao lado do pé esquerdo, uma de calibre 6,35 mm. Hitler usava seu sobretudo cinza com distintivo dourado do partido, a cruz de ferro de primeira classe e o distintivo de ferido de guerra da primeira guerra mundial.”

Assim Linger descreveu a cena após ter sido capturado. Otto Gunsche descreveu a mesma cena de modo um pouco diferente:
“Hitler afundado no sofá florido tinha os olhos abertos e a cabeça pendia ligeiramente para frente. Na temporã direita havia um buraco do tamanho de uma moeda, da qual escorria um filete de sangue que descia pela face. No chão encontrava se uma pistola WALTHER calibre 7.65. Embaixo havia uma poça de sangue e a parede atrás estava coberta de respingos de sangue.”

Artur Axmann declarou o seguinte:
“Ao entrar vimos o fuhrer sentado num pequeno canapé e Eva Braun a seu lado com a cabeça repousada em seu ombro. O fuhrer estava ligeiramente inclinado para frente, e todos nos constatamos imediatamente que estava morto. Seu maxilar inferior pendia e havia um revolver no chão. Escorria-lhe sangue das temporãs e da boca, mas não havia muito sangue espalhado... Penso que Hitler, primeiramente tomou veneno, e depois disparou um tiro de revolver na boca, e que a pressão do impacto da bala lhe estourou as temporãs.”

Logo após o impacto inicial da visão do duplo suicidio, Gunscher mandou que Linger afastasse a mesa de centro do pequeno cômodo para que fosse possível estender dois cobertores no chão para embrulhar os corpos. O cirurgião Ludwing Stumpffeger entrou no cômodo e depois de uma breve análise atestou que Hitler e Eva Braun estavam de fato mortos. Gunscher e Linger envolveram o cadáver de Hitler em um cobertor; dois soldados o carregaram pelas escadas que levavam ao jardim. Tarefa que não se mostrou nada fácil já que Hitler pesava na ocasião mais de 80 quilos; somente as pernas do ditador pendiam para fora do cobertor, sua cabeça estava cuidadosamente embrulhada para esconder a imagem do crânio estourado pelo disparo. O corpo de Eva Braun começou a ser transportado para o jardim por Martin Bormann, porem Kempka ao ver que Bormann estava carregando o corpo de Eva “como um saco de batatas”, o tomou de seus braços e terminou o trajeto. Ao contrario de Hitler o corpo de Eva Braun não estava embrulhado em um cobertor.
A tarefa de cremar os corpos se mostrou complicada, pois a artilharia soviética estava bombardeando furiosamente todo o terreno da chancelaria. Depois de alguns minutos conseguiram colocar os corpos deitados lado a lado em uma cratera de bomba a cerca de 4 metros da saída do bunker. Martin Bormann descobriu o rosto de Hitler e olhou por alguns minutos. Foram derramados cerca de 180 litros de gasolina sobre os dois corpos. As tentativas de incendiar a gasolina foram frustradas pela forte ventania, decorrente do bombardeio, que impediam os fósforos de permanecerem acessos. Alguém propôs usar uma granada, porem Linger lançou um pedaço de pano em chamas sobre os corpos e uma enorme chama surgiu. Goebbels, Gunscher, Linger, Bormann, Hewel, Axmann, Rattenhuber e Schaedler fizeram a saudação Hitlerista antes de voltarem ao bunker. A última visão que tiveram pela porta entreaberta foi dos corpos de remexendo no meio das chamas. A secretaria de Hitler, Traudl Junge, contou o seguinte:

“Logo depois do suicido procurei Otto Gunsche para saber como o fuhrer tinha morrido, pois ate então só tinha escutado o disparo, mas não tinha visto os corpos. Gunsche disse: o fuhrer tinha atirado na boca e tinha ainda mordido uma ampola de veneno. O crânio tinha axplodido, e o aspecto era horrível. Eva não usou sua pistola tinha apenas ingerido veneno. Enrolamos a cabeça do fuhrer em um cobertor e levamos para o jardim, onde os deitamos lado a lado e queimamos com gasolina. Antes desta conversa com Gunsche eu tinha ido ate a sala de estar onde Hitler havia cometido suicídio. Sobre a mesa estava o pequeno revolver de Eva Braun, ao lado um lenço rosa e, no chão, ao lado da cadeira da senhora Hitler vejo brilharem os invólucros de latão da ampola de veneno. No estofamento branco e azul do banco de Hitler estava sujo de sangue, o terrível cheiro de amêndoas amargas me deixa enjoada e eu saio correndo do lugar.”

ERICH MANSFIELD
Um esquema de segurança havia sido preparado para que nenhum soldado raso presenciasse a queima dos corpos, no entanto, três soldados que mantinham guarda no jardim e na Chancelaria testemunharam o ocorrido: Erich Mansfield, Herman Karnau e Harry Mengershausen. Erich Mansfield e Herman Karnau descreveram a queima dos corpos:
“As pernas e o dorso de Hitler moveram-se para cima devido a intensidade do calor. O corpo de Eva Braun encolheu, as pernas se levantaram a ponto de os joelhos tocarem o queixo, o braço também se ergueu e ficou em linha reta com o tronco. Ela parecia estar sentada em um cavalo e segurando rédeas imaginarias.”
Os médicos legistas dizem ser bastante comum corpos incendiados ou expostos a temperaturas elevadas “se sentarem”. Isto ocorre porque os tendões das pernas e braços, quando expostos ao fogo, tendem a encolher repuxando assim os membros na direção do tronco. O corpo encolhe pela perda de líquidos durante a queima. Algumas partes como crânio e abdome podem apresentar aberturas, devido à ação de temperatura elevada das chamas, a pressão dos líquidos sob a pele sobe de forma descontrolada ocasionando pequenos “estouros”. Mansfield contou como ficou o corpo de Hitler depois da queima:
- “Toda a parte inferior havia sido consumida e as tíbias de Hitler eram perfeitamente visíveis”.
Mais tarde Mansfield voltou para ver os corpos e relatou:
- “Ardiam ainda, mas quase não havia mais chamas”.
Harry Mengershausen, que estava mantendo guarda na sala de jantar azul da Chancelaria, relatou que viu, com o auxilio de um binóculo de uma janela que ficava a 60 metros da saída do bunker, dois corpos sendo queimados no jardim no dia 30 de abril de 1945. No relatório feito pelos soviéticos sobre o local de sepultamento dos corpos de Hitler e Eva Braun, datado em 13 de maio de 1945, está registrado:
HARRY MENGERSHAUSEN


Local de sepultamento dos corpos de Hitler e Eva Braun
Berlim, 13 de maio de 1945

Nos, abaixo assinados: Chefe, seção de contra-espionagem SMERCH, 79º corpo de carabineiros, tenente-coronel Klimenko; Magistrado Inquiridor chefe, seção de contra espionagem, Katychev; Chefe do esquadrão de levantamento topográfico, 79º corpo de carabineiros major da guarda Gabelok; segundo-Tenente Kalachnikov; soldados, pelotão especial, seção de contra espionagem SMERCH, 79º corpo de carabineiros, Oleynik, Tchurakov, Navach, Myalkin, acompanhados da testemunha Mengershausen, Harry, investigamos nesta data o local onde foram enterrados os cadáveres do chanceler do reich alemão Adolf Hitler e de sua esposa.

A testemunha Mengershausen, Harry, atestou que ele, como membro do SS grupo de combate Mundtkes, fora destacado de 20 a 30 de abril para defesa da área da chancelaria e proteção pessoal de Adolf Hitler. Em 30 de Abril de 1945, por volta do meio dia, estava de guarda dentro do edifício da nova chancelaria, onde sua tarefa consistia em cobrir o corredor que passava pelo estúdio de Hitler e continuava ate a sala de jantar azul. Durante seu plantão através do corredor acima mencionado, Mengershausen deteve-se na sala de jantar azul defronte da ultima janela, que era a mais próxima da saída do jardim, e observou o que estava acontecendo no jardim da chancelaria. Neste momento o Sturmbannfuhrer Gunsche e Linge carregavam os corpos de Hitler e de sua esposa Eva Braun da saída de emergência para o ar livre. Isto despertou seu interesse observou cuidadosamente para ver o que se estava passando. Gunsche, ajudante de ordens de Hitler, derramou gasolina nos corpos e ateou-lhe fogo. Meia hora mais tarde os corpos de Hitler e de sua esposa estavam consumidos, foram levados para uma cratera acerca de um metro de distancia da referida saída de emergência e la enterrados. Todo o processo – Transporte dos cadáveres, sua cremação e o sepultamento dos corpos de Hitler e de sua esposa – Foi pessoalmente observado por Mengershausen de uma distancia de 60 metros. Mengershausen atestou ainda que, em 29 de abril o cachorro de Hitler também foi enterrado na cratera. Características particulares: Um pastor alto com orelhas compridas, costas pretas e flancos elegantes. Por Paul Phenie que cuidava especialmente do cachorro, Mengershausen soube que ele tinha sido envenenado. Ao investigar os locais indicados por Mengershausen, verificou-se que seu depoimento era correto. Durante o seu plantão de 30 de abril de 1945, Mengershausen pode observar claramente da janela da sala de jantar azul o que estava ocorrendo na saída de emergência do bunker. O depoimento da testemunha Mengershausen e bem digno de credito, pois a “ ” de maio de 1945 retiramos da referida cratera os cadáveres de um homem e de uma mulher desfigurados pelo fogo e dois cachorros envenenados que, Conforme foi reconhecido por outras testemunhas, pertenciam a Hitler e a sua secretaria particular Eva Braun.

Em anexo, estão um diagrama do local onde foram descobertos os cadáveres de Hitler e de sua esposa, bem como fotos do local indicado pela testemunha Mengershausen.

Depoimento tomado na chancelaria, cidade de Berlim.

Chefe, seção de contra espionagem SMERCH 79º corpo de carabineiros
Tenente-coronel
Assinado (Klimenko)

Magistrado inquiridor chefe interprete
Seção de contra-espionagem SMERCH
79º corpo de carabineiros
Tenente
Assinado (Katychev)

Chefe esquadrão de levantamento topográfico
79º corpo de carabineiros
Major da guarda
Assinado (Gabelok)

Fotografo-correspondente
79º corpo de carabineiros
Segundo tenente
Assinado (Kalachnikov)

Soldados, seção de contra-espionagem SMERCH
79º corpo de carabineiros
Assinado (Oleynik)
(Tchurakov)
(Navach)
(Myalkin)

Testemunha
Assinado (Mengershausen)


De acordo com o seu testemunho aos soviéticos, Linge disse que mandou Kruger e o ordenança Schwiedel tirarem o tapete ensangüentado do escritório de Hitler. Os três procuraram uma cápsula que deve ter saído da arma no momento do disparo, mas não encontraram. Eles levaram o tapete para o jardim e o queimaram. Poucas horas depois Gunsche mandou um soldado dar uma olhada no estado dos corpos no jardim, e de acordo com Gunsche o soldado disse que o corpo de Hitler não podia mais ser reconhecido e que o de Eva Braun tinha virado um punhado de cinzas. Por volta da meia noite Rathenhuber e mais dois soldados voltaram ao jardim para enterrar o que havia restado dos dois corpos. De acordo com Rathenhuber:
- “os restos eram agora uma pilha de ossos queimados e flocos que eram levados pelo vento”.
Legistas garantem ser impossível realizar uma cremação total em um buraco arenoso onde o oxigênio teria dificuldade de alimentar as chamas [ver mais adiante na conclusão final] sendo, portanto, muito improvável que os corpos estivessem, naquele momento, reduzidos a cinzas. Os dois ajudantes de Rathenhuber eram o Hauptsturmfuhrer Ewald Lindloff - que morreria nas primeiras horas do dia 2 de maio durante a tentativa de fuga na Ponte Weindendamer - e o Obersturmfuhrer Hans Reisser, ambos pertencentes ao pelotão da SS de escolta do Fuhrer (Fuhrerbegleitkommando). Posteriormente Reisser também alegou que os corpos estavam completamente despedaçados e reduzidos a pó de carvão. Segundo Rathenhuber já passava da meia noite quando os despojos foram enterrados, logo é improvável que em meio à escuridão do jardim os três homens pudessem ser capazes de distinguir não mais do que sombras carbonizadas entre os despojos. Os três embrulharam os restos, que estavam num buraco à esquerda da saída do bunker, em um cobertor militar e o enterraram na outra extremidade da ravina em forma de “L” bem em frente da saída do bunker. Cobriram com uma fina camada de terra e socaram o solo com uma estaca de madeira. No dia seguinte, o 1º de maio os soviéticos realizaram um assalto geral a Berlim. A bandeira soviética já tremulava sobre o telhado do Reichstag, mas a luta no seu interior continuava intensa. No bunker um último drama ainda estava por acontecer: Josef Goebbels e sua mulher decidiram envenenar seus seis filhos e logo em seguida se matar. Werner Naumann contou o seguinte:
- “Por volta das 20:15 min do dia 1º de maio, ele conversava com Goebbels e sua esposa quando subitamente Magda se levantou e foi até o quarto das crianças.”
Magda Goebbels entrou no quarto acompanhada do medico Dr. Stumpfegger que levava um potente sedativo nas mãos. Magda disse aos seis filhos que precisavam tomar um remédio para não ficarem doentes devido à umidade do bunker. Alguns minutos depois outro medico da SS entrou no quarto das crianças já adormecidas, juntamente com Magda, e alegou mais tarde a seus captores soviéticos que havia aplicado em cada uma das seis crianças uma injeção com 0,5 ml (cm³) de morfina, mas que não conseguiu dar veneno a elas e aconselhou Magda a pedir ajuda ao Dr. Stumpfegger que teria lhe ajudado a colocar uma ampola de cianeto na boca de cada criança enquanto elas dormiam. Naumann contou que poucos minutos depois Magda retornou, pálida e tremendo disse:
- “Esta tudo acabado com as crianças. Agora temos que pensar em nos”.
Goebbels e Magda se despediram dos ocupantes do bunker que tentariam fugir de Berlim no meio dos soldados e da caótica luta nas ruas. Por volta das 20: 30h ambos subiram ao jardim da Chancelaria. De acordo com o relato de Werner Naumann:
- “As pernas de Magda tremiam tanto que ela mal conseguiu subir os degraus da escada de acesso ao jardim”.
Goebbels havia pedido a seu assistente da SS Gunter Schwagermann que queimasse os corpos dele e de sua esposa, mas não sem antes dar um tiro de misericórdia em ambos para ter certeza de que estavam mortos. Goebbels e Magda saíram para o jardim e pararam a poucos metros do local onde haviam queimados os corpos de Hitler e Eva Braun; Magda mordeu uma cápsula de cianeto ao mesmo tempo em que Goebbels disparava um revolver Walther contra sua esposa; o disparo foi provavelmente na cabeça ou na nuca de Magda Goebbels. Logo em seguida Goebbels fez o mesmo: Mordeu uma cápsula de cianureto ao mesmo tempo em que atirava contra a região da sua temporã direita. Schwagermann então cumprindo o combinado derramou algumas latas de gasolina sobre os corpos e ateou fogo. O tempo para escapar estava se esgotando e ninguém parece ter se importado em derramar mais gasolina nos corpos assim que as chamas apagaram.
Ao anoitecer do dia 1º de maio os que ainda permaneciam vivos dentro do bunker resolveram tentar escapar: o plano era deixar a Chancelaria e seguir até a estação Kaiserhof, usar os túneis subterrâneos e seguir em direção a Wedding. De lá tentariam alcançar o norte de Berlim, através das estação ferroviária Stettiner Bahnhof. Seis grupos foram separados: o primeiro grupo seria liderado por Mohnke e era formado por Gunsche, Hewel, Voss, Frau Chriatian, Frau Junge, Frau Krueger, Frau Manziarly e a escolta pessoal de Hitler. O segundo era formado por Naumann, Bormann, Schach, um batalhão da Volkssturm e alguns funcionários da administração do partido em Berlim. O terceiro grupo era formado por Kempka, Linge, as ordenanças e os motoristas da garagem do bunker. O quarto grupo era comandado pelo Brigadefuhrer Albrecht e composto pelos ajudantes de Hitler. O sexto grupo era liderado por Axmann e composto por cerca de duzentos meninos da juventude Hitlerista. Ao todo cerca de duas mil pessoas deixaram a Chancelaria durante a noite de 1º de maio. A maioria estava armada com metralhadoras, panzerfausts e usavam uniformes militares; antes do amanhecer do dia 2 de maio a maior parte dos fugitivos seria morta em combate pelas ruas ou cometeria suicídio.
Gunsche se despediu dos generais Burgdorf e Krebs, ambos haviam se recusado a partir dizendo que preferiam se matar no bunker quando os soviéticos se aproximassem:
- “Como jovem oficial, vivi a derrota da Alemanha na Primeira Guerra Mundial, em 1918. Naquela época, eu era jovem e cheio de força. Agora estou velho e decepcionado.” – Teria dito Burgdorf.
Monhke ondenou que o quarto e o escritório de Hitler fossem incendiados. Gunther Schwagermann, ajudante de ordens de Goebbels, junto com outros oficiais da SS despejaram alguns galões de gasolina nos aposentos de Hitler. Os últimos ocupantes a deixarem o bunker apagaram as luzes e desligaram os ventiladores que levavam oxigênio ao abrigo o que impediu o fogo de continuar. Apenas alguns moveis e as paredes ficaram chamuscadas pelas chamas.
Por volta das 23h o primeiro grupo partiu: atravessaram o pátio de honra da Chancelaria em direção a Wilhelmplatz e chegaram à entrada da estação do metro Kaiserhof. Seguiram pelos túneis subterrâneos até a estação Friedrichstrasse, onde encontraram uma situação caótica. Os túneis estavam abarrotados de civis e feridos. Na impossibilidade de continuar pelos túneis eles subiram para a rua e seguiram em direção a ponte Weidendammer, que estava barricada pelos soviéticos. O grupo usou uma pequena ponte de ferro sobre o Spree a alguns metros da ponte Weidendammer de onde conseguiram atingir os pátios do Hospital Charité na Chaussestrasse. Nas primeiras horas do dia 2 de maio eles chegaram a uma cervejaria na Schonhauser Allee. O local já estava entulhado de soldados alemães exaustos pelos combates. Por volta das 3h da manha o local foi cercado por tropas soviéticas e o grupo acabou se rendendo.
FACHADA DE UM PRÉDIO EM FRENTE A ESTAÇÃO KAISERHOF
FRIEDRICHSTRASSE NA MANHÃ DE 1 DE MAIO
Em algum momento daquela conturbada noite de 1º de maio os generais Hans Krebs e Burgdorf se sentaram em uma mesa no corredor principal do bunker e cometeram suicido. Durante a agonia o general Krebs deve ter batido a cabeça em uma das garrafas espalhadas sobre a mesa. Mais tarde quando o operador de radio do bunker, Rochus Misch, os viu mortos pensou que haviam se matado com um tiro por causa dos vários ferimentos na cabeça. Provavelmente o único que se matou com um tiro foi o general Burgdorf e não ambos como predomina nos escritos ocidentais. A autopsia do general Krebs não revelou nenhum ferimento causado por arma de fogo. O cadáver do general Burgdorf misteriosamente não foi autopsiado. O cadáver do general Krebs aparece nas imagens divulgadas pelos soviéticos com sinais de sangue nas narinas e na região da temporã esquerda, alem de vários outros ferimentos levantando suspeitas sobre se o mesmo não havia se matado com um tiro.
O grupo de Bormann acabou se perdendo do primeiro grupo na estação Friedrichstrasse e cometeu o grave erro de tentar atravessar a ponte Weidendammer. Cerca de cinco tanques da SS Nordland foram usados para esmagar as defesas soviéticas na ponte. Um tanque Tiger II do 503 batalhão de Panzers pesados e um canhão alto propulsado foram usados no ataque principal. Naumann subiu e se colocou atrás da torre do tanque; Bormann, Stumpfegger e Kempka seguiram a pé logo atrás do blindado.O tanque atravessou a ponte lentamente e assim que atingiu a Ziegelstrasse um panzerfaust foi disparado pelos sovieticos contra o blindado. Vários disparos de canhões anti-tanque atingiram o Tiger derrubando todos que tentavam se proteger atrás de sua estrutura. Axmann e Betz ficaram feridos. Bormann e Stumpfegger foram lançados ao chão pelo deslocamento de ar. Kempka ficou temporariamente cego. Georg Diers, motorista do tanque Tinge, relatou em suas memórias sobre a tentativa de rompimento na ponte Weidendammer:
Nós nos reunimos na Estação S-Bahn da Friedrichstrasse bem como muitas tropas que quiseram participar do rompimento do cerco. Havia cerca de três ou quatro tanques, Sturmgeschützes (canhões de assalto), blindados de transporte pessoal e uma grande quantidade de caminhões. A ponte Weidendammer estava bloqueada por armadilhas antitanque feitas durante a preparação inicial da defesa de Berlim. (...) fui abordado por muitos soldados e civis que me perguntaram se eles poderiam ir sobre o Tigre II durante a tentativa de furar o cerco. Eu concordei e eles ansiosamente subiram na parte traseira do tanque. Enquanto isso outra pessoa veio a nós, alguém de alta patente - embora não reconhecido por nós, porque usava um longo casaco, mas era visível o respeito dado a ele pelos outros soldados em torno de nós - que perguntou se poderíamos levá-lo também. Eu disse que sim e ele subiu na parte traseira do tanque. Fomos então forçados a conduzir por sobre as armadilhas antitanque da ponte, pois a área reservada para as pessoas transitarem era demasiado pequena para um Tigre II. Quando chegamos a primeira rua à direita - que eu mais tarde descobri ser a Ziegelstrasse - começamos a receber um fogo muito intenso de armas pequenas de infantaria e artilharia. Tudo e todos sobre o nosso tanque foi derrubado ou aniquilado, mesmo as luzes do tanque não resistiram a pesada barragem encontrada. O interfone da tripulação parou de funcionar e o motorista, ignorando isso, manteve-se a toda velocidade, não percebendo um grande buraco na rua. Eu era capaz de me comunicar com ele apenas com a ajuda do atirador, que disse a ele para desviar para a esquerda, sobre a calçada. Ele fez, destruindo muitos postes de iluminação e os cabos de eletricidade, inclusive os cabos para o bonde elétrico. Acabamos atingindo outra armadilha antitanque, que nos fez parar. Então do nada surge uma figura de chapéu e eu, sem saber quem era, puxei a minha pistola e fiquei pronto para disparar. Foi quando vi o emblema Totenkopf (da SS). Era um Untersturmführer. Ele disse que era motorista e ajudante de Goebbels e conhecia bem as ruas de Berlim. Que sabia que o fogo na Ziegelstrasse era forte e por isso tinha se escondido no lado esquerdo do tanque. Perguntamos sobre as outras pessoas que haviam subido em nosso tanque ou tinham seguido atrás de nós, e ele informou-nos de que todos eles tinham sido mortos. Nos livramos dos cabos do bonde elétrico que tinham se emaranhado em nosso tanque, fizemos a volta em torno da armadilha e continuamos em nosso caminho. Nosso novo camarada era alguém bem informado e disse-nos que aquele último homem a juntar-se a nós era Martin Bormann.
Kempka também escreveu sobre o fato:
Começamos a nos movimentar ao lado do tanque, como sombras escuras. Bormann e o Dr. Neumann caminhavam protegidos pela torre do tanque, do lado esquerdo; o Dr. Stumpfegger e eu seguíamos atrás deles. Fiquei logo atrás do Dr. Stumpfegger. Mais homens uniram-se a nós. Após o tanque avançar trinta ou quarenta metros ele recebeu um impacto direto de um panzerfaust. Vi apenas um flash e fui atirado ao chão, inconsciente. Minha última impressão foi de que o Dr. Naumann, Bormann e Dr. Stumpfegger caíram juntos e que permaneceram deitados. Acredito que o Dr. Stumpfegger, que estava na minha frente e que era muito mais corpulento e 30 centímetros mais alto que eu, me protegeu do impacto. Recebi alguns estilhaços na minha coxa e estava ferido no braço. Após um período indeterminado recuperei a consciência e voltei para trás novamente, porque eu ainda não conseguia enxergar. Tateando, arrastei-me por mais de 50 jardas, até que alguma coisa me deteve. Parecia um muro. Deve ser o obstáculo antitanque, pensei. Resolvi, então, descansar e um minuto depois comecei a enxergar de novo.
O grupo retornou cambaleando pela ponte; o ferimento na cabeça de Betz o impediu de continuar. Bormann, Naumann, Axmann, Stumpfegger e Schwagermann continuaram e com dificuldade alcançaram a estação Lehrter. Naumann e Schwagermann se separam de Bormann, Stumpfegger e Axmann que seguiram pela Invalidenstrasse. Axmann relatou depois de capturado que deixou Bormann e Stumpfegger sentados na escada de pedra de uma casa na Invalidenstrasse e prosseguiu alguns quarteirões na companhia de um outro fugitivo. Depois de alguns metros encontraram soldados russos e resolveram retornar até onde Bormann e Stumpfegger haviam ficado; ao retornarem encontraram dois corpos. Segundo os relatos de Axmann:
Nós encontramos os corpos de Bormann e do Dr. Stumpfegger, um do lado do outro. Aproximei-me mais e pude ver bem seus rostos, iluminados com a luz do luar. Seus rostos estavam bem visíveis, pois ambos estavam de costas, com os braços e as pernas abertos. Toquei em Bormann. Não houve reação. Inclinei-me sobre ele. Não respirava. Não vi ferimentos, nem sangue. Não havia nenhum sinal visível de tiro ou ferimento por explosão. Pareciam homens que estavam dormindo ou inconscientes. Mas eles não estavam respirando. Weltzin e eu não nos preocupamos em verificar o pulso.
Por muitos anos centenas de historias sensacionalistas percorreram o mundo acerca do destino de Martin Bormann. Muitas pessoas afirmaram ter “provas” de que o mesmo havia conseguido fugir para a Argentina. Centenas de fotos foram divulgadas como “prova” de que Bormann estava vivo. Milhares de testemunhas afirmaram ter tido contato com Martin Bormann depois de o mesmo ter conseguido escapar de Berlim. Em 7 de dezembro de 1972 esses boatos finalmente chegaram ao fim quando dois esqueletos foram descobertos nas escavações de uma obra de ampliação do metro próximo a estação Lehrter. Os esqueletos eram de dois homens, sendo um deles com estatura elevada - Stumpfegger tinha 1,90. Foram encontrados fragmentos de vidro de uma ampola impregnada de cianureto dentro da mandíbula dos dois esqueletos. Um deles possuía uma aliança com a data de 1938 (ano do casamento de Stumpfegger).

MARTIN BORMANN - O ÚLTIMO A DIREITA DA FOTO - COM HITLER NO OBERSALZBERG

ESQUELETO DE BORMANN ENCONTRADO EM 1972

CRANIO DE BORMANN E STUMPFEGGER
A policia desconfiou da identidade dos corpos, pois eles estavam no exato local onde testemunhas disseram ter visto os corpos de Bormann e Stumpfegger nas primeiras horas do dia 2 de maio. Um funcionário dos correios chamado Albert Krumnow alegou ter sido obrigado por soldados russos a enterrar os corpos de Bormann e Stumpfegger próximo a estação Lehrter no dia 2 de maio de 1945. Por anos as escavações nos locais apontados por Krumnow não resultaram em nada, mas os esqueletos encontrados em 1972 reativaram as suspeitas. Um dos crânios apresentava uma marca acima do olho direito, compatível com um acidente de cavalo sofrido por Martin Bormann. Por fim um exame de DNA confirmou a identidade dos dois homens pondo fim a todas as “provas” de que Bormann havia conseguido fugir de Berlim.

Na manhã do dia 2 de maio tropas soviéticas do 5º Exercito de Choque, capturaram a Chancelaria. Ouve apenas uma rápida troca de tiros no vestíbulo de entrada, que terminou com a rendição da pequena guarnição alemã que defendia o prédio. Inicialmente as tropas soviéticas encontraram dificuldades em encontrar a entrada do bunker; varias testemunhas foram utilizadas para indicar a entrada. De acordo com Elena Rzhevskaya, interprete da SMERSH [Serviço soviético de contra-espionagem cuja sigla significava “Morte aos espiões], eles entraram por uma rampa na Rua Vosstrasse, e encontraram um enorme bunker cheio de feridos. Passando por labirintos subterrâneos eles chegaram ao Fuhrerbunker. “As luzes estavam apagadas e tínhamos poucas lanternas [contou Elena Rzhevskaya] no chão estavam espalhados vários papeis, vidro quebrado, seringas, cigarros e até preservativos usados”.

FOTO DO CORREDOR PRINCIPAL DO BUNKER
Imediatamente as buscas sobre o paradeiro de Hitler foram iniciadas. Naquela data os russos já sabiam do suicídio do ditador; a informação foi passada ao comandante do 8° Exercito soviético do celebre general Chuikov, pelo general Hans Krebs, que havia tentado um cessar fogo no dia 1° de maio; no entanto não se sabia se aquela informação era confiável. Um dos primeiros soviéticos a entrar e inspecionar o bunker foi o comandante Polevoi. Ele declarou mais tarde que os primeiros corpos que viu foram os dos generais Krebs e Burgdorf, eles estavam no louge do corredor do bunker [No corredor em frente aos aposentos de Hitler] os dois homens estavam sentados diante de uma mesa, onde estavam espalhados em grande desordem copos e garrafas quebradas. Eles foram identificados graças aos documentos encontrados em seus uniformes. O depoimento do operador das maquinas de ar do bunker, Johannes Hentschel, que ficou no bunker até o momento da chegada dos soviéticos contraria a declaração de Polevoi:
“Nunca vi os corpos do General Krebs, nem do General Burgdorf ou do Coronel Schädle, mas suspeito que, àquela hora (duas e meia da manha de 2 de maio), eles já estivessem se suicidado, como prometido. Eu tinha fechado todas as numerosas portas existentes tanto na parte superior como na inferior da casamata. Havia uma razão técnica para isso. Se os russos nos atacassem com tanques ou fogo direto de artilharia sobre a torre de entrada, era muito importante que as portas estivessem fechadas, tendo em vista os efeitos provocados pelos arrebentamentos, sem falar na possibilidade de lançamento de granadas de mão, que poderiam rolar escada abaixo e explodir nos corredores. Afinal de contas, eles eram boa gente. Burgdorf bebia como um cabra; Krebs, apesar de ser mais reservado, não passava de um chato; Schädle, um sujeito decente, em termos de oficial SS.Era do tipo nervoso, ficava subindo e descendo aqueles degraus. Os três passaram as últimas horas bebendo juntos e cantando, como a história dos cisnes negros agonizantes.”

Rochus Misch declarou ter visto os corpos dos generais Krebs e Burgdorf no corredor do Fuhrerbunker, na madrugada de 1 para 2 de maio, e que os dois homens havia se matado com um tiro na cabeça. Misch viu pela última vez o Coronel Schädle caminhando com dificuldade na direção da Chancelaria do Reich, apoiado-se numa muleta e arrastando sua perna aleijada. É quase certo que Schädle tenha cometido suicídio em um dos cômodos da Chancelaria. O líder de um dos primeiros grupos de busca era o tenente-coronel Ivan Klimenko, comandante da seção de contra-inteligencia da SMERSH, do 79º corpo de carabineiros, Terceiro Exército de Choque. Klimenko chegou ao bunker no dia 2 de maio, onde encontrou o corpo de Josef Goebbels.


ACIMA OS CORPOS DE JOSEPH E MAGDA GOEBBELS; ABAIXO OS DOIS CORPOS CARBONIZADOS ENCONTRADOS PELOS SOVIETICOS

O cadáver de Goebbels e sua esposa foram os primeiros a serem encontrados no járdim da chancelaria. No protocolo concernente a descoberta da família Goebbels está registrado o seguinte:
“A 2 de maio de 1945, no centro de Berlim, no bunker da chancelaria alemã, o Tenente-coronel Klimenko e os majores Bystrov e Khassin descobriram na presença de cidadãos de Berlim – os alemães Lange, Wilhelm, cozinheiro da chancelaria e Schneider, Karl, mecânico chefe da garagem da chancelaria – a poucos metros da porta de entrada, as 17 horas, os cadáveres parcialmente queimados de um homem e uma mulher, o cadáver do homem era de pequena estatura, o pé torcido da sua perna direita (pe torto) estava dentro de um aparelho metálico parcialmente carbonizado; no cadáver foram encontrados restos de um uniforme do partido NSDAP e um distintivo do partido de ouro, chamuscado, junto ao corpo carbonizado da mulher foi descoberta uma cigarreira de ouro e no cadáver um distintivo do partido em ouro.

CIGARREIRA DE OURO CARBONIZADO ENCONTRADO JUNTO AO CORPO DE MAGDA GOEBBELS
Junto a cabeça dos dois cadáveres estavam duas pistolas Walther Nº 1 danificadas pelo fogo. A 3 de maio do mesmo ano o líder de pelotão do serviço de contra espionagem SMERCH 207º divisão de carabineiros, tenente-superior Iliyn, encontrou num quarto isolado do bunker da chancelaria os cadáveres de crianças com idades que iam de três a 14 anos, estendidos em suas camas.”
OS CORPOS DOS SEIS FILHOS DE GOEBBELS E O CORPO CARBONIZADO DE MAGDA GOEBBELS
Klimenko encontrou os corpos do general Burgdorf, do general Krebs e dos seis filhos de Goebbels:
- “As seis crianças estavam deitadas em suas camas, vestidas com suas camisolas. Os lábios estavam roxos indicando claramente que tinham sido envenenados”, declarou pouco depois. Klimenko redigiu então um relatório dos acontecimentos:

Seção de contra-inteligencia da SMERSH;
79º corpo de carabineiros;
Terceiro Exército de Choque.

Depois de o 79º corpo de carabineiros ter ocupado o edifício do parlamento, o meu destacamento foi acantonado na prisão Plotzensee; membros das forças armadas alemãs feitos prisioneiros na área do parlamento e da chancelaria eram para lá encaminhados. Naturalmente, nos os inquiríamos acerca do destino do reich fascista, em particular sobre Hitler e Goebbels. Alguns deles disseram ter ouvido falar do suicídio de Hitler e Goebbels na chancelaria. A 2 de maio eu resolvi pegar quatro testemunhas e ir de carro com elas a chancelaria. Era pela tarde e chovia. Subi num jipe, as testemunhas e os soldados em um caminhão do exercito. Seguimos para a chancelaria, passamos pelo jardim e chegamos a saída de emergência do Fuhrerbunker. Quando nos aproximávamos desta saída um dos alemães gritou:
- “Aquele e o cadáver de Goebbels! Aquele outro e o de sua esposa!”
Resolvi levar estes dois cadáveres conosco. Como não tínhamos padiola, pusemos os cadáveres numa porta arrancada, colocamo-los no caminhão (era um veiculo coberto) e voltamos a Plotzensee. No dia seguinte, 3 de maio de 1945, os cadáveres dos seis filhos de Goebbels e o cadáver do general Krebs foram encontrados no bunker. Também foram levados para Plotzensee. Mais tarde, alguns generais e oficiais dos estados maiores do 3º Exército de Choque e da 1º frente Bielo-russa chegaram juntamente com os correspondentes de guerra soviéticos Martin Merjanov e Boris Garbatov. Começou então o processo de identificação.
SOVIETICOS PROCEDENDO COM A IDENTIFICAÇÃO DOS CORPOS DOS FILHOS DE GOEBBELS E DO GENERAL KREBS.

Isto foi feito da seguinte maneira: O corpo de Goebbels foi colocado em uma sala em cima de uma mesa, os corpos de sua esposa e filhos e o do general Krebs foram colocados no chão. As testemunhas foram mantidas numa outra sala. A primeira a entrar foi o vice almirante Voss, representante do grande almirante Donitz no quartel general do Fuhrer; fora capturado por membros da seção de contra espionagem do 3º exercito de choque. Sem hesitação ele identificou Goebbels e seus filhos. Outras testemunhas fizeram o mesmo. Naquela tarde, um outro grupo de soldados encontrou junto com outros cadáveres dentro de uma das fontes de água no jardim da chancelaria, o corpo de um homem muito parecido com Hitler. Orgulhosos expuseram o “corpo de Hitler” no hall principal da chancelaria.

Tenente-coronel [assinado] Ivan Klimenko

Klimenko não estava convencido de que o cadáver encontrado era de Hitler de modo que mandou chamar varias testemunhas para identificar o corpo. Um diplomata soviético, que em outra ocasião esteve com Hitler, estava a caminho para auxiliar na identificação. Naquele mesmo dia, enquanto aguardava as testemunhas, Klimenko voltou ao jardim da Chancelaria, acompanhado de um soldado chamado Ivan Churakov. Klimenko observava enquanto Churakov mexia em uma cratera há cerca de 4 ou 6 metros da saída do bunker cheia de panzerfausts e papel queimado, quando de repente o soldado gritou:

- “Camarada tenente-coronel! Há pernas aqui!”

Começaram a cavar e puxaram os corpos, não totalmente queimados, de um homem, uma mulher e dois cachorros sendo um pastor alemão e um filhote. Na opinião de Klimenko aquele não era um achado muito promissor, então mandou que os corpos fossem embrulhados novamente nos cobertores e colocados de volta onde estavam. Afinal ao que tudo indicava o corpo de Hitler já tinha sido encontrado e estava exposto no hall apenas aguardando o reconhecimento de testemunhas.
LOCAL ONDE O CORPO DE HITLER E EVA BRAUN FOI ENCONTRADO
SOLDADOS SOVIETICOS MOSTRANDO A SOLDADOS BRITANICOS O LOCAL ONDE O CORPO DE HITLER FOI ENCONTRADO. E POSSÍVEL VER AS LATAS DE COMBUSTIVEL USADAS PARA QUEIMAR OS CORPOS.

Todas as testemunhas chamadas negaram que o corpo era de Hitler, inclusive o diplomata soviético que declarou:
- “Podem enterrá-lo tranquilamente, não é Hitler!”.
Mais tarde descobriram que o corpo encontrado era de um sósia de Hitler. O ditador alemão possuía três sósias que a cerca de 8 metros de distancia eram muito parecidos com ele. O corpo que acreditavam ser de Hitler tinha um furo de bala na testa e meias costuradas [ninguém acreditava que Hitler usaria meias costuradas] além de ser cinco centímetros mais baixo que o Fuhrer.
CADAVER DE GUSTAV WELER - UM DOS SOSIAS DE HITLER USADO PARA DESPISTAR A INVESTIGAÇÃO

O cadáver do “sósia” foi enviado a Moscou para análise e descobriram que o corpo era de um político alemão chamado Gustav Weler, executado com um tiro na testa, não se sabe a mando de quem. Acredita-se que tenha sido executado no dia 30 de abril com o objetivo de confundir o paradeiro de Hitler. De acordo com os arquivos soviéticos, o corpo de Gustav Weler foi enterrado em um cemitério dentro da prisão Lefortovo em Moscou. As buscas foram então retomadas.


CADAVER DA CADELA DE HITLER, BLONDI.

SOLDADOS SOVIETICOS ENCONTRAM OS RESTOS MORTAIS DE HITLER NO TERRENO DA CHANCELARIA

RECIPIENTES ONDE ESTAVA A GASOLINA UTILIZADA PARA QUEIMAR OS CORPOS
No dia 5 de Maio Klimenko correu de volta ao jardim da Chancelaria, acompanhado dos soldados Oleinik e Serroukh, e começou a cavar na mesma cratera do dia anterior até chegar aos corpos encontrados por Ivan Churakov, que ele havia desconsiderado. Os restos estavam totalmente carbonizados e reduzidos a cinzas:
“O corpo estava sob um cobertor que ainda fumegava, o rosto estava carbonizado, o maxilar estava terrivelmente posicionado ao lado da cabeça”, disse um dos soldados que exumou o corpo.

Outro soldado soviético que também estava presente na exumação declarou:
“Com certeza se tratava do Fuhrer, o corpo encontrava se bastante carbonizado, mas a cabeça estava intacta. Embora a parte de trás estivesse estraçalhada pelo disparo, os dentes do maxilar haviam sido desalojados e posicionavam se ao lado da cabeça.”

Além do crânio de Hitler [parte dele] foram encontrados a sua arcada dentária completa, uma cruz de ferro, EK1 [Eisermes Kreuz] que é uma condecoração de guerra prussiana de categoria 1, a mesma que Hitler sempre utilizava, a prótese dentária de Eva Braun e vários restos de ossos carbonizados. Klimenko recebeu depois a medalha de Herói da União Soviética, por ter encontrado os restos mais importantes do terceiro reich. O relatório que esta nos arquivos soviéticos diz o seguinte:

Berlim;
Exército da ativa.

No dia 5 de maio de 1945, na cidade de Berlim, nas vizinhanças da Chancelaria do Reich de Hitler, não longe do local onde foram encontrados os corpos de Goebbels e sua esposa, junto ao abrigo particular de Hitler, eu, tenente da guarda Alexei Panasov e os soldados Ivan Churakov, Eugeny Oleynik e Ilya Seroukh, descobrimos e removemos dois corpos queimados de um homem e uma mulher. Os corpos estavam bastante danificados pelo fogo e não podiam ser identificados sem dados adicionais. Foram encontrados numa cratera de bombas, a três metros da entrada do abrigo de Hitler, cobertos por uma camada de terra. Novas escavações na cratera revelaram a presença de dois cães mortos. um alsaciano e um filhote.Também descobrimos e removemos dois cães mortos. Os dados de identificação dos cães são o seguintes:

1. Uma cadela alsaciana com pelo cinza escuro, grande, com uma coleira formada de pequenos elos em redor do pescoço. Na carcaça não havia ferimentos ou sangue.

2. Um macho novo de pelo preto, sem coleira sem ferimentos, osso do maxilar superior partido, traços de sangue nas vias respiratórias.

As carcaças dos cães foram encontradas na cratera de bomba, a pouca distancia uma da outra, coberta por uma leve camada de terra. Há elementos pára supor que os cães foram mortos há cinco ou seis dias, pois as carcaças ainda não exalavam mau cheiro e o pelo esta intacto. Com o objetivo de encontrar objetos que possam ajudar a estabelecer a identidade dos proprietário dos cães e causas das mortes, escavamos e examinamos todo o solo do local onde foram encontrados os cães, e descobrimos o seguinte:
1. Duas ampolas de vidro de cor escura do tipo usado para drogas.
2. Paginas soltas e queimadas de livros impressos e pedacinhos de papel escritos a mão.
3. Um medalhão de metal de formato elíptico, numa corrente fina de dezoito a vinte centímetros de comprimento, uma inscrição gravada no reverso com os dizeres: “Tenha-me sempre a teu lado”
4. Seiscentos marcos alemães em cédulas de cem marcos
5. Uma etiqueta de metal, de formato elíptico e tendo o numero 31907

Assinado:
Capitão Deryabin,

Tenente da guarda Panasov,

Sargento Tsibochkin,

Soldados Alabudin, Kirillov, Korshak, Gulyaev.


FOTOGRAFIA DA ENTRADA DO BUNKER. EM PRIMEIRO PLANO ESTA UMA PARTE DA CRATERA ONDE OS CORPOS FORAM ENCONTRADOS - FOTO TIRADA EM 1945
FOTOGRAFIA TIRADA EM 1947
FOTOGRAFIA AEREA DO TERRENO DA CHANCELARIA EM MAIO DE 1945
DESENHO FEITO PELOS SOLDADOS SOVIETICOS SOBRE O LOCAL DA LOCALIZAÇÃO DOS CORPOS
O cadáver do primeiro cão se tratava da cadela de Hitler, Blondi. O exame no cadáver de Blondi não revelou ferimentos, apenas à análise química do seu intestino confirmou o envenenamento por cianureto. O cadáver do segundo era de um dos cães de Eva Braun, chamado de Wolf. No corpo do filhote foram encontradas varias marcas de tiros no tórax e um ferimento letal na cabeça [disparado de cima para baixo] com grande perda de materia encefalica. Também foi encontrado vestígios de cianureto no cadáver do filhote. Os legistas soviéticos definiram a morte de Wolf da seguinte maneira: “O animal foi forçado a ingerir veneno, e durante a sua agonia foi alvejado por disparos de arma de fogo”.
A intensa busca pelo corpo de Hitler levou o Exército Vermelho a encontrar, somente no jardim da Chancelaria, os restos mortais, em alguns casos apenas partes, dos corpos de aproximadamente treze pessoas. O bombardeio russo contra o jardim da Chancelaria nas ultimas horas das hostilidades havia sido tão intenso que a maior parte dos corpos havia explodido em pedaços que se espalharam por uma grande área. Eram tantos os fragmentos que os russos fizeram uso de peneiras para recolhê-los. Havia dois tipos de peneiras: uma com arame mais grosso, semelhante à cerca de galinheiro, e outra mais fina semelhante às usadas em jardins e hortas, de modo que toda a terra tinha de ser passada pelas duas peneiras.

SOLDADOS ALIADOS ANALISAM O SOFÁ ONDE HITLER SE MATOU
Em Junho de 1945, o tenente-coronel Wilfred-Jones recebeu permissão para entrar no bunker, era a primeira vez que um aliado ocidental entrava no local. Jones recordou mais tarde:

“Meu amigo russo e eu examinamos o sofá onde Hitler cometeu suicídio. Os sinais indicavam que alguém sentado no canto havia cometido suicídio com arma de fogo, porque o sangue tinha escorrido pelo braço do sofá e pingado no chão, onde havia manchas escuras. Na parede havia diversas manchas de sangue, como se uma cabeça ferida tive se encostado nela”.



MANCHAS DE SANGUE NO BRAÇO DO SOFA ONDE HITLER SE MATOU

Também foram encontrados perto do sofá, onde Hitler e Eva Braun cometeram suicídio, os invólucros de latão que eram usados para armazenadas as ampolas de cianureto. Muitas testemunhas contrariam a versão de que Hitler se matou com um tiro na boca, dizendo que o mesmo, disparou contra a sua temporã direita.



SOFA ONDE HITLER COMETEU SUICIDIO. E POSSIVEL VER O SANGUE QUE ESCORREU PELO BRAÇO DO SOFÁ

Porem a dois indícios de que Hitler realmente disparou a arma dentro da boca: o primeiro indicio é uma conversa, que de acordo com as testemunhas aconteceu provavelmente entre os dias 27 e 29 de abril de 1945, em que estavam presentes as secretarias de Hitler, Traudl Junge, Gerda Crhistiam e sua amante Eva Braun. Eles discutiam tranquilamente “a melhor forma de se matar”. Segundo as memórias de Traudl Junge, Hitler teria dito:
- “O melhor e disparar a arma dentro da boca, o crânio estoura e a morte é instantânea.”
O segundo indicio é na verdade é uma observação forense delineada pelos legistas soviéticos que observaram pequenas fraturas nos ossos do maxilar e da mandíbula de Hitler [ver mais adiante no laudo da autopsia] que provavelmente foram causadas pela pressão da deflagração da arma dentro da boca. No entanto esse indicio é o mais frágil de todos uma vez que o corpo do ditador foi exposto as chamas e ficou durante vários dias enterrado em um terreno que havia se tornado alvo constante da artilharia soviética. Aquelas fraturas, no maxilar e na mandíbula, poderiam ter sido causadas por inúmeros fatos além dos acima expostos.
Klimenko estava certo de que os corpos recentemente encontrados eram de fato de Hitler e de sua esposa Eva Braun. Em um relatório publicado por ele na Alemanha em 1968, relatou que o capitão Deryabin e um motorista envolveram em lençóis os cadáveres que foram transportados para o quartel-general do Terceiro Exército de Choque, onde foram informados de que deveriam transportar os corpos para o 496º Hospital de campo, na base da SMERSH, em Berlin-Buch na extremidade nordeste de Berlim. La encontraram a comissão de autopsias composta por:

Dr. N. A. Kraevski;
Dra. Anna yakovlevna Marante;
Dr. Boguslavski;
Dr. Yulli Valentinovitch Gulkevitch;
Sob a direção do medico legista geral:
Dr. Faust Iosifovitch Chkaravski;


DR. FAUST IOSIFOVITCH CHKARAVSKI O CHEFE DA EQIPE DE AUTOPSIAS

Os corpos foram numerados de 1 a 13, e a seqüência das dissecações foi à seguinte:

7 de maio de 1945
- Cinco filhos de Joseph Goebbels: Heda, Heide, Holde, Helga, Hilde.
- Os cachorros de Hitler: Blondi e Wolf.

8 de maio de 1945
- Filho de goebbels Helmunth
- Eva Braun
- Adolf Hitler

9 de maio de 1945
- Joseph Goebbels
- Magda Goebbels
- General Krebs


LOCAL ONDE FORAM REALIZADAS AS AUTOPSIAS

O trabalho dos peritos foi mais simples quando chegou à vez dos filhos de Goebbels e do general Hans Krebs, pois seus corpos não estavam danificados. A evidência medica, consequentemente contraria a afirmação que prevalece nos escritos históricos do ocidente de que o general Hans Krebs, se suicidou com um tiro; na verdade esta e uma afirmação totalmente falsa, Krebs se matou ingerindo cianureto apenas. Os laudos das autopsias numeradas de 1 a 13 estão a seguir reproduzidos na integra:

DOCUMENTO Nº 1
Concernente ao exame médico-legal do cadáver de uma menina desconhecida, aparentando aproximadamente 15 anos (uma filha de Goebbels?)

7.V.1945, Berlin-Buch
Necrotério hospital de campanha para cirurgia nº 496


A DIREITA HELGA GOEBBELS AINDA VIVA. A ESQUERDA HELGA GOEBBELS NA MESA DE AUTOPSIA

A comissão constituída pelo perito-chefe, medicina legal, 1º frente Bielo-russa, Serviço medico, tenente-coronel F.I. Shkaravski; anatomista-chefe, exercito vermelho, serviço medico, Tenente-coronel N. A. Krayevski; anatomo-patologista, chefe em exercício,1º frente Bielo-russa, Serviço medico, Major A.Y. Marants; perito militar, medicina legal, 3º exercito de choque, serviço medico, Major Y. I. Boguslavski; anatomo-patologista do 3º exército de choque, Major, Y. V. Gulkevitch, por ordem do membro do conselho militar da 1º frente Bielo-russa, Tenente-General Telegrin, realizamos em 3 de maio de 1945 o exame médico-legal de uma menina desconhecida (provavelmente o cadáver de uma filha de Goebbels.)

RESULTADO DO EXAME

A. EXAME EXTERNO

O cadáver e de uma menina aparentando ter cerca de 15 anos de idade, bem nutrida, vestida numa camisola azul-escuro enfeitada com rendas. Altura: 1,58m. Medida do tórax na altura do bico dos seios: 65 cm. Coloração da epiderme e das membranas mucosas visíveis, rosa claro com matrizes azulados. Nas costas manchas vermelhas de lividez da morte com matrizes azuladas que não desaparecem ao exercer pressão. Unha dos dedos azulada. Na região da omoplata e das nádegas, a pele devido a pressão esta bastante pálida. Descoloramento verde sujo na pele abdominal, devido a putrefação. Rigidez cadavérica perceptíveis apenas nas articulações dos pés. Forma da cabeça alongada, inclinada lateralmente. Cabelos compridos louro-escuro, trançados, formato da face oval, apontando para o queixo. Testa levemente recuada. Cor das sobrancelhas louro-escuro, pestanas longas. Cor da íris azul. Nariz reto, regular, pequeno, olhos fechados. Conteúdo sangüíneo da conjuntiva bastante aumentada. Ossos nasais e as cartilagem parecem inalterados ao tato. As fossas nasais e os canais auditivos externos desobstruídos. Boca fechada, ponta da língua presa entre os dentes. Ao virar o corpo e pressionando a caixa torácica, excreção de soro sangüíneo da boca e nariz do corpo e emanação de um cheiro fraco de amêndoas amargas. A boca contem 28 dentes: 8 incisivos, 4 caninos, 8 pré-molares, 8 molares. As mandíbula superior e inferior tem 14 dentes cada. Nenhum defeito no esmalte. Na boca, entre os lábios e as bochechas, a extremidade de uma ampola de vidro azulado com um pequeno ponto vermelho no centro e vários estilhaços de vidro da parede da ampola que foram encontrados. Caixa torácica normalmente desenvolvida, glândulas mamarias pequenas, nenhum pelo axilar perceptível. Abdome raso. Órgão genitais externos normalmente desenvolvidos. Lábios maiores e monte de vênus cobertos de pelos ate a borda superior da sínfise. Hímen anular. Ao tato, os ossos das extremidades não parecem danificados. Os pés nas articulações, consideravelmente distendidos. Nenhum sinal de uso de violência na superfície do corpo.

B. EXAME INTERNO

Órgãos torácicos e abdominais em suas posições normais. O pericárdio contem aproximadamente duas colheres de chá cheias de fluido seroso claro. Nas superfícies posterior e anterior de ambos os pulmões e também entre os lobos acima da pleura, numerosas hemorragias de tamanho variável, de 1,5 mm a 3 mm de diâmetro são observadas. Ambos os pulmões são vermelhos na superfície externa, vermelho-escuros na superfície interna, e esponjosos ao tato. Pressionando, a superfície de corte de ambos os pulmões segregam pequena quantidade de um liquido espumosos vermelho escuro. A membrana mucosa do aparelho respiratório superior e vermelho escura. O coração e do tamanho do punho direito do cadáver. Peso do coração 200g, nos ventrículos cardíacos sangue, liquido escuro. O músculo cardíaco tem consistência flácida. Espessura da parede do ventrículo direito 0,3 cm, do ventrículo esquerdo 0,6 cm. Válvulas cardíacas finas e transparentes. Artérias pulmonares desobstruídas. Revestimento da aorta macio e brilhante. Peritônio macio e brilhante. Presente cerca de duas colheres de sopa cheias de fluido peritoneal livre. Revestimento da membrana mucosa do esôfago azulado. O estomago contem aproximadamente 200 cm³ de uma substancia amarelada tipo alimento. Pregueado da membrana mucosa do estomago distendido. Conteúdo dos intestinos típico. Membrana mucosa do intestino delgado e do colon algo pálida. As dimensões do fígado 22 x 11 x 13 x 9 cm; fígado bem suprido de sangue, de firmeza normal, estrutura algo esmaecida. A vesícula biliar contem cerca de 20 cm³ de bílis amarelada; sua membrana mucosa e granulada. O canal biliar esta desobstruído. O pâncreas esta no estado de maciez pos-mortem. As medidas do baço são 10 x 5,5 x 2 cm. Cápsula do baço enrugada, a superfície de corte vermelho escura de ginja, flácida (resultado da putrefação). Glândulas supra-renais pálidas e amaciadas. Ambos os rins são de irregular dimensões 9,5 x 5 x 3 cm, suas cápsulas facilmente descartáveis, a superfície e macia, a estrutura esmaecida na superfície de corte (efeito da putrefação). Membrana mucosa da região renal pálida. Útero firme, 4 cm de comprimento, na altura das trompas de falópio 3 x 2 cm de largura. Orifício externo em forma de ranhura, fechado. Na cavidade uma pequena quantidade de muco, membrana intra-uterina pálida. Nenhuma alteração notável nos ovários e nas trompas de falópio. Ossos do crânio intactos, vasos da dura matêr algo obstruídos; no seio transverso uma pequena quantidade de liquido sangüíneo. Obstrução acentuada dos vasos sanguíneos das meninges. Matéria encefálica exala acentuado cheiro de amêndoas amargas. Os ventrículos cerebrais contem uma pequena quantidade de fluido claro. O plexo vascular e bem suprido de sangue.

Retido para exame médico-legal:

1) Vaso – Seção do estomago com conteúdo
2) Vaso – Seções do intestino delgado e do colon com conteúdo.
3) Vaso – Seções dos pulmões, coração, fígado, baço e rins.
4) Vaso – Seção do cérebro.
5) Tubo de ensaio com sangue.

Os objetos enumerados, sem adicionamento de preservativos, foram entregues em 7/5 para teste de veneno ao laboratório de campanha Medico-epidemiologico nº 291.

Nota:

Objeto anexo ao documento: Tubo de ensaio com estilhaços de vidro de uma ampola que foi encontrada na boca do corpo.

Assinaturas da comissão:

Assinado (Shkaravski)
Especialista chefe, medicina legal
1º frente Bielo-russa, serviço Medico,
Tenente-Coronel

Assinado(Krayevski)
Anatomo-patologista, chefe, serviço medico, Exercito vermelho, tenente-coronel.

Assinado (Boguslavski)
Especialista-militar, medicina legal,
3º exercito de choque, serviço medico major.

Assinado (Gulkevitch)
Anatomo-patologista militar
3º exercito de choque, serviço medico, Major.

CONCLUSÃO

Baseada na autopsia médico-legal do cadáver de uma menina de cerca de 15 anos e no teste químico-legal dos seus órgãos internos, a comissão chegou a seguinte conclusão:

1 - A autopsia não revelou ferimentos ou mudanças patológicas que pudessem ter causado a morte da menina.
2 - Foram encontrados na boca, estilhaços de uma ampola de vidro esmagada; ao abrir o corpo foi notado um cheiro acentuado de amêndoas amargas e o exame químico dos órgãos internos determinou a presença de compostos de cianeto.
3 - A conclusão alcançada e, portanto, que a morte da menina de 15 anos foi causada por envenenamento com compostos de cianeto.

Assinaturas da comissão.

Assinado (Shkaravski)
Especialista chefe, medicina legal.
1º frente Bielo-russa, serviço Medico,
Tenente-Coronel

Assinado (Krayevski)
Anatomo-patologista, chefe, serviço medico, Exercito vermelho, tenente-coronel.

Assinado (Marants)
Anatomo-patologista, chefe em exercício,
1º frente Bielo-russa, serviço medico,
Major

Assinado (Boguslavski)
Especialista-militar, medicina legal,
3º exercito de choque, serviço medico major.

Assinado (Gulkevitch)
Anatomo-patologista militar
3º exercito de choque, serviço medico, Major.


DOCUMENTO Nº 3
Concernente ao exame médico-legal do cadáver de um cão pastor alemão

Berlin-buch 7.V.1945
Necrotério hospital de campanha para cirurgia nº 496

A comissão constituída pelo perito-chefe, medicina legal, 1º frente Bielo-russa, Serviço medico, tenente-coronel F.I. Shkaravski; anatomista-chefe, exercito vermelho, serviço medico, Tenente-coronel N. A. Krayevski; anatomo-patologista, chefe em exercício,1º frente Bielo-russa, Serviço medico, Major A.Y. Marants; perito militar, medicina legal, 3º exercito de choque, serviço medico, Major Y. I. Boguslavski; anatomo-patologista do 3º exército de choque, Major, Y. V. Gulkevitch, por ordem do membro do conselho militar da 1º frente Bielo-russa, Tenente-General Telegrin, realizamos em 3 de maio de 1945 o exame médico-legal de um cão pastor alemão.

RESULTADOS DO EXAME:

A. EXAME EXTERNO

Cadáver de um cão grande (fêmea). Raça: Pastor alemão. Cor do pelo: Cinza-escuro nas costas, cinza claro no peito. Manchas negras no focinho. Cauda moderadamente felpuda. Comprimento do cadáver da protuberância occipital a junta da cauda: 91 cm. Dentes brancos, pontas dos dentes caninos algo gastas. Tetas cinza, bem desenvolvidas, nenhuma segregação ao pressionar. Na membrana mucosa da língua foram encontrados dois estilhaços de uma ampola de vidro de paredes finas: Parte do fundo da ampola e da parede. Estilhaços menores com arestas vivas foram encontrados na membrana do palato, muco dentro do sangue do focinho. Hemorragias em torno dos estilhaços.
Não foram observados outros ferimentos no cadáver do cachorro; ao tato, os ossos longitudinais parecem intactos.

B. EXAME INTERNO

Posição dos órgão internos normal, suprido de sangue normal. Nos cardíacos e nos grandes vasos sanguíneos grandes coágulos vermelhos de sangue livres. Quando da abertura percebeu-se um acentuado cheiro de amêndoas amargas. O estomago e os intestinos contem quantidade considerável de alimento semi-digerido com desagradável cheiro azedo. Dez cm³ de sangue foram retirados e colocados num tubo de ensaio para teste químico;coloca-se em vasos de vidro seções dos pulmões, do coração, do fígado, dos rins, do baço, do estomago e dos intestinos. Os objetos numerados, sem adição de preservativos, foram entregues ao laboratório de campanha medico-epidemiologico nº 291 para teste químico-legal de presença de compostos de cianeto e venenos básicos.

Assinaturas da comissão

Assinado (Shkaravski)
Especialista chefe, medicina legal
1º frente Bielo-russa, serviço Medico,
Tenente-Coronel

Assinado(Krayevski)
Anatomo-patologista, chefe, serviço medico, Exercito vermelho, tenente-coronel.

Assinado (Boguslavski)
Especialista-militar, medicina legal,
3º exercito de choque, serviço medico major.

Assinado (Gulkevitch)
Anatomo-patologista militar
3º exercito de choque, serviço medico, Major.

CONCLUSÃO

Baseada no exame médico-legal do cadáver de um pastor alemão e no exame químico-legal dos órgão internos, a comissão chegou as seguintes conclusões:
1 - A dissecação não revelou ferimentos ou alterações patológicas que pudessem ter causado a morte do cachorro.
2 - Na membrana mucosa do focinho e da língua foram encontrados estilhaços de uma ampola de paredes finas, a dissecação do cadáver liberou cheiro de amêndoas amargas e no teste químico-legal foi confirmada a presença de compostos de cianeto nos órgão internos.
3 - Concluímos, portanto, que a morte do cachorro foi causada por envenenamento por compostos de cianeto

Assinaturas da comissão

Assinado (Shkaravski)
Especialista chefe, medicina legal.
1º frente Bielo-russa, serviço Medico,
Tenente-Coronel

Assinado (Krayevski)
Anatomo-patologista, chefe, serviço medico, Exercito vermelho, tenente-coronel.

Assinado (Marants)
Anatomo-patologista, chefe em exercício,
1º frente Bielo-russa, serviço medico,
Major

Assinado (Boguslavski)
Especialista-militar, medicina legal,
3º exercito de choque, serviço medico major.

Assinado (Gulkevitch)
Anatomo-patologista militar
3º exercito de choque, serviço medico, Major.

DOCUMENTO Nº 5

Concernente ao exame médico-legal do cadáver parcialmente carbonizado de um homem desconhecido (presumivelmente o cadáver de Goebbels)

9. V. 1945, Berlin-Buch
Hospital de campanha para cirurgia nº 496


CORPO DE JOSEPH GOEBBELS SENDO AUTOPSIADO

A comissão constituída pelo perito-chefe, medicina legal, 1º frente Bielo-russa, Serviço medico, tenente-coronel F.I. Shkaravski; anatomista-chefe, exercito vermelho, serviço medico, Tenente-coronel N. A. Krayevski; anatomo-patologista, chefe em exercício,1º frente Bielo-russa, Serviço medico, Major A.Y. Marants; perito militar, medicina legal, 3º exercito de choque, serviço medico, Major Y. I. Boguslavski; anatomo-patologista do 3º exército de choque, Major, Y. V. Gulkevitch, por ordem do membro do conselho militar da 1º frente Bielo-russa, Tenente-General Telegrin, realizou o exame medico-legal do cadáver parcialmente carbonizado de um homem desconhecido.

RESULTADOS DO EXAME

A. EXAME EXTERNO

Junto ao cadáver foram encontradas duas botas pretas de couro chamuscadas, com cadaços, a parte de trás da bota direita um pouco mais larga em relação a esquerda. Sua largura corresponde as medidas do aperelho ortopédico que foi enviado junto com o corpo. A braçadeira de metal 2 cm de largura e destinada a perna e tem duas fivelas anelares do mesmo metal que prendia entorno dos músculos da perna. A paret inferior da braçadeira consiste em couro com uma sola metalicaque se adpta ao pe direito do morto. Por baixo do cadáver foram encontradas peças de roupoas queimadas e uma pistola Walther nº 1 enegrecida pelo fogo. Outros objetos foram encontrados juntos ao cadáver: um pedaço chamuscado de lã preta com uma listra preta brilhante, como se usa sob a forma da guarnição preta estreita na costura externa de calças civis, as guarniçoies chamuscadas e parte da gola do uniforme amarelo-brilhante do NSDAP com forro de seda amarelo-ouro, pedaços chamuscados de uma camiseta branca com a marca da fabrica “4326, 3716, 381235, A. S. – 11797 APTD”. E um peito de camisa com a marca vermelha de lavanderia costurada a mão “4327-8”. Meias de seda escura parcialmente queimadas calçadas nos pés do cadáver, em torno do pescoço um fita de seda com um distintivo circular de metal ostentando a suastica e as iniciais NSDAP. O cadáver é o de um homem de estatura subnormal aparentando 45 a 50 anos de idade, seriamente carbonizado, que ficou na posição de boxador, com os braços estendidos e meio dobrados nas articulações dos cotovelos, pernas igualmente meio dobradas nas articulações dos joelhos, rosto e pescoço carbonizados (parte superior do pescoço mais carbonizada do lado direito); estão negros. Os lobos das orelhas estão conservados com petuberancias pequenas, carbonizadas e informes. Os contornos do crânio e da face conservaram a sua forma; os olhos estão fechados, algo afundados; o nariz e razoavelmente grande com uma pequena saliência na parte media da ponte e sua largura proporcional ao comprimento; boca semi-aberta, os dentes superiores grandes protraindo acentuadamente em relação aos inferiores (prognatismo). A testa e acentuadamente recuada, a face afiliada na direção do queixo pontudo.


CADAVER DE GOEBBELS

A circunferência do crânio na linha da protuberância occipital e do sulco supra-orbital e de 50 cm. Maior dimensão diagonal da protuberância occipital ao pescoço: 24 cm. Maior dimenção através da cabeça: 15 cm. Lateranmente o crânio e consideravelmente achatado (quase um dolicocéfalo). Cabelo faltando, queimado. Boca semi-aberta, lábios secos, pretos e carbonizados. Antebraço direito faltando, extremo do coto conservado, carbonizado, negro esmigalhando-se. Braço esquerdo e perna esquerda estão conservados, chamuscados, apresentam varias fissuras profundas no tecido da pele e os músculos chamuscados, desidratados. Também estão chamuscada a parede toraxica e a metade esquerda dos quadris. A coxa direita e parte da perna esquerda estão corbonizadas. Os órgãos genitais externos mantiveram o seu contorno, mas estão bastante reduzidos no tamanho, encolhidos, secos. A pele das duas pernas tem consistência apergaminhada, coloração marrom. A perna direita mede 33,5 cm da petuberancia externa do tornozelo ate a aresta superior da parte externa da epífise da tíbia; a perna esquerda mede 38 cm entre os mesmos pontos. A circunferência da perna direita na sua espessura máxima e de 18 cm, na esquerda, contudo, e de 27 cm. Se bem que a perna direita esteja carbonizada, a atrofia pronunciada comparada com a esquerda pode ser logo determinada.


CORPO DE JOSEPH GOEBBELS

O perímetro da coxa em torno da altura media: 35 cm; na esquerda, contudo, 43,5. O pé direito não foi alterado pela ação do fogo. Sua planta esta a tal ponto torcida para dentro que fica virtualmente em ângulo reto com o osso da perna. Em torno das articulações do pe há uma deformação acentuada, o pe esta encurtado e mais grosso. O pé esquerdo mede 21,5 cm, o direito, entretanto (comprimento maximo), 18 cm. O aparelho ortopédico que acompanha o cadáver e acima descrito corresponde axatamente a deformação do pé direito. Cavidade oral: Para preservar o rosto foi feita uma incisão cosmética abaixo do maxilar esquerdo inferior, de modo a permitir um exame detalhado da cavidade oral, especialmente do lado esquerdo.

Fatos assinalados: Em comparação com os externos especialmente os incisivos mandibulares, os incisivos maxilares internos são grandes. O primeiro incisivo maxilar direito sobrepõe-se um pouco ao segundo incisivo direito. O segundo pré-molar maxilar a esquerda tem uma obturação de ouro. O primeiro e o segundo molares-maxilares esquerdos tem cada um uma obturação de amalgama. As superfícies externa e interna dos outros dentes do maxilar inferior esquerdo, bem como os dentes do maxilar superior, não apresentam nenhum sinal característico. O segundo pré-molar e o primeiro molar abaixo estão separados por cerca de 5 mm. Entre os dentes da mandíbula inferior direita foi encontrado um estilhaço de vidro incolor fino, pertencente a uma ampola.

B. EXAME INTERNO

Os músculos do esqueleto e dos órgãos internos parecem cozidos e são de um vermelho cinza-palido. A posição dos órgãos internos nas caixas torácicas e abdominal e normal. Todos os órgãos tem consistência firme com exeção dos pulmões; o pulmão esquerdo, em particular, esta apenas moderadamente suprido de sangue e algo esponjoso. A dissecaçao dos pulmões liberou um cheiro fraco de amêndoas amargas. As cavidades pleurais não contem nenhum fluido, os pulmões estão desobistruidos e a coloração da superfície de corte e vermelho-escura. O coração contém algum sangue liquido escuro. O peritônio e macio, o fígado e firme, sewco, de coloração marron-acinzentada, contorno normal encolhido. Baço normal, cápsula enrugada, estrutura dos rins intacta. O apêndice vermiforme medindo 5 cm esta desobistruido, o estomago vazio, a membrana mucosa apresenta um pregueado acentuado. Bexiga vazia. Os intestinos contem uma pequena quantidade de matéria típica. Foi retirado para teste químico:

a) 10 cm³ de sangue num tubo de ensaio
b) Seções dos pulmões, o coração, o fígado, os rins e o baço foram colocados num vaso de vidro.
c) Seções do estomago e intestinos com conteúdo foram colocados num segundo vaso.


TUBO DE ENSAIO CONTENDO OS RESTOS DE UMA AMPOLA DE CIANURETO ENCONTRADA NA CAVIDADE ORAL DO CADAVER DE GOEBBELS. AO LADO A ARMA ENCONTRADA JUNTO AO CORPO

CONCLUSÃO

Baseada no exame externo e na autopsia do cadáver parcialmente queimado de um homem desconhecido e nos fatos assinalados no exame químico-legal dos órgãos internos, a comissão chega as seguintes conclusões.

1 - Características anatômicas do corpo:

O cadáver do desconhecido esta seriamente queimado, de modo que algumas das suas características peculiares estão apagadas. Para identificação da pessoa o seguinte deve ser levado em consideração:

a) Estatura – menor que a media
b) Idade entre 45 e 50 anos
c) Em conseqüência do encurtamento do osso da perna e da torção do pe em torno da articulação, a perna direita esta atrofiada e encurtada; isto explica a presença de um aparelho ortopédico para o pe direito e do sapato ortopédico direito.
d) Caracteristi9cas da cabeça: Lateralmente achatada, testa acentuadamente recuada, face pronunciadamente afilada na direção do queixo, nariz não muito grande com uma pequena saliência
e) De particular importância para a identificação e o estado dos dentes dos maxilares superior e inferior e o considerável numero de obturações.

Causa da morte:

O cadáver parcialmente queimado não apresenta sinais visíveis de ferimentos graves mortais ou de doença. Ao dissecar o corpo foi percebido o cheiro de amêndoas amargas; foram encontrados na boca estilhaços de uma ampola. O teste químico dos órgãos internos e do sangue evidencia a presensa de compostos de cianeto. A conclusão a que se tem de chegar e de que a morte do desconhecido foi causada por envenenamento por compostos de cianeto.

Assinaturas da comissão:

Assinado (Shkaravski)
Especialista chefe, medicina legal.
1º frente Bielo-russa, serviço Medico,
Tenente-Coronel

Assinado (Krayevski)
Anatomo-patologista, chefe, serviço medico, Exercito vermelho, tenente-coronel.

Assinado (Marants)
Anatomo-patologista, chefe em exercício,
1º frente Bielo-russa, serviço medico,
Major

Assinado (Boguslavski)
Especialista-militar, medicina legal,
3º exercito de choque, serviço medico major.

Assinado (Gulkevitch)
Anatomo-patologista militar
3º exercito de choque, serviço medico, Major.

DOCUMENTO Nº 6
Concernete ao exame medico-legal do cadáver parcialmente queimado de uma mulher desconhecida (Presumivelmente a mulher de Goebbels)

9.V.1945, Berlin-Buch
Necrotério, hospital de campanha para cirurgia nº 496

A comissão constituída pelo perito-chefe, medicina legal, 1º frente Bielo-russa, Serviço medico, tenente-coronel F.I. Shkaravski; anatomista-chefe, exercito vermelho, serviço medico, Tenente-coronel N. A. Krayevski; anatomo-patologista, chefe em exercício,1º frente Bielo-russa, Serviço medico, Major A.Y. Marants; perito militar, medicina legal, 3º exercito de choque, serviço medico, Major Y. I. Boguslavski; anatomo-patologista do 3º exército de choque, Major, Y. V. Gulkevitch, por ordem do membro do conselho militar da 1º frente Bielo-russa, Tenente-General Telegrin, realizou o exame medico-legal do cadáver parcialmente queimado de uma mulher dersconhecida (presumivelmente a mulher de Goebbels).

Resultados do exame:

A. EXAME EXTERNO

Juntamente com o cadaver, foram depositados no necrotério os restos de roupa queimada, entre eles um pedaço queimado de jérsei de cor café-amarelada. Também foram encontrados nas cinzas grampos metálicos para cabelo enegrecidos pelo fogo, um fecho de segurança, uma fivela e um distintivo metálico circular (cobre) com a suástica.

O cadáver e de uma mulher que aparenta de 30 a 40 anos de idade. Estatura (aproximada, devido a carboniuzação) 1, 56 cm, perímetro do tórax na altura do bico dos seios 66 cm. O exame do cadáver carbonizado não revelou sinais de deformação ou anormalidades significativas. Estado de nutrição: médio. O cadáver está seriamente queimado, virtualmente todo negro. Pelo marrom de consistência apergaminhada foi conservada apenas em certas partes do dorso, nas nádegas, no ombro direito, nas coxas e em uma perna. Os bordos da pele das partes mencionadas estão enegrecidos; a acentuadas fissuras nos tecidos da pele que alcançam os músculos profundeamente inseridos. Outras regiões da superfície do corpo estão queimadas em diferentes graus; os ossos parientais esquerdos do crânio e os da região temporal, bem como as costelas do lado direito, estão chamuscados. No crânio aberto e visível a matéria encefálica seca. No occipício e em parte da região temporal direita conserva-se o cabelo louro-avermelhado com comprimento maximo de 40 cm. Na mesma região foi encontrado um punhado de cabelo louro-avermelhado. O cabelo tinha muitos clipes para cabelo, bem como grampos comuns de metal. A face esta carbonizada, mas seu contorno esta conservado. O nariz, lábios, bochechas estão chamuscados. Foram encontrados na boca estilhaços de uma ampola de paredes fians de extremidade azul. Os maxilares parcialmente queimados, soltos na cavidade oral podiam ser prontamente retirados.


ARCADA DENTARIA DE MAGDA GOEBBELS

O maxilar superior tem 14 dentes, dos quais quatro são incisivos naturais e dois dentes caninos. O segundo pré-molar da esquerda e artificial e esta num suporte de ouro com uma ponte fixada ao primeiro pré-molar. O primeiro molar esquerdo tem uma pequena obturação, o segundo molar esquerdo, uma meia coroa e uma obturação, o primeiro pré-molar direito, uma obturação de ouro e o segundo molar, duas obturações de ouro. Maxilar inferior – a parte frontal de mandíbula esta completamente conservada, a seção vertical direita também esta conservada, à esquerda esta faltando. No maxilar inferior à quatro incisivos naturais, dois dentes caninos e os dois primeiro pré-molares; esses dentes são brancos, suas superfícies de mastigação moderadamente gastas. O segundo pré-molar da esquerda esta semi-encapado em ouro, o ultimo molar tem uma graqnde obturação. O primeiro pré-molar da direita esta muito gasto, e segundo pré-molar esta faltando. O primeiro molar direito esta faltando; uma fina plaqueta de ouro que mergulha na ponte de ouro e que coroa o segundo e terceiro molares direitos esta ali presa. A caixa torácica e de forma silíndrica, glândulas mamarias pequenas um pouco carbonizadas. Como resultado da combustão, há grandes defeitos na região axililar direito. Estomago razo, órgãos genitais externos carbonizados.

B. EXAME INTERNO

Posição dos órgãos torácicos normais. Pulmões desobstruídos. O pulmão direito consideravelmente encolhido, firme, consistente, chamuscado. O pulmão esquerdo esponjoso, de cor rosa-cinzenta (parece cozido), traquéia e brônquios encolhidos pela ação do fogo, sua membrana mucosa rosa-palida. O coração encolhido conserva seu contorno, os músculos parecem cozidos. Na cavidade do coração e nos grandes vazos cardíacos nota-se sangue vermelho espesso. Os órgãos abdominais estão nas posições normais. O peritônio e os órgãos estão secos e parecem cozidos. O fígado e firme, cozido. As cápsulas do baço enrugadas, superfície de corte vermelha. Estrutura dos rins conservadas. Estamago vazio, acentuado pregueamento da membrana mucosa. Os intestinos contem pequena quantidade de matéria típica, apêndice vermiforme conservado. Bexiga comprimida, vazia. Útero normal, em forma de pêra. Dimensões 7x4x3 cm, cavidade intra-uterina desobstruída. Todos os órgãos cheiram a queimado. O seguinte material foi tirado para teste químico:
1. dez cm³ de sangue (num tubo de ensaio)
2. seções dos pulmões, fígado, baço, rins, estômago e intestinos; tudo colocado num vazo.
Os objetos enumerados acima foram entregues sem preservativos adicionados ao laboratório de campanha médico – epidemiológico Nº 291 para teste químico – legal de presença de compostos de cianeto ou venenos básicos.

Anexo ao documento:

1 - tubo de ensaio com estilhaço de vidro de uma ampola de paredes finas com extremidade azul clara, foi retirada da cavidade oral do corpo.
2 - Uma pistola WALTHER Nº 1
3 - Um pedaço de camisa queimada
4 - Clips para cabelos carbonizados, um fecho de segurança e outros itens.
5 - Maxilar inferior com 12 dentes, entre eles três coroas de ouro.
6 - Maxilar superior com 14 dentes.
7 - Distintivo nazista.
8 - Porção de cabelo louro-avermelhado.
9 - Parte de uma peruca louro-avermelhada.

Assinaturas da comissão:

CONCLUSÃO

Baseada no exame médico-legal e na autopsia do cadáver de uma mulher desconhecida e nos fatos assinalados no exame médico-legal dos seus órgão, a comissão chegou as seguintes conclusões:

1 - características anatômicas do corpo:
Em conseqüência da combustão extensiva do corpo, as características externas da morta não podem ser descritas, mas o seguinte foi estabelecido:
a) Estatura: cerca de 156 cm (um metro e cinqüenta e seis centímetros)
b) Idade compreendida entre 30 e 40 anos
c) Cor do cabelo: louro avermelhado. Comprimento Maximo do cabelo disponível: até 40 cm. A morta usava uma peruca da mesma cor.
d) Estado de nutrição do corpo; médio
e) A descoberta mais significativa para uso na identificação da pessoa são os maxilares superior e inferior com números dentes artificiais, coroas e obturações.

2 - Causa da morte:

O cadáver carbonizado não apresenta nenhuma evidência visível de ferimento grave letal ou de doença. O teste químico legal dos órgão internos determinou a presença de compostos de cianeto. Na autopsia foram encontrados na boca estilhaços de uma ampola de vidro de paredes finas com a extremidade azul clara. A conclusão deve por tanto ser de que a morte da mulher desconhecida foi causada por envenenamento por compostos de cianeto.

Assinaturas da comissão:

Assinado (Shkaravski)
Especialista chefe, medicina legal
1º frente Bielo-russa, serviço Medico,
Tenente-Coronel

Assinado(Krayevski)
Anatomo-patologista, chefe, serviço medico, Exercito vermelho, tenente-coronel.

Assinado (Boguslavski)
Especialista-militar, medicina legal,
3º exercito de choque, serviço medico major.

Assinado (Gulkevitch)
Anatomo-patologista militar
3º exercito de choque, serviço medico, Major.

DOCUMENTO Nº 10
Concernente ao exame médico-legal do cadáver de um menino aparentando cerca de 12 anos de idade (Filho de Goebbels)

Berlin-Buch, 8.V.1945
Necrotério hospital de campanha para cirurgia nº 496.

A comissão constituída pelo perito-chefe, medicina legal, 1º frente Bielo-russa, Serviço medico, tenente-coronel F.I. Shkaravski; anatomista-chefe, exercito vermelho, serviço medico, Tenente-coronel N. A. Krayevski; anatomo-patologista, chefe em exercício,1º frente Bielo-russa, Serviço medico, Major A.Y. Marants; perito militar, medicina legal, 3º exercito de choque, serviço medico, Major Y. I. Boguslavski; anatomo-patologista do 3º exército de choque, Major, Y. V. Gulkevitch, por ordem do membro do conselho militar da 1º frente Bielo-russa, Tenente-General Telegrin, realizamos em 3 de maio de 1945 o exame médico-legal de um cadáver de um menino aparentando cerca de 12 anos de idade, presumivelmente o filho de Goebbels.

Resultados do exame

A. EXAME EXTERNO

O cadáver e de um menino aparentando cerca de 12 anos de idade; esta vestido num pijama de tecido branco com flores verde-azuis e vermelhas estampadas, roupa limpa. Altura 136 cm, perímetro do tórax 56 cm, perímetro do crânio na linha da petuberancia occipital e da cavidade supra-orbital 55 cm, constituição normal, bem nutrido. A cabeça e um pouco achatada lateralmente, coberta de cabelo louro escuro de comprimento Maximo de 20 cm. Face alongada, particularmente na direção do queixo. Forma do nariz regular, bem proporcionado. Olhos fechados, cor da íris cinzento-azulada. A boca tem 28 dentes, 14 em cada maxilar. Dentes brancos saudáveis. Os dentes superiores frontais um pouco petuberantes em relação aos inferiores. Na superfície externa dos dentes superiores um aparelho de arame para corrigir sua protusão por meio de um arco preso aos molares traseiros. Foram encontrados na boca vários estilhaços pequenos de uma ampola de vidro de paredes finas. Foram notados pequenos arranhões na língua e na membrana mucosa dos lábios. O muco oral e cor de sangue. Caixa torácica de forma cilíndrica. Abdome chato. Órgão genitais externos normalmente desenvolvidos, Nenhum pelo cobrindo o monte de Vênus e as axilas. Nas extremidades não foram notadas anormalidades. A cor da epiderme e das membranas mucosas visíveis e rosa. As superfícies posterior lateral do corpo apresentam manchas da lividez da morte avermelhadas que não desaparecem pressionando. Rigidez cadavérica mínima, subsistindo apenas nas extremidades inferiores. Fora os arranhões na boca acima mencionados, não foram encontrados no corpo nenhum ferimento. Os ossos longitudinais parecem incólumes ao tato.

A. EXAME INTERNO

Crânio sem sinais particulares, ossos do crânio intactos. Meninges e tecido encefálico um pouco tensos. Os vasos das meninges moles estão dilatados. Nos ventrículos do encéfalo uma pequena quantidade de fluido cor de palha. Estrutura do tecido encefálico típica, massa cinzenta bem separada da massa branca. Ao abrir o cérebro acentuado cheiro de amêndoas amargas. Posição dos órgãos torácicos e abdominais normal. Membranas serosas finas, brilhantes cor de rosa. As cavidades serosas contem pequena quantidade de fluido claro cor de palha. Pulmões livres, esponjosos; superfície de corte vermelha; pressionando a seção, exsuda abundante sangue liquido. Vias respiratórias desobstruídas, membranas mucosas rosa-claras. Ao abrir os pulmões, acentuado cheiro de amêndoas amargas. O coração e do tamanho do punho do menino morto e pesa 130g. Músculos cardíacos cor de carne, bastante firmes. Válvulas cardíacas finas, transparentes; o coração contém sangue liquido vermelho. O fígado pesa 800g, seu canto e afilado, firmeza normal, estrutura definida, abundante suprimento de sangue. O baço pesa 95g, superfície rugosa, cor de superfície de corte vermelho-palida. Peso de cada rim e de 75g, cápsula facilmente destacável, estrutura um pouco esmaecida. Estomago vazio, membrana mucosa de um vermelho sujo. Intestinos inchados, conteúdo típico, membrana mucosa pregueada, de coloração suja. A bexiga contem 10cm³ de urina clara. Em anexo, um tubo de ensaio com estilhaços de uma ampola de vidro que foram encontrados na cavidade oral.

OBSERVAÇÃO: Foi retirado o seguinte material para teste:

1. Tubo de ensaio com sangue cardíaco
2. Vaso de vidro com seções dos pulmões, fígado, rins e baço.
3. Vaso de vidro com parte do estomago, incluindo conteúdo.
4. Vaso de vidro com seções do intestino delgado e colon, incluindo conteúdo.
5. Vaso de vidro com partes do encéfalo

Todos os objetos enumerados foram enviados, através da seção SMERSH do 3º exercito de choque, ao laboratório de campanha Medico-epidemiologico Nº 292 para teste medico legal da presença de compostos de cianeto e venenos básicos.

Assinaturas da comissão:

Assinado (Shkaravski)
Especialista chefe, medicina legal
1º frente Bielo-russa, serviço Medico,
Tenente-Coronel

Assinado(Krayevski)
Anatomo-patologista, chefe, serviço medico, Exercito vermelho, tenente-coronel.

Assinado (Boguslavski)
Especialista-militar, medicina legal,
3º exercito de choque, serviço medico major.

Assinado (Gulkevitch)
Anatomo-patologista militar
3º exercito de choque, serviço medico, Major.

CONCLUSÃO

Baseada no exame médico-legal do cadáver do menino e no teste químico-legal dos seus órgãos internos, a comissão chega as seguintes conclusões:
1. A autopsia não revelou ferimentos ou mudanças patológicas que pudessem ter causado a morte do menino.
2. Foram encontrados na boca fragmentos de uma ampola de vidro esmagada; durante a dissecação foi notado forte cheiro de amêndoas amargas e o teste químico dos órgãos determinou a presença de compostos de cianeto.

Deve concluir-se que a morte do menino de aproximadamente 12 anos de idade foi causada por envenenamento por compostos de cianeto.

Assinaturas da comissão:

(Shkaravski)
Especialista chefe, medicina legal
1º frente Bielo-russa, serviço Medico,
Tenente-Coronel

Assinado (Krayevski)
Anatomo-patologista, chefe, serviço medico, Exercito vermelho, tenente-coronel.

Assinado (Marants)
Anatomo-patologista, chefe em exercício,
1º frente Bielo-russa, serviço medico,
Major

Assinado (Boguslavski)
Especialista-militar, medicina legal,
3º exercito de choque, serviço medico major.

Assinado (Gulkevitch)
Anatomo-patologista militar
3º exercito de choque, serviço medico, Major.

DOCUMENTO Nº 4
Concernente ao exame médico-legal do cadáver de um pequeno cachorro preto

7.V. 1945, Berlim-Buch
Necrotério, Hospital de campanha para cirurgia nº 496

A comissão constituída pelo perito-chefe, medicina legal, 1º frente Bielo-russa, Serviço medico, tenente-coronel F.I. Shkaravski; anatomista-chefe, exercito vermelho, serviço medico, Tenente-coronel N. A. Krayevski; anatomo-patologista, chefe em exercício,1º frente Bielo-russa, Serviço medico, Major A.Y. Marants; perito militar, medicina legal, 3º exercito de choque, serviço medico, Major Y. I. Boguslavski; anatomo-patologista do 3º exército de choque, Major, Y. V. Gulkevitch, por ordem do membro do conselho militar da 1º frente Bielo-russa, Tenente-General Telegrin, realizou o exame medico-legal e a autopsia de um pequeno cachorro preto.

Resultados do Exame:

A. EXAME EXTERNO

O cadáver e de um pequeno cachorro preto (fêmea) com o pelo longo, felpudo e cauda curta. O comprimento do cachorro da petuberancia occipital a articulação da cauda: 58 cm. Altura medida do ombro (ângulo superior da omoplata) as extremidades das patas: 28,5 cm. O focinho esta cheio de coágulos vermelhos de sangue. A cabeça apresenta uma ferida circular de bala de 1 cm de diâmetro (entrada do projétil) acima da orelha esquerda; a ferida de saída esta localizada na parte inferior do focinho entre os ramos do maxilar inferior, suas medidas são 1,2cm x 1,5; a ferida de saída e dilacerada (tiro perfurante). O percurso da bala que liga os dois orifícios passa pelo crânio formando uma fratura aberta na metade esquerda da mandíbula inferior, em direção a cavidade oral. O ferimento esta cercado de hemorragias. Não foram encontrados objetos estranhos no focinho. No abdome a esquerda e a direita da caixa toraxica, percebse dois orifícios de 2cm de diâmetro causado por um projétil.

B. EXAME INTERNO

O percurso da bala passa através da cavidade abdominal, produzindo no fígado um rasgo em forma de estrela. A cavidade abdominal contem perto de 400 cm³ de liquido sanguíneo. Durante a dissecação, notou-se o tipicamente desagradável cheiro de cachorro. Posição dos órgãos internos normal, nenhum sinal visível de mudança estrutural. Quantidade de sangue reduzida, sangue de coloração rosa. Para o teste químico-legal, foram retirados e colocados num vaso seções do fígado, coração, rins, baço, Pulmões, estomago e intestinos. Os órgãos foram enviados, sem a adição de preservativos, ao laboratório de campanha medico-epidemiologico para teste químico de presença de compostos de cianeto e venenos básicos.

Assinaturas da comissão:

Assinado (Shkaravski)
Especialista chefe, medicina legal
1º frente Bielo-russa, serviço Medico,
Tenente-Coronel

Assinado(Krayevski)
Anatomo-patologista, chefe, serviço medico, Exercito vermelho, tenente-coronel.

Assinado (Boguslavski)
Especialista-militar, medicina legal,
3º exercito de choque, serviço medico major.

Assinado (Gulkevitch)
Anatomo-patologista militar
3º exercito de choque, serviço medico, Major.

CONCLUSÃO

Baseada no exame medico-legal e na autopsia do cadáver de um cachorro preto e no teste químico dos seus órgãos internos e sangue, a comissão chega as seguintes conclusões:
1. O exame determinou um tiro através da cabeça do cachorro quando o animal ainda estava vivo, ferida de entrada acima da orelha esquerda, e um tiro perfurante através do abdome. Os ferimentos por sua natureza são letais.
2. O teste químico-legal determinou a presença de compostos de cianeto nos órgãos internos.
As causas da morte são envenenamento por compostos de cianeto e ferimentos letais na cabeça, com destruição extensiva de matéria encefálica. O processo pelo qual o cachorro foi morto pode ser imaginado da seguinte modo: Primeiro el foi provavelmente envenenado com uma pequena dose de cianeto e, em seguida, já agonizante, foi alvejado a tiros.

Assinaturas da comissão:

(Shkaravski)
Especialista chefe, medicina legal
1º frente Bielo-russa, serviço Medico,
Tenente-Coronel

Assinado (Krayevski)
Anatomo-patologista, chefe, serviço medico, Exercito vermelho, tenente-coronel.

Assinado (Marants)
Anatomo-patologista, chefe em exercício,
1º frente Bielo-russa, serviço medico,
Major

Assinado (Boguslavski)
Especialista-militar, medicina legal,
3º exercito de choque, serviço medico major.

Assinado (Gulkevitch)
Anatomo-patologista militar
3º exército de choque, serviço medico, Major.

DOCUMENTO Nº 7
Concernente ao exame médio-legal do cadáver do chefe do estado-maior das forças alemãs, Major – general Krebs.

Berlim – Bush, 9. V. 1945
Necrotério, hospital de campanha para cirurgia nº 496


CORPO DO GENERAL HANS KREBS SENDO AUTOPSIADO

A comissão constituída pelo perito-chefe, medicina legal, 1º frente Bielo-russa, Serviço medico, tenente-coronel F.I. Shkaravski; anatomista-chefe, exercito vermelho, serviço medico, Tenente-coronel N. A. Krayevski; anatomo-patologista, chefe em exercício,1º frente Bielo-russa, Serviço medico, Major A.Y. Marants; perito militar, medicina legal, 3º exercito de choque, serviço medico, Major Y. I. Boguslavski; anatomo-patologista do 3º exército de choque, Major, Y. V. Gulkevitch, por ordem do membro do conselho militar da 1º frente Bielo-russa, Tenente-General Telegrin, realizamos em 3 de maio de 1945 o exame médico-legal do general Krebs.

A. EXAME EXTERNO

Roupa do cadáver:
1. Túnica alemã cinza-verde com restos de tragonas arrancadas e revestimento vermelho da gola debruado com guarnição de ouro. Sobre o bolso superior direito do tórax uma insígnia com a suástica bordada a ouro. No mesmo bolso à esquerda esta presa uma insígnia nazista fundida com a data de 1939. No bolso esquerdo uma insígnia de metal preto – um capacete de soldado alemão com a suástica em relevo, a baixo do capacete duas espadas cruzadas, na segunda casa do botão do lado esquerdo da túnica uma fita vermelha com uma listra preta vertical estreita e duas listas claras verticais estreitas. A túnica esta desbotada.
2. Calças cinza de montar com guarnições de couro e botos do cinto desabotoados.
3. Pés calçados com meias cinzento-escuras
4. Camiseta de jérsei de malha apertada sem gola, cor turquesa, com três botões abotoados
5. Cuecas brancas
6. Roupa completa e limpa

O cadáver e de um homem aparentando 45 a 50 anos de idade. Estatura 1,75m, de constituição normal atlética estado de nutrição acima da média. Cor da epiderme vermelha-brilhante com matizes azulados. Manchas de lividez da morte da mesma coloração, a intensidade da cor permanece inalterada sobre a ação de pressão. Rigidez cadavérica persistente em todos os grupos musculares. Cabeça raspada, face de forma oval. Ouvidos e vias nasais desobstruídos. Ossos nasais e cartilagem parecem ao tato incólumes.



CORPO DE HANS KREBS

Olhos fechados, córnea opaca. Menbranas mucosas visíveis das pálpebras, nariz, e lábios vermelho-azulados. Boca semiaberta, os dentes parecem saldáveis, brancos, consideravelmente gastos. Duas coroas de ouro com uma ponte nos pré-molares, maxilar inferior direito e esquerdo. No maxilar superior obturações de ouro visíveis no primeiro pré-molar direito e em dois pré-molares da esquerda. Na cavidade oral não foi encontrado nenhum estilhaço de vidro. Caixa torácica de forma cilíndrica, na superfície frontal espessa cobertura de pelo escuro misturado com o grisalho. Abdome moderadamente inchado, órgãos genitais externos normalmente desenvolvidos.
Ferimentos encontrados no corpo:

1. No pescoço, 1,5 cm a direita do ângulo maxilar direito uma ferida bastante dilacerada de 1 x 1,3 cm, com bordos irregulares rasgados, profundidade de ferida ¾ de cm, ferida rodeada por hematoma.
2. Na região do osso malar direito, a 2,5 cm do canal auditivo e 0,5 de largura. Bordos irregulares denteados. Profundidade da ferida: 0,75 cm, hemorragia nos tecidos em torno das margens feridas.
3. Na região temporal esquerda, uma ferida dilacerante superficial com bordos denteados. Hemorragia cutânea nos tecidos circundantes.
4. Na região da cavidade orbital direita uma hemorragia subcutânea medindo de 4 x 3 cm.

B. EXAME INTERNO

Ossos do crânio incólumes. Ao abrir o cérebro, perceptível cheiro de amêndoas amargas. Meninges sem alterações notáveis, vasos do cérebro um pouco dilatados. Nos ventrículos uma pequena quantidade de fluído claro-amarelo. Estrutura da matéria encefálica típica; camada cinzenta facilmente distinta da camada branca. Posição dos órgãos torácicos e abdominais normais. Ao abri-los, acentuado cheiro de amêndoas amargas. Os pulmões estão desobstruídos, a pleura nas cavidades pleurais e vermelho-escura. Os pulmões são esponjosos, bem supridos de sangue. Os brônquios desobstruídos, membrana mucosa avermelhada. O coração e do tamanho do punho do morto. Peso: 390 gramas. Músculos cardíacos de firmeza normal cinza-avermelhado. Válvulas cardíacas finas, brilhantes. O coração contem considerável quantidade de sangue vermelho liquido. Peritônio fino, brilhante, nenhum liquido perítônial livre presente. Peso do fígado: 1.700 gramas. Ele tem a canto frontal afilado, estrutura um pouco esmaecida, suprimento de sangue moderado. Peso do baço: 300g, cápsula irrugada, matéria vermelho-suja, alterada pela putrefação. Peço de cada rin: 190g, cápsula renal fibrosa facilmente destacável, estrutura algo esmaecida, sinais de putrefação. A bexiga contém cerca de 100 cm³ de urina amarelo-clara. O estomago cedeu, vazio, sua membrana mucosa cinza-rosada. Intestinos não inchados, vazios, membrana mucosa cinza-rozada.

Para teste químico foi retirado o seguinte material:

1. Dez cm³ de sangue num tubo de ensaio
2. Seções do cérebro, coração, pulmões, fígado, rins, baço, estomago e intestinos num recipiente de vidro sem conservante.

Os objetos relacionados foram entregues a SMERCH do 3º Exército de Choque ao laboratório de campanha medico-epidemiologico Nº 291 para análise química por compostos de cianeto e venenos básicos.

CONCLUSÃO:

Baseada no exame externo e na autopsia do chefe do estado maior das forças armadas alemãs, Major-general Hans Krebs, e nos testes químicos dos seus órgãos internos, a comissão chega a seguinte conclusão.

1. As três feridas na cabeça encontradas no cadáver são pela natureza dilacerantes e pertencem ao grupo de ferimentos menores. Provavelmente foram originados quando o corpo do morto, em sua agonia mortal, caiu e se chocou com algum objeto afiliado, contundente.
2. O teste médico-legal dos órgãos internos do morto estabelece a presença de compostos de cianeto.
3. A morte do general Krebs foi, portanto obviamente causada por envenenamento por compostos de cianeto.

Assinaturas da comissão:

Assinado (Shkaravski)
Especialista chefe, medicina legal
1º frente Bielo-russa, serviço Medico,
Tenente-Coronel

Assinado(Krayevski)
Anatomo-patologista, chefe, serviço medico, Exercito vermelho, tenente-coronel.

Assinado (Boguslavski)
Especialista-militar, medicina legal,
3º exercito de choque, serviço medico major.

Assinado (Gulkevitch)
Anatomo-patologista militar
3º exercito de choque, serviço medico, Major.


DOCUMENTO Nº 12
Referente ao exame legista de um cadáver masculino desfigurado pelo fogo (corpo de Hitler)

Berlin-Buch, 8/V de 1945
Necrotério CAFS. Nº496

A comissão constituída pelo perito-chefe, medicina legal, 1º frente Bielo-russa, Serviço medico, tenente-coronel F.I. Shkaravski; anatomista-chefe, exercito vermelho, serviço medico, Tenente-coronel N. A. Krayevski; anatomo-patologista, chefe em exercício,1º frente Bielo-russa, Serviço medico, Major A.Y. Marants; perito militar, medicina legal, 3º exercito de choque, serviço medico, Major Y. I. Boguslavski; anatomo-patologista do 3º exército de choque, Major, Y. V. Gulkevitch, por ordem do membro do conselho militar da 1º frente Bielo-russa, Tenente-General Telegrin, realizamos em 3 de maio de 1945 o exame médico-legal de um cadáver masculino (presumivelmente o cadáver de Hitler)

RESULTADOS DO EXAME:

A. EXAME INTERNO

Os restos de um corpo masculino, desfigurado pelo fogo, foram enviados em uma caixa de madeira (comprimento 163 cm, largura 55 cm, altura 53 cm). Foi encontrado no corpo um pedaço de jérsei amarelo, 25x8 cm, com uma camiseta de tricô. Em vista de o cadáver estar bastante danificado, e difícil avaliar a idade do morto. Tem presumivelmente entre 50 e 60 anos. Altura do morto e de 165 cm (as medidas são aproximadas, pois o tecido esta carbonizado). A tíbia direita mede 39 cm. O cadáver está seriamente carbonizado e cheira a carne queimada. Falta parte do crânio. Partes do osso occipital, do osso temporal, dos ossos molares inferiores, os ossos nasais e as mandíbulas superior e inferior estão conservados. As queimaduras são mais acentuadas no lado direito do crânio do que do esquerdo. Na caixa craniana são visíveis partes do encéfalo destruídos pelo fogo e da dura-máter. No rosto e no corpo esta faltando toda a pele; apenas estão conservados restos de músculos carbonizados. Há muitas fraturas pequenas no osso nasal e nos maxilares superiores. A língua esta carbonizada e a sua ponta esta firmemente presa entre os dentes dos maxilares superior e inferior. No maxilar superior há 9 dentes ligados por uma ponte de metal amarelo (ouro). A ponte esta presa por pinos ao segundo incisivo esquerdo e ao segundo incisivo direito. A ponte consiste em quatro incisivos superiores (2] 1] [1 [2), dois dentes caninos (3] [3), do primeiro pré-molar esquerdo ([4) e do primeiro e segundo pré-molares direitos (4] 5]), como esta indicado no esquema. O primeiro incisivo esquerdo ([1) consiste em uma plaqueta branca com rachaduras e um ponto preto na porcelana (esmalte) no fundo. Esta plaqueta esta inserida no lado visível do dente de metal (ouro). O segundo incisivo, o dente canino e o pré-molar esquerdo, bem como o primeiro e segundo incisivos e o primeiro pré-molar da direita, são placas dentais de porcelana (esmalte) comum, com suas partes posteriores fixadas a ponte. O dente canino direito esta completamente revestido por metal amarelo (ouro). A ponte maxilar esta secionada verticalmente atrás do segundo pré-molar esquerdo (5]).




DESENHO DA ARCADA DENTARIA DE HITLER DE ACORDO COM O LAUDO DA AUTOPSIA (AUTOR TIAGO RODRIGUES CARVALHO)

DESENHO DA ARCADA DENTARIA DE HITLER FEITO POR REIDAR F. SOGNNAES

MANDIBULA INFERIOR VISTA DE FRENTE (SOGNNAES)

MANDIBULA INFERIOR VISTA DE COSTAS (SOGNNAES)

DENTES DO MAXILAR DE ADOLF HITLER
O maxilar inferior esta solto na cavidade oral chamuscada. Os processos alveolares estão quebrados e tem arestas vivas. A superfície frontal e a aresta inferior estão superficialmente queimadas. Na superfície frontal são reconhecíveis as ramificações carbonizadas das raízes dos dentes. O maxilar inferior consiste em 15 dentes, dez deles artificiais. Os incisivos (2] 1] [1 [2) e o primeiro pré-molar direito (4]) São naturais, apresentando considerável desgaste na superfície de mastigação e nos colos considerados expostos. O esmalte dental tem um reflexo azulados e uma coloração amarelo suja em torno dos colos. Os dentes a esquerda ([4,[5,[7, e [8) são artificiais, de metal amarelo (ouro), e consiste numa ponte com coroas de ouro. A ponte e fixada ao 3º,5º (na ponte o sexto dente), a ao 8º dente (na ponte o nono dente). O segundo pré molar da direita (5]) e encimado por uma coroa de metal amarelo (ouro), que esta ligada ao dente canino direito por uma placa arqueada. Parte da superfície de mastigação e a superfície posterior do dente canino direito são cobertas por uma placa de metal amarelo (ouro) como parte de uma ponte. O primeiro molar direito e artificial branco e fixo por um grampo de ouro ligado a ponte do segundo pré-molar e do incisivo direito. Foram encontrados na boca estilhaços de vidro, partes da parede e do fundo de uma ampola de paredes finas.

Os músculos do pescoço estão carbonizados, estão faltando às costelas do lado direito, pois estão queimadas. O lado direito do tórax e do abdome está completamente queimado, criando um buraco através do qual são visíveis o pulmão direito, o fígado e os intestinos. O membro genital esta carbonizado. No escroto, que está chamuscado, mas conservado, apenas foi encontrado o testículo direito. O testículo esquerdo não pode ser encontrado no canal inguinal. O braço direito está seriamente queimado, as extremidade do osso do braço superior e dos ossos do braço inferior estão quebradas e carbonizadas. Os músculos secos estão negros e parcialmente marrons; desintegran-se em fibras isoladas quando tocados. O que resta da parte carbonizada (cerca de dois terços) do braço superior esquerdo esta conservado. O extremo exposto do osso do braço superior está carbonizado e salienta se do tecido seco, ambas as pernas estão também carbonizadas. O tecido mole desapareceu em muitos locais; queimou e desagregou-se. Os ossos estão parcialmente queimados e esmigalharam-se. Notá-se fraturas no fêmur direito e na tíbia direita. Esta faltando o pe esquerdo.

B. EXAME INTERNO

E normal a posição dos órgãos internos. Os pulmões são negros na superfície, vermelho-escuro na superfície de corte, e de consistência bastante firme. A membrana mucosa do aparelho respiratório superior e vermelho-escura. Os ventrículos cardíacos estão cheios de sangue coagulado de um marrom-avermelhado. O músculo cardíaco e consistente e lembra carne cozida. O fígado esta negro na superfície e apresenta queimaduras; e de consistência bastante firme e marrom amarelado na superfície de corte. Os rins estão algo encolhidos e medem 9 x 5 x 3,5 cm. Sua cápsula e facilmente destacável; a superfície dos rins e macia, a estrutura apagada, parecem cozidos. A bexiga contem 5 cm³ de urina amarelada, sua membrana mucosa e cinza. O baço, estomago e intestinos apresentam graves queimaduras e estão em certas partes quase pretos.

Nota:
1. Os seguintes objetos retirados do cadáver foram entregues a seção SMERCH do 3º Exercito de choque em 8 de maio de 1945:
a) Uma ponte maxilar de metal amarelo, consistindo em 9 dentes;
b) um maxilar inferior chamuscado, consistindo em 15 dentes.
2. De acordo com as anotações do interrogatório de Frau Kathe Heusermann pode-se presumir que os dentes, bem como a ponte descrita no documento, seja as do chanceler Hitler.
3. Na sua conversa com o perito chefe de medicina legal, tenente coronel Shkaravski, que teve lugar a 11 de maio de 1945, nos escritórios do CAFS Nº 496, Frau Kathe Heusermann descreveu o estado dos dentes de Hitler nos mínimos detalhes. Sua descrição confere com os dados anatômicos referentes à cavidade oral do desconhecido cujo cadáver queimado foi dissecado.

Anexo:

Um tubo de ensaio com estilhaços de vidro de uma ampola que foram encontrados na boca do corpo.

Assinado (Shkaravski)
Especialista chefe, medicina legal
1º frente Bielo-russa, serviço Medico,
Tenente-Coronel

Assinado(Krayevski)
Anatomo-patologista, chefe, serviço medico, Exército Vermelho, tenente-coronel.

Assinado (Boguslavski)
Especialista-militar, medicina legal,
3º exercito de choque, serviço medico major.

Assinado (Gulkevitch)
Anatomo-patologista militar
3º exercito de choque, serviço medico, Major.

CONCLUSÃO

Baseado no exame medico legal do cadáver parcialmente queimado de um homem desconhecido e do exame de outros cadáveres do mesmo grupo (Documentos Nº 1-11), a comissão chega as seguintes conclusões:

1. Características anatômicas do corpo estão seriamente carbonizadas, e impossível descrever as feições do morto. Mas pode ser determinado o seguinte:
a) Estatura: cerca de 165cm (um metro e sessenta e cinco)
b) Idade (baseada no desenvolvimento geral, dimensões dos órgãos, estado dos incisivos inferiores e dos pré-molares direitos), aproximadamente entre 50 e 60 anos.
c) O testículo esquerdo não foi encontrado quer no escroto quer no cordão espermático dentro do canal inguinal, nem na pequena pelve.
d) A descoberta anatômica mais importante para identificação da pessoa são os dentes artificiais, coroas e próteses.

2. Causa da morte:

Não puderam ser detectados no corpo, consideravelmente danificado pelo fogo, sinais visíveis de ferimentos mortais sérios ou de doenças. A presença na cavidade oral dos restos de uma ampola de vidro esmagada e de ampolas similares nas cavidades orais de outros corpos (Documentos Nº 1,2,3,4,5,6,7,8,9,10,11 e 13) o acentuado aroma de amêndoas amargas emanante dos corpos (Documentos Nº 1,2,3,4,5,6,7,8,9,10 e 11) permitem a comissão chegar a conclusão de que a morte neste caso foi causada por envenenamento por compostos de cianureto

Assinado:

(Shkaravski)
Especialista chefe, medicina legal
1º frente Bielo-russa, serviço Medico,
Tenente-Coronel

Assinado (Krayevski)
Anatomo-patologista, chefe, serviço medico, Exercito vermelho, tenente-coronel.

Assinado (Marants)
Anatomo-patologista, chefe em exercício,
1º frente Bielo-russa, serviço medico,
Major

Assinado (Boguslavski)
Especialista-militar, medicina legal,
3º exercito de choque, serviço medico major.

Assinado (Gulkevitch)
Anatomo-patologista militar
3º exercito de choque, serviço medico, Major.


DOCUMENTO Nº 13
Berlim-Buch, 8. V. 1945
Necrotério Hospital de campanha para cirurgia nº 496

Concernente ao exame medico-legal do cadáver parcialmente queimado de uma mulher desconhecida (Eva Braun).

A comissão constituída pelo perito-chefe, medicina legal, 1º frente Bielo-russa, Serviço medico, tenente-coronel F.I. Shkaravski; anatomista-chefe, exercito vermelho, serviço medico, Tenente-coronel N. A. Krayevski; anatomo-patologista, chefe em exercício,1º frente Bielo-russa, Serviço medico, Major A.Y. Marants; perito militar, medicina legal, 3º exercito de choque, serviço medico, Major Y. I. Boguslavski; anatomo-patologista do 3º exército de choque, Major, Y. V. Gulkevitch, por ordem do membro do conselho militar da 1º frente Bielo-russa, Tenente-General Telegrin, realizamos em 3 de maio de 1945 o exame médico-legal do cadáver de uma mulher.
(Presumivelmente o cadáver da mulher de Hitler)

Resultados do exame:

A. EXAME EXTERNO

O cadáver e de uma mulher, estatura 150 cm (as medidas são aproximadas, pois varias partes do corpo estão carbonizados e seriamente desfigurados). Idade: aproximadamente 30 e 40 anos. Quase toda a parte superior e a parte superior frontal do crânio esta faltando. Só estão conservados fragmentos dos ossos temporal e occipital quebrados e queimados, bem como a parte inferior dos ossos faciais esquerdos. Nariz carbonizado, boca semi-aberta. Língua negra, seca, carbonizada.
REPRODUÇÃO DO CRANIO DE EVA BRAUN CONFORME O DESCRITO NO LAUDO DA AUTOPSIA.
Maxilar superior: carbonizado, processos alveolares ausentes; entre o palato e a língua, um molar e a bifurcação de um dente com orifício grande esta exposto à direita. Na esquerda superior há, soltos, um canino e dois molares. Estão faltando os outros dentes do maxilar superior. Foi encontrado na boca um pedaço de ouro de forma irregular, medindo 6 X 3 mm (presumivelmente uma obturação) No lado esquerdo no maxilar inferior o segundo incisivo, com um ponto negro, e dois molares estão conservados. Todos eles estão moderadamente gastos e mostram alterações visíveis devido a caries dentarias. No lado direito não foi encontrado nenhum dente, provavelmente devido à combustão.

Na cavidade oral, debaixo da língua, foi encontrado uma ponte de metal amarelo (ouro), solta, que liga o segundo pré molar direito e o terceiro molar direito por meio de uma coroa de ouro; na placa de metal da ponte estão presos na frente o primeiro e o segundo molares artificiais brancos; sua aparência torna-os quase indistintos dos dentes naturais. Foram encontrados na cavidade oral debaixo da língua grandes fragmentos de uma ampola de vidro medindo 1-5 milímetros quadrados pertencentes a uma ampola de paredes finas. Os tecidos do pescoço estão carbonizados. Glândulas mamarias pequena, secas, superfície de corte amarela. Lado direito do tórax e do abdômen estão seriamente queimados; grande parte do tecido esta faltando aqui, As subseqüentes aberturas nas cavidades torácicas e abdominais expondo os órgãos internos a vista. Sessões do tecido epitelial estão conservados na região da omoplata esquerdo, dos quadris, e da nádega esquerda. O terço inferior úmero direito esta queimado, o tecido mole, seco negro, fragmentos carbonizados dos ossos do antebraço direito estão conservados, mão direita bastante desfigurada (pelo fogo). Extremidades inferiores negras devido à carbonização, secas, deformadas. No tecido epitelial e nos músculos muitas fissuras profundas. Nenhum sinal de fraturas. Ambos os pés estão num estado um pouco melhor de conservação, a coloração de sua pele e marrom-suja.

Ferimentos no corpo:
Na região da parte frontal esquerda do tórax, na linha paraesternal do segundo espaço intercostal, a uma abertura de forma irregular medindo 1 X 0,9 cm, rodeada de hemorragias claramente perceptíveis; outra abertura similar encontra-se mais a direita na região carbonizada.

B. EXAME INTERNO

Entre os músculos do segundo espaço intercostal junto ao externo duas aberturas que se prolongam pela caixa torácica. Na cavidade pleural esquerda percebe-se cerca de 500 cm³ de sangue. O pulmão direito esta encolhido, o pulmão esquerdo esponjoso, vermelho escuro. No lobo superior do pulmão direito notá-se dois ferimentos grandes perfurantes. Na caividade pleural esquerda foram encontrados seis fragmentos de metal (aço) medindo ate 0,5 centímetros quadrados. Na parte superior frontal do pericárdio são visíveis duas aberturas medindo 0,8 X 0,4 cm. Estão rodeadas por hemorragias perfeitamente disceniveis; ferimentos semelhantes apresentam-se na direção da cavidade pleural esquerda. O pericárdio contem cerca de 3 cm³ de sangue. Músculos cardíacos cozidos, vermelho acinzentados. Válvulas finas brilhantes. Nas cavidades cardíacas pequena quantidade de sangue liquido escuro. Artérias pulmonares desobistruidas. Revestimento da aorta macio e brilhante. Posição dos órgãos abdominais normal. Órgão secos encolhidos. Fígado bastante encolhido, firme, marrom-acinzentado na superfície de corte. Baço vermelho escuro, solidificado. Contorno do rin esquerdo normal, cápsula facilmente destacável, um pouco apagada. Rim direito seco, Bexiga contraída, membrana mucosa cinza. Durante a autopsia acentuado cheiro de amêndoas amargas.

Em anexo:

1. Tubo de ensaio de boca larga contendo 6 fragmentos de metal.
2. Tubo de ensaio com fragmentos de uma ampola.

Assinaturas da comissão:

Assinado (Shkaravski)
Especialista chefe, medicina legal
1º frente Bielo-russa, serviço Medico,
Tenente-Coronel

Assinado(Krayevski)
Anatomo-patologista, chefe, serviço medico, Exercito vermelho, tenente-coronel.

Assinado (Boguslavski)
Especialista-militar, medicina legal,
3º exercito de choque, serviço medico major.

Assinado (Gulkevitch)
Anatomo-patologista militar
3º exercito de choque, serviço medico, Major.

CONCLUSÃO:

Baseado no exame medico-legal do cadáver parcialmente queimado de uma mulher desconhecida e nos relatórios de outros cadáveres deste grupo (documentos 1-11) a comissão chegou as seguintes conclusões:

1. Características anatômicas do corpo:

Devido ao fato de que as partes do corpo estão bastante carbonizadas, é impossível descrever a fisionomia da morta. O seguinte, entretanto pode ser determinado:
a) A idade da morta esta compreendida entre 30 e 40 anos, cuja evidencia e a superfície de mastigação dos dentes pouco gasta.
b) Estatura: cerca de 150 cm.
c) Descoberta anatômica mais importante para identificação da pessoa são as pontes de ouro do maxilar inferior e seus 4 dentes frontais.

2. Causa da Morte:

No corpo consideravelmente carbonizado foram encontrados vestígios de ferimentos dilacerantes no tórax com o hemotórax, Ferimento num dos pulmões e no pericárdio, bem como 6 fragmentos de metal. Foram ainda encontrados na cavidade oral restos de uma ampola quebrada. Em vista do fato de ampolas semelhantes estarem presentes em outros cadáveres (Documentos Nº 1,2,3,4,5,6,7,8,9,10 e 11), que um cheiro de amêndoas amargas se liberava durante a dissecação (Documentos Nº 1,2,3,4,5,6,7,8,9,10 e 11) e baseado nos testes químicos-legais dos órgão internos destes corpos, nos quais foi contatada a presença de compostos de cianeto (Documentos Nº 1,2,3,4,5,6,7,8,9,10 e 11), a comissão chega a conclusão que apesar dos ferimentos no tórax, a causa da morte foi envenenamento por compostos de cianeto.

Assinaturas da comissão:

Assinado (Shkaravski)
Especialista chefe, medicina legal.
1º frente Bielo-russa, serviço Medico,
Tenente-Coronel

Assinado (Krayevski)
Anatomo-patologista, chefe, serviço medico, Exercito vermelho, tenente-coronel.

Assinado (Marants)
Anatomo-patologista, chefe em exercício,
1º frente Bielo-russa, serviço medico,
Major

Assinado (Boguslavski)
Especialista-militar, medicina legal,
3º exercito de choque, serviço medico major.

Assinado (Gulkevitch)
Anatomo-patologista militar
3º exercito de choque, serviço medico, Major.


ACIMA OS RESTOS CARBONIZADOS DE EVA BRAUN. ABAIXO OS RESTOS CARBONIZADOS DE ADOLF HITLER.


AS FOTOS DOS RESTOS MORTAIS DE HITLER E EVA BRAUN NO ARQUIVOS RUSSOS

Os testes químicos dos filhos de Goebbels, assim como dos pais, o General Krebs e mais dois cães autopsiados, eles continham entre 9,72 a 12,9 miligramas de ácido prússico por quilo de material coletado. Significativamente parte do crânio de Hitler não foi encontrado. A única forma de identificar os corpos era através da arcada dentaria. O coronel Vasili Sokolovskii ordenou que fosse checada a arcada dentaria do corpo. Fritz Echtmann e Kathe Heusermann que eram os técnicos dentários que haviam trabalhado no consultório do dentista de Hitler, Blaschke. Kathe Hausermann foi encontrada no dia 7 de maio no endereço 39-40 Parisertrasse, apartamento nº 1. Com a ajuda de Fraulein Hausermann, a interprete soviética Elena Rzhevskaya acompanhada do Coronel Gorbushin foram ao encontro dos registros dentários de Hitler. Gorbushin redigiu o seguinte relatório:

Na manha do dia 9 de maio, fui procurar os dentistas de Hitler. Na clinica do professor Blachke fui recebido por um tal Dr. Bruck. Quando Bruck percebeu que queríamos ver o seu chefe por um assunto de interesse do comando armado soviético não estava em casa e perguntou se uma assistente do professor, Kathe Heusermann não podia substituí-lo. Convoquei-a para um interrogatório e mandei buscar pelo estudante búlgaro. “Onde esta a ficha medica dos dentes de Adolf Hitler?” – Perguntei a Kathe Heusermann. “Aqui nos arquivos” – Respondeu ela.
Frau Heusermann procurou rapidamente no fichário e retirou um cartão que se ferificou ser a ficha medica de Adolf Hitler. As anotações evidenciam que o fuhrer tinha tido dentes muito ruins necessitando de freqüentes consertos. Precisávamos também das radiografias dos dentes de Hitler, mas não estavam na clinica. Quando perguntei onde podiam estar, Kathe Heusermann respondeu que deviam estar guardadas no escritório do professor Blaschke na chancelaria. Não perdendo mais tempo na clinica, rumamos para a chancelaria, levando Kathe Heusermann. Descemos ao subsolo, encontramos o gabinete dentário do professor Blachke e com ajuda de Kathe Heusermann logo descobrimos as radiografias dos dentes do Fuhrer e algumas coroas de ouro que tinham sido preparadas, mas o tempo para pó-las em uso se esgotara tanto da parte do dentista quanto do paciente.




COMPARAÇÃO DOS DENTES DE HITLER COM O ESBOÇO DENTÁRIO FEITO POR KATE HEUSERMANN

Kathe Heusermann informou-me que as coroas e as pontes de Hitler e Eva Braun foram preparadas por um protético chamado Fritz Echtmann, cujo endereço conhecia. Encontrei Echtmann em casa. Expliquei o fim da nossa visita e solicitei-lhe que me acompanhasse. Atendeu prontamente. Fraun Heusermann e Echtmann foram por mim interrogados em separado. Fui axiliado pelo Major Bystrov. Em resposta as minhas perguntas Kathe Heusermann descreveram da memória os dentes de Hitler nos mínimos detalhes. Suas informações a respeito de pontes, coroas e próteses corresponderam precisamente aos registros na ficha medica e as radiografias que tínhamos encontrado. Em seguida pedimos-lhes para identificar os maxilares que tinham sido retirados do cadáver masculino. Kathe Heusermann e Echtmann os reconheceram inequivocamente como os de Adolf Hitler. Seguindo um processo semelhante pedimos a seguir que descrevessem os dentes de Eva Braun. Depois de terem respondido exaustivamente as nossas perguntas colocamos diante deles a ponte de ouro que fora retirada da boca do cadáver feminino durante a autopsia. Kathe Heusermann e Fritz Echtmann declararam sem demora que esta prótese pertencia a Eva Braun. Fritz Echtmann acrescentou que a construção especial da ponte preparada para Eva Braun era de sua própria invenção e que ate então nenhum protético tinha utilizado semelhante método de fixação. A seguir nossos peritos médicos reuniram-se de novo. Após o exame da ficha medica, das radiografias e do maxilar com os dentes do cadáver masculino calcinado que tinha sido encontrado no dia 4 de maio no jardim da chancelaria, os peritos chegaram a conclusão de que estes eram os dentes de Adolf Hitler.
PERGUNTA: - Pode determinar se estas pontes dentais pertencem a Hitler?
RESPOSTA: - Sim sem nenhuma duvida.
PERGUNTA: - Mostramos-lhe uma ponte dental de um maxilar superior e um maxilar inferior com dentes. Sabe a quem pertencem estes dentes?
RESPOSTA: - Os dentes que me foram mostrados pertencem ao chanceler alemão Adolf Hitler. O maxilar superior a esquerda,atrás do quarto dente, apresenta um traço distinto que ocorreu quando a ponte de ouro foi serrada pela broca dental, quando da extração do sexto dente. Esta extração foi feita pelo professor Blaschke com a minha assistência, no outono... Todas as outras evidencias de que estas pontes são de Adolf Hitler conferem com aquelas por mim enumeradas de memória, a exceção do quarto dente inferior direito, que acreditava ser um dente artificial de porcelana. Mas pelos dentes que me mostrou verifico que era um dente natural.
PERGUNTA: - Pode afirmar que os dentes que lhe foram mostrados são os de Adolf Hitler?
RESPOSTA: - Sim, afirmo que os dentes que me foram mostrados são de Adolf Hitler




MANDIBULA DE HITLER COM OS DENTES QUE COMPROVARAM A SUA MORTE

Fritz Echtmann ainda acrescentou o seguinte:
“Este tipo especial de ponte e de minha invenção e nunca fiz outra igual para ninguém, exceto Eva Braun... Ela rejeitou minha primeira ponte porque quando abria a boca, podia se ver dentro o ouro. Fiz outra ponte eliminando esse senão. Usei um método original...”
A prova irrefutável da morte de Hitler foi enfim encontrada. No dia 9 de maio Frau Heusermann foi levada para Schwanebeck, perto de Buch, mais tarde ela foi levada para um bosque a cerca de 50 km de Buch. Eis o que ela relatou:
“Ali na presença de um general e de vários oficiais, eu vi sete caixões contendo cadáveres e um com dois corpos de cães. Todos os caixões estavam em um buraco que tinha mais ou menos um metro de profundidade. Fizeram-me descer ao fundo do buraco e examinar os corpos. Reconheci claramente o do Dr. Goebbels e seus filhos. O corpo de Goebbels não estava tão queimado. A cabeça podia ser claramente reconhecida bem como as pernas danificadas. As crianças estavam com a boca aberta. Todos os corpos mostravam cortes de autopsia que haviam sido costurados”.

Mengershausen, a testemunha que acompanhou a queima dos corpos no jardim da Chancelaria, também foi submetido a uma experiência semelhante à de Frau Heusermann. Posteriormente declarou:
“Levaram-me de carro para as florestas de Finow, perto de Berlim. Mostraram-lhe três corpos carbonizados e enegrecidos colocados numa caixa de madeira. Perguntaram-lhe se os reconhecia. Apesar das deformações produzidas pelo fogo e da decomposição, não havia como enganar-se. Tratava-se dos corpos de Goebbels, de sua esposa e de Hitler. Goebbels e sua mulher estavam superficialmente queimados. O corpo de Hitler se encontrava em muito pior estado. Os pés haviam sido consumidos por completo; a carne e a pele estavam enegrecidas e queimadas, mas a forma do rosto subsistia e era perfeitamente identificável. Havia um orifício de bala numa das têmporas, mas os maxilares estavam intactos.”

O relatório da autopsia dos restos de Hitler tinha uma nota de rodapé que dizia faltar parte do osso do crânio. Esta parte do suposto crânio sô foi encontrada em 1946 durante a “Operação Mito”.

Stalin mandou que a SMERSH escondesse os corpos, pois não queria que estes chegassem às mãos do NKVD. Stalin gostava de estimular a não-cooperação entre os órgãos de segurança; desta forma ele receberia relatórios separados sendo, portanto, o responsável pelo veredicto final sobre o caso. Ao todo os 13 cadáveres foram enterrados e exumados pelo menos seis vezes:

- A primeira no jardim da chancelaria;
- A segunda, no cemitério da clinica de Berlim-Buch, após serem autopsiados;
- A terceira, na cidade de Finow ;
- A quarta na cidade de Rathenow, a cerca de 92 km de Finow;
- A quinta na cidade de Stendal, a cerca de 30 km de Rathenow;
- A sexta na base da SMERSH na cidade de Magdeburg, a 72 km de Rathenow.

O Historiador russo Lev Bezymenski divulgou no seu livro “Operação Mito: quantas vezes Hitler foi enterrado” [Inédito no Brasil] que os corpos foram exumados e enterrados ao menos oito vezes, porem ele conta todas às vezes em que eles foram remexidos inclusive no jardim da chancelaria pelos alemães durante a queima. Basicamente eles foram enterrados e exumados seis vezes como descrevi acima. No dia 17 de maio de 1945 chegou a Berlim o adjunto de Beria, General Peter Meshik, para investigar os resultados da investigação sobre a morte de Hitler. No dia 18 de maio ele e sua comissão foram até Finow, local onde estavam enterrados os corpos. Foi realizada uma nova exumação dos restos; Meshik recolheu das caixas com os corpos as mandíbulas de Hitler e Eva Braun. Os restos foram novamente enterrados no mesmo local. O General retornou a Moscou no dia 23 de maio com as valiosas relíquias; considerados os únicos itens capazes de comprovar de fato a morte do ditador. No dia 3 de junho de 1945 os corpos foram removidos de Finow e enterrados na cidade de Rathenow. Nos documentos da KGB referentes ao sepultamento em Rathenow lê-se:

Os cadáveres armazenados nas caixas de madeira foram enterrados a uma profundidade de 1,7 metros, colocados lado a lado na seguinte ordem: A partir do leste para o oeste:

Hitler,
Eva Brown,
Goebbels,
Magda Goebbels,
Krebs, as crianças de Goebbels.

As caixas contendo os corpos foram enterrados a 325 metros de uma ponte ferroviária, em uma clareira no meio da floresta, sobre a sepultura foram plantados três pinheiros, um ao lado do outro, para formarem o numero “111”. Era uma característica do NKVD colocar plantações sobre as covas coletivas para disfarçar seus crimes; a SMERSH parece ter aprendido bem a lição. Após o termino do conflito em 1945, Stalin não estava convencido de que Hitler realmente estava morto. Stalin tinha mania de perseguição e se empenhou ao máximo para negar qualquer afirmação referente à morte de Hitler. O ditador precisava de inimigos reais e imaginários para alimentar sua paranoia. Mandou então uma comissão especial do NKVD reunir todas as informações sobre o suposto suicídio de Hitler em um dossiê, a fim de provar que o Fuhrer estava morto. Essa operação foi batizada de “Operação Mito”. O nome desta operação alimentou muita literatura especulativa que colocava duvidas quanto às circunstancias da morte de Hitler. Stalin dizia que o suicídio do ditador alemão era um mito, dai o nome da operação. A inteligência britânica sabia que Stalin estava mentindo sobre o paradeiro de Hitler. Eles interceptaram um telegrama enviado por Goebbels a Donitz no dia 1 de maio com referências sobre os dois testamentos de Hitler. O esforço de Stalin em afirmar que Hitler havia fugido se deve mais a paranóia irracional de um ditador assolado pela mania de perseguição do que a realidade. Um trecho do relatório conclusivo da CIA sobre os arquivos russos diz o seguinte:
“O esforço fanático empreendido sobre a rubrica “Mif” (Mito) sugere que Stalin estava tentando fazer as evidencias se encaixarem em sua própria versão distorcida da realidade (...) não pretendendo enganar alguém, mas tentando provar sua própria ilusão – ou pelo menos destruir qualquer prova do contrario.”
De acordo com o historiador Ian Sayer:
“Talvez houvesse um motivo estratégico por trás de tudo, com o objetivo de confundir os governos do ocidente que logo, ele [Stalin] sabia, passaria de aliados na Segunda Guerra a inimigos na Guerra Fria. A verdade e que o FBI foi mantido ocupado por mais de trinta anos, investigando tudo e qualquer relato ou testemunha referente ao caso. O resultado desse trabalho é um arquivo de 734 paginas contendo as mais variadas versões: Hitler havia sido visto vivendo como eremita em uma caverna perto de La Guarda, como pastor nos Alpes suíços, como monge num mosteiro de St.Gallen, como crupiê num casino em Evian, como garçom de um restaurante em Grenoble, como pescador nas ilhas Aran, na costa da Irlanda.”
A paranóia de Stalin em criar um mito em torno da “fuga de Hitler” chegou ao ponto de ordenar que um oficial do Kremlin afirmasse que Hitler e Eva Braun estavam vivos e residindo no oeste da Alemanha com o apoio do governo britânico. O chefe da inteligência britânica na Alemanha, que se tornaria chefe do MI5 e MI6, chamado Dick White, concluiu através de uma investigação particular que Hitler realmente estava morto em 1945. Pouco tempo depois ele encarregaria o ex-professor de historia da Universidade de Oxford, chamado Hugh Trevor-Hope a continuar com a investigação, cujo resultado foi uma obra clássica sobre os últimos dias de Hitler e a constatação de que o mesmo havia de fato cometido suicídio em 1945. É bem provável que Stalin tenha estimulado as noticias de uma provável fuga de Hitler para algum pais da américa latina com o objetivo de conseguir o máximo empenho de seus serviços especiais [ SMERSH e a NKVD]. A Operação Mito ficou a cargo de um grupo de oficiais de alto nível do NKVD, coordenados pelo comissário Serguei Kruglov. Lançada oficialmente por Stalin em dezembro de 1945 os objetivos da Operação Mito foram resumidos em três metas:

1-Recolher e averiguar todos os registros e evidencias coletados pelos médicos forenses durante os meses de maio-junho de 1945 concernentes a morte de Adolf Hitler;
2-Verificar e obter relatórios dos interrogatórios dos membros do circulo mais intimo de Hitler;
3-Explicar as evidencias e por fim a contradições das testemunhas.

A comissão de investigação teria como membro o medico legista Dr.Pytor Semenovsky. Para as investigações da comissão, a SMERSH, prendeu cerca de 800 pessoas, 21 das 35 testemunhas chave foram interrogados novamente em Moscou e Berlim, utilizando inclusive métodos brutais de tortura que o NKVD há anos vinha aprimorando cada vez mais. Em maio de 1946 a comissão especial da Operação Mito chegou a Berlim acompanhado dos prisioneiros Otto Guncher e Heinz Linger, para a reconstituição do suicídio de Hitler. O legista analisou cuidadosamente as marcas de sangue no escritório de Hitler e na escadaria do bunker que levava ao jardim. O local onde o ditador cometeu suicídio foi foco de atenção especial; de acordo com o legista:

“Com base na grande quantidade de sangue que espirrou e escorreu no sofá, pode-se concluir que este ferimento foi seguido de um profuso sangramento, o que faz com que seja qualificado como de alto risco. A vitima deveria estar sentada no canto direito do sofá, ao lado do braço, no momento do ferimento (...). Tal distribuição de sangue espirrado e escorrido, bem como seu aspecto característico, indica que o ferimento foi na cabeça e não no tórax ou abdômen (...). A lesa na cabeça deu-se através de um tiro e não através de um golpe com objeto pesado. Prova disto e que não existem marcas de sangue no encosto, sobre o assento e em volta do encosto. O ferido perdeu os sentidos após o ferimento na cabeça e permaneceu imóvel durante algum tempo, sentado com a cabeça inclinada sobre o braço direito do sofá.”

No dia 30 de maio de 1946 a investigação foi deslocada para outro cenário: o jardim onde os corpos foram queimados. No mesmo local onde no ano anterior, os corpos de Hitler e Eva Braun foram encontrados os legistas fizeram novas escavações e encontraram quatro fragmentos de crânio humano, o maior deles medindo cerca de 10 por 7 centímetros, com um orifício feito por tiro. Esses fragmentos pareciam se encaixar com os restos examinados durante a autopsia de Hitler. O legista Dr. Semenovsky disse que pelo aspecto do orifício o tiro partiu de baixo para cima, provavelmente debaixo do queixo ou dentro da boca. A comissão cogitou realizar uma nova autopsia dos restos, porem foi negado pela SMERSH que mantinha a guarda dos corpos.
SUPOSTO CRANIO DE ADOLF HITLER
Os pedaços de crânio foram então enviados para Moscou. E foram mantidos guardados em uma caixa de papelão nos arquivos secretos da KGB até serem expostos publicamente em 2000, durante as comemorações do 55º aniversario da captura de Berlim. “Estamos 99,9% certos de que o crânio pertence a Hitler” - disse o diretor da exposição em Moscou, embora o oficial da guarda de segurança do evento tivesse dito não acreditar que se tratava do cranio do ditador nazista:
- “parece mais o crânio de um cachorro do que de um homem”.
Após a autopsia em 1945 que confirmou que os restos eram de fato de Hitler e Eva Braun, as caixas de madeira contendo os restos foram levadas primeiramente para Finow, de lá para Rathenow e por fim para a cidade de Magdeburg no endereço Westerndstrasse 32 e 36, onde funcionava uma base da SMERSH. Os restos foram sepultados dentro da base ainda em 1945. Os corpos de Goebbels, sua esposa, seus seis filhos e do General Krebs, que estavam em três caixas de madeira, foram enterrados no jardim da residência de Westerndstrasse numero 32. Os cadáveres de Hitler e Eva Braun, que estavam em duas caixas de madeira, foram enterrados no jardim da residência de:

“Westerndstrasse nº 36, próximo à parede sul do jardim, a 25 metros em linha reta da parede leste da garagem, a uma profundidade de 2 metros”.
MAPA MOSTRANDO O LOCAL ONDE FICARAM ENTERRADOS OS CORPO: HITLER E EVA BRAUN NO JARDIM DA RESIDENCIA Nº32, FAMILIA GOEBBELS E O GENERAL KREBS NO JARDIM DA RESIDENCIA Nº36
FOTO DO LOCAL ONDE O CADAVER DE HITLER E EVA BRAUN FICARAM ENTERRADOS NA BASE DA SMERSH EM MAGDEBURG. A DIREITA DA FOTO O QUE RESTOU DA ANTIGA GARAGEM.
Em 1970 a base de Magdenburg estava prestes a ser transferida para autoridades da Alemanha ocidental. Em 13 de março de 1970 o então chefe da KGB, Yuri Andropov, escreveu uma carta para líder soviético Leoned Bresnev, em que dizia: “Julgo oportuno destruir os restos dos lideres do terceiro Reich por incineração devido a possíveis obras de escavação no local, que poderiam descobrir os restos sepultados”. Naquela época o tenente Vladimir Gumeniuk servia em uma unidade especial do Terceiro Exército Soviético baseado em Magdeburg, que mantinha a custodia dos restos mortais de Hitler e dos demais. Os corpos estavam em cinco grandes caixas de madeira, do tipo utilizado para armazenar munição.
DOCUMENTO ORIGINAL ASSINADO POR YURI ANDROPOV AUTORIZANDO A DESTRUIÇÃO DOS RESTOS MORTAIS
Gumeniuk recebeu ordens para exumar as caixas na madrugada do dia 4-5 de abril de 1970, e dar fim aos restos mortais. De acordo com os originais dos documentos soviéticos, dois dias antes da operação uma serie de medidas foram tomadas para garantir o sigilo dos trabalhos. No jardim da residência da Westerndstrasse nº 36, foi erguida uma tenda para que ocultasse o trabalho de escavação no local. Patrulhas foram distribuídas e postos de observação foram criados, para reprimir qualquer espionagem por parte dos cidadãos alemães locais. Nos documentos da KGB concernentes a operação lê-se:

“Foi descoberto com a escavação na cova, que os restos dos criminosos de guerra que foram supostamente ocultadas em 5 caixas de madeira, colocadas umas sobre às outras cruzadas. Três delas a partir do norte para o sul, dois dos outros - a partir do leste para o oeste. As caixas apodreceram e se tornaram pó, sendo os restos mortais localizados misturados com o solo. Com a escavação, os restos foram cuidadosamente inspecionados e permaneceram (crânios, ossos tibiais, bordas, vértebras e outros.) que foram postas em uma caixa. Era avançado o grau de decomposição e, especialmente dos restos mortais das crianças. De acordo com o cálculo de ossos tibiais e crânios conclui-se que podia pertencer a 10 ou 11 cadáveres.”

Como a operação era extremamente secreta os homens incumbidos da tarefa exumaram as caixas as colocaram em um veiculo militar, juntamente com varas de pesca, para não levantar suspeita. Seguiram então para a margem de um rio próximo [o ponto já havia sido estabelecido de antemão]. De acordo com os documentos da KGB os restos mortais foram levados de caminhão para um terreno vazio a 11 quilômetros de Magdeburg, próximo à cidade de Schenebeck. La foram depositados a cerca de três metros da entrada de um edifício isolado, onde funcionava um crematório em posse dos soviéticos, e foram primeiramente pulverizados com golpes de barras de ferro sendo posteriormente embebidas de gasolina e totalmente queimadas com restos de carvão. Gumeniuk recolheu as cinzas e as guardou em uma mochila, que recentemente mostrou para uma emissora de TV. Gumeniuk seguido dos outros integrantes da operação procuraram então um ponto elevado na margem do rio para espalhar melhor as cinzas na água. Escolheram então uma ponte sobre o Rio Ehle perto da cidade de Biederitz. Gumeniuk declarou anos depois:
- “Abri a mochila e uma nevoa escura se formou diante dos meus olhos, as cinzas caíram na água e desapareceram em poucos segundos.”
O relatório final da operação arquivo afirma:

“Com exceção do crânio e da arcada dentaria, os restos mortais de Hitler e Eva Braun e do ex-ministro Joseph Goebbels que permaneciam enterrados no campo de treino do exercito em Magdenburg, foram exumados na noite do dia 4 de abril de 1970, e queimados por completo com pedaços de carvão. As cinzas foram jogadas no rio Ehle (um dos afluentes do rio Elba) nas proximidades da cidade alemã de Biederitz (...). O responsável pela queima foi o tenente do exercito russo Vladimir Gumeniuk.”

A operação foi realizada com tamanho sigilo que em 1994 durante obras de escavação no jardim de uma casa próxima de onde ficaram sepultados os restos mortais de Hitler, em Magdeburg, foi encontrado uma cova coletiva com cerca de 30 esqueletos humanos. Como corria o boato de que o corpo de Hitler estava enterrado ali, levantou se a hipótese de que um dos esqueletos encontrados na cova fosse do “Fuhrer”. Depois de exames realizados por médicos forenses chegou-se a conclusão de que os esqueletos eram de homens jovens que morreram de forma violenta, provavelmente assassinados pela policia secreta soviética. Nos jardins de varias casas localizadas ao redor da residência da Westerndstrasse nº 36, que faziam parte do complexo da base da SMERSH na cidade de Magdeburg, foram encontradas mais de cinco covas coletivas contendo os restos mortais de centenas de pessoas, provavelmente mortas pelas ações da policia de contra espionagem; porem os restos mortais mais famosos do Terceiro Reich não estavam mais ali.
Uma leitura atenta dos fatos envolvendo o suicídio do ditador alemão Adolf Hitler apresentados até aqui mostra como o caso é repleto de contradições que mais confundem do que elucidam os fatos. Vou tentar de forma clara e objetiva colocar os fatos de forma ordenada com o objetivo de reduzir as contradições. A confusão começa logo após o suicídio de Hitler: a contradição de algumas testemunhas nos leva a tentar esclarecer a verdade através das evidencias encontradas no local, deixando um pouco de lado certas “afirmações”. Afinal Hitler estava sentado na cadeira ao lado do sofá, ou no sofá ao lado de Eva Braun quando ambos cometeram suicídio? Isto pode parecer irrelevante, mas é fundamental para esclarecer o suicídio. Uma simples análise das fotos do local do suicídio leva a crer que seria impossível Hitler estar sentado em uma cadeira e não no sofá. Existem três evidências que reforçam a teoria de que Hitler estava sentado no sofá e não na cadeira.

1-A mancha de sangue no braço direito do sofá.
2-Marcas de sangue na parede atrás do encosto da cabeça no lado direito do sofá.
3-A posição em que Hitler estava quando foi encontrado.

A mancha no braço direito do sofá, e a mancha no encosto da cabeça no lado direito, indicam que uma pessoa sentada ali havia cometido suicídio. A posição da cabeça de Hitler quando ele foi encontrado também reforça esta teoria. De acordo com testemunhas, Hitler estava com os olhos abertos e a cabeça pendia para frente, levemente inclinada para a direita, à face estava coberta de sangue que havia escorrido de um buraco feito pelo disparo de uma arma de fogo localizado na região da temporã esquerda. A uma explicação, que embora não passe de conjecturas poderia muito bem ser verdade, sobre a confusão do local do ferimento na cabeça de Hitler. Primeiramente é necessário esclarecer um erro amplamente divulgado em livros: de que o fragmento de crânio que esta em Moscou com um furo de bala é parte do osso temporal. Na verdade o fragmento que esta em exposição na capital russa é parte dos ossos pariental e occipital, localizados na região de traz do crânio. De acordo com os documentos da Operação Mito e da analise feita por peritos soviéticos concluiu-se que o orifício de bala, que esta localizado no osso pariental, foi disparado dentro da boca ou na região da temporã direita. Na primeira hipótese [boca] o disparo subiu pela cavidade oral atravessando o encéfalo e saindo pelo osso pariental esquerdo. Na segunda hipótese o [temporã direita] o projétil entrou na região propriamente dita e atravessando o encéfalo, saiu pela região do osso pariental esquerdo.
O suposto crânio de Hitler exposto em Moscou fornecia fortes evidencias que ajudariam muito a elucidar as circunstancias de sua morte, porem em 2010 um grupo de pesquisadores americanos conseguiu permissão para realizar um exame de DNA no “crânio de Hitler”; o resultado do exame mostrou que aquele fragmento de crânio pertencia a uma mulher.

O arqueólogo americano Nick Bellantoni conseguiu autorização para ter acesso ao Arquivo Estatal da Federação Russa, em Moscou, onde estão guardados o crânio e os pedaços do sofá ensangüentado onde Hitler teria se matado. Ele recolheu amostras de sangue impregnadas na madeira do sofá e fragmentos do crânio. Misteriosamente a equipe de Bellantoni não recolheu amostras dos ossos do maxilar e da mandíbula de Hitler; certamente por não existirem duvidas de que eles de fato são os dentes de Hitler. As amostras foram levadas para o laboratório da Universidade de Ciências de Connecticut para serem testados. A pesquisa de Bellantoni apresenta algumas falhas:
Alguns especialistas alegam ser impossível extrair DNA de um osso queimado, e mesmo que conseguissem ele poderia estar comprometido. O próprio Bellantoni manifestou sua preocupação de que o constante manuseio do crânio e das demais provas por varias pessoas ao longo das décadas seguintes poderia ter contaminado as amostras.


FRAGMENTOS DO CRANIO RECOLHIDOS PARA TESTE DE DNA

Bellantoni também tentou coletar fragmentos de ossos no local onde acreditava ter sido realizada a destruição final dos restos guardados na base da SMERSH na cidade de Magdeburg. Interessante notar como Bellantoni desconsiderou que estes ossos [se é que ainda estivessem no local] teriam ficado por décadas expostas ao ar livre e as condições climáticas como neve, chuva e ventos; contaminando qualquer prova que pudesse ser utilizada. Ao analizarem as amostras de sangue do sofá a equipe de Bellantoni conseguiu extrair DNA Alosomal que apresentaram 108.62 cromossomos X e 113.94 cromossomos Y sendo, portanto, um DNA masculino. A conclusão foi de que o sangue do sofá pertencia a um homem, porem não foi possível comparar o DNA do sangue com o DNA dos parentes vivos de Hitler, que hoje residem nos EUA, e que se recusaram a fazer o teste. Já o crânio revelou uma descoberta surpreendente: o DNA extraído apresentou 108.41 cromossomos X e nenhum cromossomo Y sendo, portanto, o crânio de uma mulher. Bellantoni também concluiu que a espessura do crânio era muito fina para ser de um homem e suas fissuras não estavam totalmente fechadas indicando que deveriam pertencer a uma mulher entre 20 e 40 anos.
A conclusão de toda a investigação foi de que o crânio que está em Moscou não é de Adolf Hitler. Deixando de lado o crânio passemos a nos concentrar nas provas relevantes. Para Adolf Hitler cometer suicídio, naquele abril de 1945 segurando uma arma de fogo com a mão esquerda, seria bastante complicado: de acordo com as testemunhas Hitler sofria de mal de Parkinson [que abordei no inicio deste trabalho] e todo o lado esquerdo do seu corpo tremia de forma incontrolada. As evidencias encontradas no local do suicídio nos levam a “reconstituir” o ocorrido da seguinte maneira:
por volta das 15h30min Adolf Hitler e Eva Braun entraram na sala de estar do bunker. Eva Braun [que agora já era Eva Hitler] morde uma cápsula de cianeto, e de acordo com as propriedades químicas do veneno, tudo indica que a agonia e morte tenha sido muito rápido.
LEGENDA: 1 - Hitler, 2 - Eva Braun, 3 - Porta de entrada, 4 - porta de acesso ao banheiro
LEGENDA: 1 - Hitler, 2 - Eva Bran, 3 - Mancha de sangue, 4 - Mancha de sangue, 5 - Cadeira, 6 - Revolver de Hitler, 7 - Revolver de Eva Braun
Logo após ver a morte da mulher que acabara de desposar, Hitler [sentado do lado direito do sofá] morde uma cápsula de cianeto, abre a boca e dispara um tiro com uma Walther PPK 76.2, segura pela mão direita, contra o céu da boca. Muito se debate se Hitler disparou dentro da boca ou debaixo do queixo: de acordo com os legistas o tiro foi disparado de baixo para cima, provavelmente dentro da boca ou debaixo do queixo, porem a hipótese de ter disparado debaixo do queixo foi afastada depois que a autopsia confirmou que a língua estava apenas chamuscada e não apresentava nenhum indicio de perfuração. O projétil subiu atravessando o encéfalo e saindo pela região da temporã esquerda. A mão, que segurava a arma, caiu para frente sobre o joelho direito de Hitler com a palma da mão virada para cima; a arma que caiu da mão direita ficou alojada no lado direito do pé direito de Hitler; sua cabeça pendeu para frente levemente inclinada para a direita. O sangue que escorreu pela face, proveniente do ferimento de bala localizado na temporã esquerda, respingou no braço direito do sofá. Logo em seguida ambos os corpos foram removidos para o jardim e queimados.

A questão e que muitos, incluindo alguns historiadores com reputação questionável no meio academico, não acreditam que Hitler tenha cometido suicídio no dia 30 de abril de 1945, dando margem as teorias mais mirabolantes sobre o seu suposto paradeiro. Varias teorias semelhantes também surgiram quando Martin Bormann foi dado como desaparecido. Alguns historiadores até afirmaram que Bormann estava vivendo em algum país da América do sul. Deve ter sido um grande embaraço quando as escavações de uma obra de Berlim no ano de 1970 revelaram sua ossada no local exato onde testemunhas disseram tê-lo visto morto nas primeiras horas do dia 2 de maio de 1945. Quando um exame de DNA confirmou que a ossada era de fato de Bormann o embaraço deve ter sido ainda maior. O próprio diário de Martin Bormann [encontrado pelos soviéticos e que se comprovou sem sombra de duvidas ser autentico] contém informações importantes sobre o suicídio de Hitler. Em uma pequena passagem do diário esta registrado o seguinte:



O sinal do “Y” de cabeça para baixo geralmente é utilizado pelos alemães para assinalar morte. Nascimento é assinalado com um “Y” normal. Aos 56 anos de idade, Hitler [como já mencionei anteriormente] tinha uma saúde muito precária para empreender uma fuga em meio às ruínas de Berlim. A própria identidade de alguns corpos encontrados no bunker, e nas suas proximidades, reforçam o suicídio do “Fuhrer”. Martin Bormann, Joseph Goebbels sua esposa e seus seis filhos, o General Krebs e o general Burgdorf foram encontrados mortos no bunker. Alguns outros membros do circulo intimo de Hitler caíram prisioneiros dos soviéticos. É muito difícil imaginar que Hitler tenha fugido e que seus ajudantes mais importantes, bem como lideres do reich, tenham preferido ficar em Berlim e cometer suicídio ao invés de seguir o seu “Fuhrer”.
A morte do ministro da propaganda Joseph Goebbels, que foi encontrado morto no jardim da Chancelaria e que teve a foto de seu corpo amplamente divulgada, também esta rodeada de contradições: a autopsia do corpo não revelou sinais de ferimentos causados por bala, no entanto, Goebbels se matou com um tiro na temporã direita. Também foram encontradas as armas utilizadas por Goebbels em seu ato final. Não se sabe se não foi permitido [devido à combustão] encontrar vestígios de perfuração por arma de fogo no corpo de Joseph Goebbels ou se os soviéticos omitiram este detalhe do relatório final não se sabe por qual motivo. Outro fato controverso, e não esclarecido, é o local onde Magda Goebbels foi baleada por seu marido. Seria no peito, na cabeça ou na nuca? Os laudos da autopsia não revelam ferimentos de arma de fogo no corpo, que ficou bem mais desfigurado do que o corpo de Goebbels, e isto pode ter camuflado, de alguma forma, o ferimento de arma de fogo; assim como a autopsia de Adolf Hitler também não ter revelado nenhum ferimento mortal decorrente de arma de fogo. Isto ocorreu devido à destruição que o fogo provocou no corpo.
É notável a omissão da comissão no que concerne a autopsia de Josef Goebbels: todos os outros corpos tiveram seus cérebros abertos e analisados, porem, o laudo da autopsia de Goebbels não menciona a abertura do encéfalo. Se nos determos por um instante para analisar as condições em que o corpo de Goebbels foi encontrado surgem duvidas: junto ao cadáver de Goebbels e sua esposa foram encontrados duas armas Walther PPK. Este e sem duvida um forte indicio de que o casal se matou com arma de fogo, porem, a comissão não menciona a falta, ou não, de um, dois ou mais projeteis dentro das armas. Neste caso a abertura do encéfalo seria fundamental para ajudar a elucidar a causa da morte, afinal o projétil deveria estar alojado dentro do crânio, já que a cabeça de Goebbels estava intacta ao contrario da de Hitler que literalmente estourou.

As paginas dos laudos não são meramente documentos complexos e sem sentido lógico. Algumas das conclusões das autopsias servem para elucidar certos acontecimentos para que aos poucos se possa montar este complexo quebra-cabeças. Um dos guardas que montava guarda na saída do Bunker, e que testemunhou a queima dos corpos, declarou que:
- “As tíbias de Hitler eram perfeitamente visíveis”.
Se compararmos este depoimento com o documento nº12 da autopsia [corpo de Hitler] veremos que no Exame Externo, ou seja, das partes visíveis esta registrado: “A tíbia direita mede 39 cm”. Este é um indicio de que o corpo encontrado pelos soviéticos tinha as tíbias à mostra, conforme declarou o SS Mansfield. O perito soviético chefe da Operação Mito, Professor Semenovsky, levantou algumas falhas cometidas pela comissão que realizou as autopsias na clinica de Berlim-Buch:
- “Os médicos forenses deveriam ter analisado melhor as condições das artérias do coração, pois ajudaria a estipular a idade do cadáver (Documentos 12 e 13)”.
Durante a autopsia do cadáver de Hitler a comissão descreveu ter encontrado pequenas fraturas na região dos ossos nasais e do maxilar, porem, como disse o professor Semenovsky, cometeram o erro de não descreverem detalhes dessas fraturas sendo, portanto, impossível determinar sua origem. Mas que importância teria estas fraturas no maxilar para solucionar a morte de Hitler? Simples: Ajudaria a elucidar as duvidas referentes ao local onde Hitler disparou a arma [Debaixo do queixo, dentro da boca ou na temporã direita]. De acordo com a balística forense se Hitler tivesse disparado a arma dentro da boca a pressão da deflagração da arma poderia causar danos aos ossos dessa região.Estes indícios servem apenas para reforçar o fato de que o corpo de Hitler tenha sido encontrado, não sendo portanto possível, baseando-se apenas neles, se afirmar nada mais que meras conjecturas. Porem existe um indicio que é inquestionável e que esclarece de forma categórica a morte de Hitler: os dentes.
O fato de nunca terem divulgado uma foto "nítida" dos restos de Hitler também deu margem para suspeitas. Porem o governo russo divulgou a arcada dentaria de Hitler, a prova incontestável de sua morte. Comparando as fotos da arcada com sua próteses, com o raio-x da cavidade oral do ditador, encontrados pelos sovieticos, pode se ter certeza de que a arcada de fato pertencia a Hitler. Há alguns anos o governo americano também divulgou fotos de chapas de Raio-X dos dentes Hitler que foram encontrados por soldados americanos e que foram tiradas pelo ditador no dia 19 de setembro de 1944, em decorrência do atentado a bomba que sofreu naquele dia. Médicos americanos utilizando computadores com alta resolução compararam o Raio-X com as fotos da arca e também confirmaram ser de Hitler. A autenticidade das chapas de raio-x e inquestionável.
CHAPAS DE RAIO-X DE HITLER TIRADAS EM 19 DE SETEMBRO DE 1944 (CLIQUE NAS IMAGENS PARA VISUALIZAR EM TAMANHO REAL)
Para sustentar a afirmação de que o corpo encontrado pelos soviéticos era de fato o de Adolf Hitler adotarei um tipo de argumentação dedutiva, muito mais concisa que o método indutivo – cujo resultado se baseia na simples probabilidade. Utilizando um simples silogismo matemático, no qual um argumento se torna valido quando sua conclusão é consequência lógica de suas proposições iniciais, é possível montar o seguinte esquema:



Primeiro comparei as fotos dos dentes que estão nos arquivos soviéticos com as chapas de Raio-X de Hitler. Os dentes que aparecem no raio-x são idênticos [tamanho, formato e localização] aos que estão nos arquivos russos.











RAIO-X DA CAVIDADE ORAL DE ADOLF HITLER MOSTRANDO OS DENTES DA MANDIBULA
Depois comparei as fotos dos dentes com as fotos de Hitler sorrindo e também obtive a identificação positiva. Assim fecho todos os lados deste triangulo: os dentes que estão nos arquivos russos são idênticos aos dentes que vemos nas fotos de Hitler; estes mesmos dentes são idênticos aos encontrados nas três chapas de Raio-X, logo o Raio-X é de fato da cavidade oral de Adolf Hitler.












Se os soviéticos não encontraram os restos mortais de Hitler como pode ter guardados os seus dentes? Alguns dizem que os soviéticos encontraram apenas os dentes de Hitler, porem está comprovado ser impossível destruir totalmente um corpo humano por meio do fogo em uma vala comum a céu aberto a ponto restarem apenas os dentes.
No inicio da década de 1930 a Alemanha possuía a ultima palavra na tecnologia de cremação humana. O modelo de forno crematório patenteado em 1928 e desenvolvido pelo engenheiro Kurt Prufer, um funcionário da conhecida fabricante de fornalhas Topf e Filhos, se baseava num modelo de apenas um núcleo com reciclagem dos gases de combustão. Em maio de 1937 a SS solicitou um projeto econômico de cremação para ser instalado no campo de Dachau. Dois anos depois um novo modelo foi instalado em Buchenwald; Auschwitz recebeu dois fornos no inicio de 1940 sendo cada um deles funcionava com tecnologia de ar frio comprimido, alimentado a carvão e equipado com um ventilador elétrico que eliminava 4 mil metros cúbicos de fumaça por hora. Sua capacidade teórica era de 36 corpos a cada 10 horas. Os documentos da SS sobre o consumo de carvão no campo de Auschwitz registravam que cada corpo consumia aproximadamente 22Kg de carvão por hora. Com base nos conceitos da termoquímica é possível determinar a quantidade de gasolina (Octano) necessária para se reduzir dois corpos a uma pilha de ossos:
Carvão:
Entalpia de combustão do carvão: - 393,5 KJ* (Entalpia é um termo utilizado na Fisico-Química para se referir a energia desprendida numa reação, no caso uma reação de combustão) *KJ = Kilo Joules
22Kg (Carvão) = 22000g (Carvão)
12g _________ 393,5 KJ
22000g______ X
X = 721 417 KJ, aproximadamente 7,2 x 10^5 KJ
Cada corpo consumia 7,2 x 10^5 KJ/h na cremação, lembrando que a cremação ocorria em um forno feito com material refratário e projetado para minimizar a perda de calor para o meio. A maior parte dos corpos queimados nos campos de extermínio apresentava desnutrição extrema sendo, portanto, menor a relação KJ/massa. Isso significa que a quantidade de carvão utilizado em cada corpo era menor do que a necessária para se cremar uma pessoa com aproximadamente 60 Kg (como era o caso de Hitler e Eva Braun). Utilizando os dados obtidos com relação ao carvão é possível realizar os cálculos Físico-Químicos em relação a gasolina (Octano):
Octano (Formula química C8H18)
Entalpia de combustão: 5430 KJ/mol.
Massa Molar Octano: 114g/mol*
*O mol é uma grandeza utilizada na química para se referir a quantidade de matéria.
114g (1 mol)______5430 KL
X ______________7,2x10^5KJ (quantidade de energia para se cremar um único corpo)
X = 0,0015101 x 104g aproximadamente 15000g de Octano
Densidade do octano: 0,70g/cm3 = 0,70g/ml
0,70g ______1 ml
15000g_____X
X = 21428,57 ml = 21,42857 Litros.
Para gerar os 7,2 x 105KJ de energia (Quantidade minima para cremar um único corpo) seriam necessários aproximadamente 21 Litros de gasolina. Considerando-se que foram queimados dois corpos (Hitler e Eva Braun) seriam necessários exatamente o dobro da quantidade de combustível (Considerando-se hipoteticamente que ambos possuíam a mesma massa corporal):
21 x 2 = 42 Litros de gasolina
Segundo os cálculos 42 litros de gasolina seriam suficientes para reduzir os dois corpos a uma pilha de cinzas e ossos, mas isso só ocorreria em um ambiente preparado (como um forno crematório). Ao ar livre boa parte do calor depreendido na queima seria dissipada no ambiente na forma de luz e calor. O chão arenoso do terreno da chancelaria absorveria grande parte do combustível e a pouca quantidade de oxigênio no fundo da cratera (lembrando que o processo de combustão depende não só do combustível, mas também do oxigênio, é por isso que fornos crematórios são alimentados como oxigênio comprimido para maximizar a reação de combustão) reduziria o rendimento em aproximadamente 80%. Somente 20% da energia da queima seria efetivamente absorvida pelos corpos.
42 L _______20%
X _________100%
X = 210 Litros
A matemática nos permite concluir que seriam necessários no mínimo 210 litros de gasolina para se cremar completamente os dois corpos.
Como não é possível definir se os restos que estão na caixa são de Hitler, preferi me concentrar nos dentes. No livro “A Última Batalha” do autor Cornelius Ryan esta registrado a seguinte passagem:
HELMUNT KUNZ
“Frau Goebbels que estava com um dente inflamado, foi mandada para o Dr. Helmunt Kunz, um dentista que trabalhava no grande hospital do bunker, debaixo da chancelaria. Ele extraiu o molar, e logo depois ele disse que as crianças não deviam cair em mãos soviéticas. Eva Braun, ao ouvir sobre o trabalho que Kunz fizera no dente de Magda, sugeriu que ele também poderia ajuda-la com certo problema dentário.”
Nas paginas laudadas do documento numero 13, referente à autopsia de Eva Braun, está registrado que eram visíveis alterações devido a caries dentarias. Seria este o motivo que levou Eva Braun a pensar em se consultar com o Dr. Kunz? Em outra passagem do livro de Cornelius Ryan esta registrado:

“Em novembro de 1944 a assistente Kathe Heuserman e o dentista Blaschke haviam sido chamados com urgência para o quartel-general do Fuhrer em Ratenburg, na prússia oriental. Lá eles encontraram Hitler sofrendo de uma dor aguda. ‘Seu rosto, particularmente a bochecha direita, estava terrivelmente inchado’, Ela registrou mais tarde. ‘Seus dentes estavam em péssimas condições. Ele tinha ao todo três pontes. Apenas oito dentes superiores eram seus, e mesmo estes estavam amparados por coroas de ouro. Uma ponte completava a arcada superior e era mantida segura no lugar pelo apoio dos dentes existentes. Um deles, o siso do lado direito, estava terrivelmente infeccionado’. Blaschke deu uma olhada e avisou a Hitler que o dente teria de ser removido (...). Explicou que ao todo, dois dentes seriam removidos – Um dente falso ao final da ponte, também havia sido infectado pelo siso. Isso significava romper a ponte uma posição antes do dente falso estragado, retirando a porcelana e a coroa de ouro, um procedimento que demandava quantidade considerável de perfuração e serração. (...) Blaschke deu uma injeção no maxilar superior de Hitler e começou a operação – com ajuda de frau Heuserman – Rapidamente a broca do dentista perfurou a ponte. Então ele mudou de ferramenta e começou a serrar. Finalmente Blaschke extraiu o dente infeccionado.”

Mas afinal o que esta passagem quer dizer? Se compararmos este relato com o laudo da autopsia veremos que os dentes que estavam no corpo encontrados pelos soviéticos pertencem a Hitler. Inclusive o Dr. Blaschke, em seu depoimento aos soviéticos, descreveu este trabalho de remoção e até uma falha no dente provocada pela broca de serragem. O medico forense Dr. Marck Beneck recebeu permissão para analisar o “suposto crânio” e os dentes do “Fuhrer” que estão nos arquivos soviéticos. Depois de analisar os “restos de Hitler” Beneck chegou a seguinte conclusão:

Você pode questionar a autenticidade do crânio. Porem os dentes são indubitavelmente de Hitler. Depois de analisar fotos do Fuhrer sorrindo e comparando com o raio-x da sua arcada dentaria e com os dentes que estão nos arquivos de Moscou, pode se afirmar com uma probabilidade maior que 99,9% de certeza que os dentes são do ditador alemão Adolf Hitler.”

Outro ponto contraditório é o resultado do teste químico dos órgãos internos feitos pelo laboratório medico-epidemiológico a pedido da comissão de autopsia. De acordo com o resultado os testes químicos dos órgãos internos e do sangue dos documentos 1,2,3,4,5,6,7,8,9,10 e 11 referentes a família Goebbels, aos cães de Hitler e o general Krebs, deram positivo para compostos de cianureto. Já os documentos de numero 12 e 13 referentes à Hitler e Eva Braun, deram negativo para compostos de cianureto. Quer dizer que Hitler e Eva Braun não ingeriram cianureto? Não.
O cianureto é extremamente volátil e instável sendo, portanto, rapidamente destruido no corpo humano a ponto de não ser possível sua detecção. Nos corpos de Goebbels e sua esposa, que ficaram bastante carbonizados, foi possível determinar a presença de compostos de cianureto; os corpos de Hitler e Eva Braun, que foram bem mais danificados por varias queimas consecutivas, e que ficaram enterrados do dia 30 de abril até o dia 5 de maio, quando foram enfim encontrados, não foi possível encontrar traços de cianureto nos órgãos destes dois corpos dadas as circunstancias. Ao contrario de Goebbels e sua esposa que se mataram no dia 1 de maio e tiveram seus corpos encontrados no dia seguinte. Surgiram boatos de que os soviéticos teriam omitido o buraco de bala na temporã esquerda de Hitler apenas para denegrir as circunstancias da sua morte. Se esta informação tivesse algum fundamento qual seria então o sentido da Operação Mito, responsável pela descoberta, no jardim da chancelaria, do crânio que acreditaram ser de Hitler?
Jornalistas ocidentais espalharam esta noticia pelo fato do historiador soviético Lev Bezymenski ter divulgado em 1968 no livro intitulado “Der Tod dês Adolf Hitler” (A morte de Adolf Hitler – lançado no Brasil apenas a versão de 1968) os laudos das autopsias dos últimos integrantes do Terceiro Reich e ter dito que os agentes da KGB ditaram o conteúdo dos laudos, não permitindo que ele visualizasse as paginas dos documentos originais. Em 1982 Bezymenski lançou uma nova edição, deste mesmo livro, sendo que desta vez pode visualizar tranquilamente os documentos e constatou que nenhuma informação havia sido omitida. Hoje estes documentos estão disponíveis para pesquisa e já foram esmiuçados por centenas de historiadores que comprovaram a autenticidade dos laudos publicados por Bezymenski.
Tão concretos eram os fatos sobre a morte do ex-Fuhrer e de sua mulher [local, data e modo], que no dia 25 de Fevereiro de 1956, depois de uma investigação de aproximadamente três anos, um dossiê de 1500 paginas e de relatos de testemunhas, a Corte Federal da Alemanha Ocidental em Berchtegarden finalmente pediu uma certidão oficial de óbito concluindo: “Não há mais duvidas de que no dia 30 de Abril de 1945 Adolf Hitler pôs fim a sua vida na chancelaria, por suas próprias mãos, com um tiro na temporã esquerda.” Em 1956 Hitler entrou para o registro de mortos do Cartório de registros de Berlim Ocidental.
AUTOR: TIAGO RODRIGUES CARVALHO


APENDICE I

LISTA DOS INTEGRANTES DO BUNKER

Rottenführer Harry Mengershausen
Sturmbannführer Erich Mansfeld
Hauptsturmführer Dr Helmut Kunz
Gruppenführer Hans Baur
Hauptsturmführer Helmut Beermann
Wolfgang Beigs
Major Nicholaus von Below
Oberscharführer Johann Bergmüller - Russian POW
Obersturmbannführer Georg Betz
Brigadeführer Johann Hugo Blaschke Hitler's Dentist
Rittmeister Gerhardt Boldt - von Löringhoven's aide
Gruppenführer Albert Bormann - Brother of Martin Bormann
Reichsleiter Martin Bormann
Jürgen Bosser (pilot of Arado Ar 96?)
Eva Braun
General Wilhelm Burgdorf
Gerda Christian
Generalmajor Eckard Christian
Hauptsturmführer Adolf Dirr
Fritz Echtmann
Wilhelm Exhold
Gruppenführer Hermann Fegelein
Erna Flegel
Obersturmbannführer Ludwig Förster
Walter Frentz
Major Bernd von Freytag-Löringhoven
Obersturmführer Helmuth Frick
Karl Gebhardt
Obersturmführer Bruno Gesche
Hermann Giesler
Professor Dr. Ernst-Robert Grawitz
Luftwaffe Generalfeldmarschall Robert Ritter von Greim
Standartenführer Otto Günsche
Dr Kurt Haagen - Stenographer
Oberscharführer Peter Hartmann
Obersturmbannführer Dr Werner Haase
Hauptsturmführer Dr Hans-Karl von Hasselbach
Käthe Hausermann
Josef Hausner
Johannes Hentschel
Herrgesell - Stenographer
Brigadeführer Ambassador Walther Hewell
Unterscharführer Hans Hofbeck
Standartenführer Peter Högel
Major Willi Johannmeier
Gertrud Junge
Untersturmführer Hans Junge - Committed Suicide
Arthur Kannenberg
Obersturmführer Hermann Karnau
Sturmbannführer Erich Kempka
Obersturmbannführer Josef Kiermaier
Oberführer Arthur Klingemeier -
Unterscharführer Maximilian Kölz
Generaloberst der Infanterie Hans Krebs
Else Krüger
Untersturmführer Heinz Krüger
Hauptsturmführer Dr Helmut Kunz
Wilhelm Lange
Armin Lehmann
Hauptsturmführer Ewald Lindloff
Sturmbannführer Heinz Linge
Heinz Lorenz
Sturmbannführer Erich Mansfeld
Constanze Manzialy
Heinz Matthiesing - von Below's aide
Rottenführer Harry Mengershausen
Oberscharführer Rochus Misch
Gruppenführer Heinrich Muller
Otto Willi Müller
SA-Brigadeführer Werner Naumann
Rottenführer Josef Ochs
Hauptscharführer Hilko Poppen
Hauptsturmführer Alfred Rach
Oberführer Johann Rattenhuber
Obersturmführer Hans Reisser
Hanna Reitsch
Obersturmbannführer Franz Schädle
Obergruppenführer Julius Gregor Schaub
Obersturmbannführer Ernst-Günther Schenck
Hauptsturmführer Karl-Wilhelm Schneider
Christa Schröder
Major Joachim Schultz
Hauptsturmführer Günther August Wilhelm Schwägermann
Obersturmbannführer Dr Ludwig Stumpfegger
Obersturmführer Joachim Tibertius
Feldwebel Fritz Tornow
Baroness von Varo
Oberleutnant Hans Volk
Vizeadmiral Hans-Erich Voss
Walter Wagner
General Helmuth Weidling
Obersturmbannführer Hans Weiss
Oberstleutnant Rudolf Weiss - Burgdorf's aide
Gustav Weler - Hitler's Doppelgänger - Executed by the SS
Gerhard Welzin
Johanna Wolf
Fritz Wollenhaupt
Standartenführer Wilhelm Zander


Beevor, Antony – Berlim 1945 a queda
Beevor Antony – O mistério de Olga Tchekova
Ryan, Cornelyus – A ultima batalha
Volkogonov, Dmitri – Stalin Triunfo e tragédia (Dois volumes)
Goldenshon, Leon – As entrevistas de Nuremberg
Fest, Joachim – Hitler (Volumes 1 e 2)
Fest, Joachim – No bunker de Hitler
Glantz, David. M – Confronto de Titãs, como o exercito vermelho derrotou Hitler
Gortemaker, Heike B – Eva Braun a vida com Hitler
Junge, Traudl – Ate o fim, os últimos dias de Hitler contados por sua secretaria
Joachimsthaler, Anton - The last days of Hitler
Marabine, Jean – Berlim no tempo de Hitler
Laurence, Rees – O carisma de Adolf Hitler
Lambert, Angela – A historia perdida de Eva Braun
Ryback, Timothy W. – A biblioteca esquecida de Hitler
Rzhevskaya, Elena – O fim de Hitler
Bezymenski, Lev – A morte de Adolf Hitler – versão de 1968
Bezymenski, Lev – A morte de Adolf Hitler – versão de 1982
Bezymenski Lev – Operação Mito, quantas vezes Hitler foi enterrado?
Sayer, Ian – Hitler e as mulheres – a vida amorosa de Adolf Hitler
Schroeder, Christa – Doze anos com Hitler
Corwell, John – Os cientistas de Hitler
Ziemke, Earl F – A batalha de Berlim o fim do 3º reich
Wikes, Allan – Hitler
Hoper-Trevor – Os últimos dias de Hitler
Shire, L Willian – Ascensão e Queda do Terceiro Reich
Eberle, Henrik, Uhl, Matthias – O dossiê Hitler o fuhrer pelas investigações secretas de Stalin
O’Donnell, James – O bunker
Toland, John – Os últimos 100 dias
Toland, John – Hitler
Misch, Rochus – Eu fui o guarda costas de Hitler
Montefiore, Simon Sebag – Stalin a Corte do Czar Vermelho
Irving, David – Der Unberkannte Dr. Goebbels
Irving, David – Hitler´s War
Irving David – Hitler´s Table Talk 1941-1944
Irving David – The Secret Diaries of Hitler´s Doctor
David R. Senn,Richard A. Weems - Manual of Forensic Odontology, Fifth Edition
- Rendição de Berlim (Berlin Surrender) – Coleção Segunda Guerra Mundial – Volume XVIII
- The World At War – A New Germany
- The World At War – Inside The Reich Germany 1940-1944
- The World At War – Nemesys
- Herois da II Guerra Mundial – BBC (Weapons of World War II)
- Arquitetura da Destruição
- Soldados de Hitler – Historias da segunda Guerra mundial na voz de ex-combatentes nazistas (Volume 2 – episodio: Berlim)
- A Historia da Segunda Guerra Mundial
- Hitler (The Life of Adolf Hitler)
- Minha luta (Mein Kampf)
- Os Abrigos Secretos de Hitler (Revealed Hitler secret Bunkers)- National Geografic https://www.youtube.com/watch?v=EbjrwGIkaBA
- Reescrevendo a Historia: O Bunker Secreto de Hitler – Discovery Civilization https://www.youtube.com/watch?v=tiIdFGJRDKo
- Os segredos do Terceiro Reich: A família de Hitler https://www.youtube.com/watch?v=h10JIqT3PHI
- Os segredos do Terceiro Reich: As mulheres de Hitler https://www.youtube.com/watch?v=KFOWhJf9GUg
- Os segredos do Terceiro Reich: A doença de Hitler https://www.youtube.com/watch?v=Jx5nkRQatlg
- Hitler's Death The Final Report - Operation Myth – BBC https://www.youtube.com/watch?v=dj9ENqq-lIg
- Death in the Bunker True Story of Hitler's Downfall https://www.youtube.com/watch?v=SN1lBXjE_AU
- Adolf Hitler's Last Days https://www.youtube.com/watch?v=AL5zHrKM4mo
- Eva Braun The Life & Death! https://www.youtube.com/watch?v=i6IbrgM08Y4
- Os conquistadores: Zukov – History Channel
- Hitler's Bodyguard: The Poison Gas Plot In The Bunker https://www.youtube.com/watch?v=uJwIoDrajek
- Mysteryquest: A fuga de Hitler – History Channel https://www.youtube.com/watch?v=2vchd8tBfCQ
- Hitler´s End – History Channel https://www.youtube.com/watch?v=pNTxukeCtQk
- Adolf Hitler'in Ölümü National Geographic https://www.youtube.com/watch?v=1NGARoTOIzw
- Editora Codex – “Coleção II Guerra Mundial”
- Reidar F. Sognnaes e Ferdinand Strom – “The odontological identification of Adolf Hitler”
- Reidar F. Sognnaes - “Dental Evidencein the Postmortem: identification of Adolf Hitler, Eva Braun and Martin Bormann”